segunda-feira, 25 de novembro de 2013


 
 

TITEBILIDADE
 

Ele é o queridinho da imprensa, respeitado pelos jogadores do time, elogiado pela diretoria do clube e uma unanimidade entre os torcedores do Corinthians.
Faixas são desenroladas nas arquibancadas incensando o seu nome.
Na sua trajetória dos últimos dois anos, ele conquistou para o clube tudo aquilo que qualquer treinador e qualquer clube almeja – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Copa Libertadores, Recopa Sul-Americana e Mundial da Fifa – e chegou a ser cogitado para assumir a seleção brasileira antes da escolha de Scolari.
Seu nome é Adenor Leonardo Bacchi, mas todos o conhecem pelo apelido de Tite.
Ex-jogador de recursos mais ou menos limitados (era médio-volante) chegou a ser vice-campeão brasileiro pelo Guarani, mas acabou se consagrando mesmo como técnico, a exemplo do que aconteceu com Luxemburgo e Felipão.
Como a maioria dos técnicos da escola gaúcha, Tite prima pela disciplina e apesar de gostar do diálogo, não admite uma última palavra que não seja a sua.
Craques têm que confirmar a titularidade jogando bola, pois ele não trabalha simplesmente com nomes, e não admite jogadores que reclamam da reserva.
Só que mesmo com este elogioso resumo, ao terminar o ano futebolístico Tite vai pegar o seu boné e procurar emprego.
É bem verdade que em 2013 ele não repetiu a façanha nem o time conseguiu mostrar em campo aquele futebol pragmático, sem ser vistoso, dos anos anteriores. Por isso, o clube ficou numa posição intermediária, pois além de continuar não sendo vistoso, perdeu a “intensidade” (uma das suas palavras prediletas).
Tite é muito bem articulado e possui uma característica linguística especial. Inventou o “titês”, nos mesmos moldes que nos anos 1980 Sebastião Lazaroni havia inventado o “lazaronês”, um português empolado e repleto de neologismos para explicar seus conceitos.
Para os jogadores do Corinthians isto parece ter funcionado, pois mesmo aqueles com capacidade de raciocínio limitada no que diz respeito ao vernáculo parecem assimilar as suas ordens mais do que muitos repórteres presentes às suas entrevistas coletivas.
Pessoalmente, eu acho Tite um bom treinador na pele de um ator bastante histriônico, pois consegue passar a imagem de bonzinho para ficar de bem com a arbitragem e com a imprensa, muito embora aja com a mesma falta de esportividade com que age a maioria dos seus companheiros de profissão.
Mas seu desempenho, como um todo, fez com que ele amealhasse mais amigos do que inimigos ao longo de uma carreira de treinador que já dura 22 anos, e aí é que reside a tônica do artigo de hoje.
O que teria levado um profissional com este currículo e com este perfil a ser sumariamente comunicado que sua temporada no clube havia chegado ao fim?
As hipóteses são várias, todas contendo alguma dose de lógica: Tite teria uma oferta financeira irrecusável para dirigir um time na China; teria se desentendido com o presidente Mario Gobbi ao reclamar que o elenco estava envelhecido e que precisava ser renovado; o sonho da diretoria do clube (e do próprio presidente) é ter a volta de Mano Menezes, que dirigiu o clube com relativo sucesso antes de ser chamado para a seleção brasileira, liberado pelo então presidente Andrés Sanchez; a diretoria ainda não digeriu ver o caríssimo Alexandre Pato sendo desvalorizado no banco de reservas; ou, ainda, Tite espera ocupar a vaga de Felipão que teria sinalizado não ter a intenção de continuar na seleção após a Copa do Mundo (repetindo o que fez em 2002) e pretende descansar e se reciclar até o segundo semestre do ano que vem.
Façam suas apostas.