sábado, 9 de abril de 2022

 


SONHEI COM FLORES 

1979

(Samba de Augusto Pellegrini e Odair Ferreira ‘Fala Macio’)

 

Sonhei com flores

É sinal de alegria ou de tristeza?

Sonhei com flores

Era um paraíso, que beleza

Sonhei com flores

Enfeitando o meu jardim

Vi a criança trazendo flores para mim

Uma rosa nascendo

Num crescendo sem fim

Um arco-íris de lilases

Cravos e jasmins

 

Meu Deus

Não sei por que acordei

E as pétalas de cores

Pelo chão eu derramei

Ao ver mimosa flor perdida em pranto

Pela vida em desencanto

À realidade eu voltei

Ao ver mimosa flor perdida em pranto

Pela vida em desencanto

À realidade eu voltei

 

 

sexta-feira, 8 de abril de 2022

 


COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
 

(Parte 6) 

A partir de João Gilberto apareceram outros nomes de cantores e compositores, as gravações do novo estilo passaram a ser lançadas comercialmente e a nova tendência do mar-amor-luar começou a tomar conta do Rio e se espalhar pelo eixo musical Rio-São Paulo – embora João, baiano e antigo crooner de conjunto vocal executasse boa parte do seu trabalho explorando compositores e sambistas antigos e dando a eles uma roupagem toda particular.

Já no seu primeiro LP – “Chega De Saudade”, lançado em 1959 – João mesclou modernas composições de Jobim, Vinícius, Lyra e Bôscoli com velhas músicas de Caymmi, Marino Pinto, Zé da Zilda e Ary Barroso.     

Da safra nova de compositores que começou a conquistar o mercado, a dupla Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli era uma das mais profícuas, com músicas de intensa poesia, como “Rio” (“Rio, que mora no mar / Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar / Lindas flores que nascem morenas / Em jardins de sol / Rio, serras de veludo / Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo / Que é dourado quase todo dia / E alegre como a luz”), “O Barquinho” (“Dia de luz, festa de sol / E um barquinho a deslizar / No macio azul do mar / Tudo é verão e o amor se faz / Num barquinho pelo mar / Que desliza sem parar / Sem intenção, nossa canção / Vai saindo desse mar / E o sol beija o barco e luz / Dias tão azuis”) e “Você” (“Você, manhã de tudo meu / Você, que cedo entardeceu / Você, de quem a vida eu sou / E sei mas eu serei / Você, um beijo bom de sol / Você, em cada tarde vã / Virá sorrindo de manhã ...”).

Alguns bossanovistas bissextos como os irmãos Marcos e Paulo Sergio Valle também compuseram músicas cheias de poesia que a moçada cantava na praia e nos apartamentos de Ipanema, como “Samba De Verão” (“Você viu só que amor? / Nunca vi coisa assim / E passou, nem parou / Mas olhou só pra mim / Se voltar vou atrás / Vou seguir, vou falar / Vou dizer que o amor / Foi feitinho pra dar / Olha, é como o verão / Quente o coração / Salta de repente / Para ver a menina que vem...”), e Sergio Ricardo, que mais tarde também engrossaria a turma do protesto, trazendo um viés noturno e soturno para a bossa nova, mesmo falando de mar e amar, como em “Poema Azul” (“O mar beijando a areia / O céu, a lua cheia / Que cai no mar / Que abraça a areia / Que mostra ao céu e à lua cheia / Que prateia os cabelos do meu bem...”).

O ápice do romantismo bossanovista veio com “Garota De Ipanema”, de Antônio Carlos Jobim, então já um músico consolidado, e Vinicius de Moraes, um diplomata em desencanto (“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça / É ela, menina, que vem e que passa / Num doce balanço, a caminho do mar / Moça do corpo dourado do sol de Ipanema / O seu balançado parece um poema /  É a coisa mais linda que eu já vi passar”) e com “Corcovado”, de Tom Jobim (“Um cantinho, um violão, esse amor, uma canção pra fazer feliz a quem se ama...), que impropriamente deu início ao jargão “um banquinho e um violão”, que fazia alusão às reuniões aos encontros dos músicos do novo sistema nos apartamentos da Zona Sul. 

