ROUPÃO DE BANHO
A turba caminhava unida,
coesa, gritando palavras de ordem enquanto se dirigia lentamente ao local do
encontro, onde os caminhantes receberiam novas instruções e dariam
prosseguimento ao plano estratégico que havia sido eleborado pela direção do
movimento.
Muitos portavam bandeiras,
faixas e cartazes e apenas agitavam os braços num gesto ensaiado, mas a maioria
seguia calada e alguns – poucos, é verdade – traziam consigo bastões de madeira e canos de ferro que seriam usados
oportunamente, no calor do evento, para quebrar vitrines e fachadas de banco.
Era uma cena que estava se
tornando comum em diversos países do mundo, independentemente dos mais diversos
motivos e tipos de reivindicações.
Apesar dos rogos da mãe e
do desespero do pai, Carluccio deu-lhes as costas e foi se juntar com a turma,
carregando um taco de madeira de lei dentro da mochila.
A casa ficou para trás junto
com o choramingo dos velhos, e tudo o que ele tinha que fazer agora era cumprir
com mais esta missão.
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O movimento foi ficando
quente, e quando começou a ferver, Carluccio tirou o taco da mochila e começou
a se movimentar em direção ao seu objetivo quando teve sua frente barrada por
uma mulher que gritava coisas que ele não entendia, mas que seguramente atrapalhava
o seu trabalho. A mulher, usando um lenço para cobrir a cabeça e vestindo um
ridículo roupão de banho totalmente inadequado para aquele cenário, pôs-se
resolutamente à sua frente para impedi-lo de prosseguir.
Ele procurou se
desembaraçar a todo custo, empurrando a mulher e tentando dela se desvencilhar,
mas era tudo em vão.
No auge do nervosismo e de
uma forma impensada, ele manejou o taco com força na cabeça da mulher e a
deixou caída, livre para prosseguir o seu caminho. Minutos depois, milhares de
pedacinhos de vidro de espalhavam pela calçada iluminada pelas luzes do saguão
do banco e ele se sentiu satisfeito com o dever cumprido.
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Horas depois, com o movimento
arrefecido, a turba se dispersou e cada qual seguiu seu rumo.
Carluccio foi pra casa e
ao se aproximar notou um movimento estranho no portão, gente se aglomerando e
uma ambulância parada ao meio-fio.
Alarmado, perguntou para uma
vizinha, primeira pessoa que achou pela frente – “o que está acontecendo na
minha casa”?
A vizinha explicou que
depois que ele saira, seu velho pai sentiu-se mal e desfaleceu. Um vizinho
médico foi chamado às pressas, disse que o caso era grave e chamou uma
ambulância, mas a ambulância demorou a chegar por causa de alguma confusão que
estava acontecendo nas ruas do centro.
“Sua mãe ficou tão nervosa
que colocou o primeiro agasalho que encontrou à mão – um roupão de banho – e foi
à sua procura para que viesse ajudar com o problema do seu pai...”, prosseguiu
ela.