 

 


VOLTEI

(Augusto Pellegrini) 

Voltei pra casa, depois de um longo tempo ausente
E em meu breve retorno eu encontrei tudo mudado
O lindo sobrado em que eu vivi com meus parentes
A mãe, o pai, o irmão, o avô e os agregados
Agora deu lugar a um prédio alto e inconsequente
Que para mim não tem o menor significado 

A casa ao lado, que abrigava uma frondosa hera
Foi transformada em uma prosaica lanchonete
E no lugar da cores de tantas primaveras
Há no local um grande painel de sorvete
Gelando a poesia ao cheiro forte de aloe vera
Selando a hipocrisia com pipoca doce e quente

O grande olmo que adornava a imensa sebe
Foi posto abaixo e deu lugar a um sinaleiro
E a escola que abrigava crianças alegres
Emudeceu, e agora é um mísero pardieiro
De trastes velhos e coisas que não mais servem
Mas que se pretende valha algum dinheiro
 

Voltei pra antiga casa, e não sei porque fiz isso
Sabendo que o tempo tudo muda e decompõe
Vou retornar pro meu passado de aura e viço
Em pensamento e sem outro compromisso
Vou conservar em minha memória o tempo bom
Da vida que era bela, calma e sem maiores riscos 

Voltei, sim, mas eu me vou sem o menor remorso
Sem falsas emoções e nem forçando um falso pranto
Queria ter voltado ao tempo ameno e outrora dócil
Onde a poesia amiga residia em cada canto
E a gente era feliz, sem fazer qualquer esforço
Sem falsas emoções, sem dor, sem desencantos 

Março de 2022

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU)

Commonly mispronounced words in the English language 

(ver tradução após o texto) 

AÇAÍ  

 

How it is mistakenly pronounced: “Uh-kai” or “Ah-kai

 

How it is actually pronounced: “Ahh-sai-ee”

 

Açaí berries are a type of South American fruit.

Even native English speakers mispronounced this word for a while when “açaí bowls” first became popular in the U.S. 

“Let’s all go out for açaí bowls, I’m starving!”  

 

           

            TRADUÇÃO

 

Palavras muito comuns de serem pronunciadas erradamente na língua inglesa

 

AÇAÍ

Pronúncia incorreta na língua inglesa: “Uh-kai” ou “Ah-kai 

Pronúncia correta na língua inglesa: Ah-ça-í”

Açaí é um tipo de fruta original da América do Sul.

Mesmo os nativos da língua inglesa pronunciam esta palavra ainda de forma errada, desde o momento em que as tigelas de açaí se tornaram populares no país.  

“Vamos comer uma tigela de açaí, estou faminto!”

 

 

 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

 


SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 18/01/2019
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mz
São Luís-MA

VIVA BOSSA NOVA! - LAURINDO ALMEIDA & OS BOSSA NOVA ALL STARS

Apesar de não ser muito conhecido ou citado no Brasil, o violonista e compositor Laurindo Almeida teve um grande reconhecimento nos Estados Unidos, onde chegou para ficar em 1950, aos 33 anos. Sua participação anterior na música brasileira também foi muito bem sucedida, e teve a parceria de nomes como Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Pixinguinha. Nos Estados Unidos, Laurindo começou na orquestra de Stan Kenton e depois trabalhou com Bud Shank e teve uma passagem de dois anos tocando com o Modern Jazz Quartet. Nos Estados Unidos, entre outras coisas, compôs e fez arranjos para 800 produções de Hollywood, tocou alaúde no filme "Os Dez Mandamentos"em 1956, tocou bandolim em "O Poderoso Chefão" em 1972, e fez arranjos para dois seriados de televisão – "Bonanza" e "Além da Imaginação". No álbum apresentado neste programa, gravado em 1962, ele se apresenta com alguns músicos da primeira linha do jazz fazendo uma versão bossanovista de alguns sucessos americanos, entre eles "Lazy River", "Moon River", "Maria", "Mr. Lucky" e "Petite Fleur", e incluindo na lista músicas da autêntica bossa nova, como "Desafinado" e "Samba de uma Nota só".

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                   

 

 

domingo, 3 de abril de 2022

 


PAPELZINHO 

1979 

(Nelson Gengo – Augusto Pellegrini)

 

Canso ao sol, descanso à lua

Chamo a mim toda a atenção

Quanto tempo de esperança

Pra ver que eu tenho razão

 

Papelzinho ao vento voa

Também voam o riso e o olhar

Estendendo as mãos pras águas

Apanho um resto de mar

Papelzinho ao vento voa

Também voam o riso e o olhar

Estendendo as mãos pras águas

Apanho um resto de mar

 

A noite é tão carinhosa

A calma sempre ela nos traz

Esquecendo o triste dia

Dá vontade de cantar

 

Se reclamo é que me abalo, não me calo

Tenho que dizer o que sinto

Estendendo as mãos pra lua

Apanho as sobras do vento 

Papelzinho ao vento voa

Também voam o riso e o olhar

Estendendo as mãos pras águas

Apanho um resto de mar

 

 

 


                                                             ENTRE O JAZZ E O CHORO

                                                                (Augusto Pellegrini) 

Parte 2 

(Trecho do meu livro “AS CORES DO SWING”, estabelecendo uma relação entre o choro e o jazz. O livro está pronto, e está sendo lançado no site Facetubes)

 

A participação do negro na música popular brasileira foi antiga e decisiva.

A exemplo dos hollers da América, no Brasil se exercitavam os pregões (outra herança de Portugal), e em contraposição aos spirituals e gospels o Brasil respondeu com rituais de cunho religioso, de onde surgiram congadas, maracatus e afoxés – que surpreendentemente deram origem a uma cultura pagã ao desembocarem nas escolas de samba a partir de 1928.

Muitas pessoas do povo, boa parte deles negros, se encontravam nas esquinas e nos quintais para fazer música popular já durante os séculos dezoito e dezenove, antes mesmo que os seus pares americanos se juntassem para organizar as suas spasm bands. Estes músicos deram início à organização dos sons e dos ritmos populares, e sem dúvida anteciparam o que viria a ser, no futuro, a música popular brasileira.

Estas bandas incipientes eram compostas por músicos amadores que utilizavam uma grande variedade de instrumentos não oficiais, muitos deles totalmente fora de propósito – bambus, folhas de metal retorcidas, troncos de árvores ocos, ossos, chifres, artefatos de cerâmica, pentes, apitos e flautas rudimentares – que pouco a pouco foram sendo substituídos por instrumentos de verdade, para chegarem às portas do século vinte relativamente organizadas em forma de bandas.

Apesar da participação do negro tanto lá como cá, a distância que separava a música americana da música brasileira no início do século vinte não era só física, mas também estrutural.

A música americana tomou o caminho do jazz através de uma série de circunstâncias e de fatores sociais, históricos e religiosos, como as work songs (canto que cadenciava o trabalho dos escravos), o lamento profano do blues, a louvação religiosa dos spirituals, as marchas militares, o fim da guerra civil e da escravidão e – finalmente – o ragtime e toda a influência cosmopolita de Nova Orleans. Ela também foi influenciada sobremaneira pela a expressão vocal africana e sua escala musical intuitiva.

Como no Brasil não houve esta mesma diversidade de fatores, a influência maciça acabou sendo aquela nascida dos hábitos cultivados em Lisboa e no Rio de Janeiro e da música introduzida pelos portugueses, como a modinha e a polca. É claro que também houve a influência da expressão musical africana, mas ela se fez principalmente na forma de ritmo e pulsação.

Foi dos portugueses que recebemos todo um embasamento harmônico e tonal, além dos instrumentos europeus populares mais característicos, como o piano, o bandolim (que se derivou para o cavaquinho), o violão, e em menor escala o contrabaixo, o clarinete e o violino.

Dos portugueses também adquirimos a noção de síncope, harmonia e composição. Estes elementos, com a adição do pandeiro originário da Espanha e do batuque peculiar criado pela junção do índio e do negro, deram à nossa música popular a identidade que faltava, fazendo surgir a “música dos barbeiros” ou “dos alfaiates” – pontos onde os músicos se reuniam para tocar – o que seria responsável pelo aparecimento do choro.