sexta-feira, 4 de janeiro de 2019







DO OUTRO LADO DO ESPELHO
(Excerto)

          Percorro com os olhos os quatro pontos cardeais que me cercam neste cubículo onde habito há dias, ou anos, ou séculos, pelo que me diz o relógio da minha semiconsciência.
          Estou deprimido, e o mundo que me cerca é este miserável quarto sem luz, de onde tento olhar por uma fresta de janela fechada e vislumbrar um jardim florido e coberto pelo sol, com borboletas coriscando aqui e acolá tendo como fundo um céu de azul sereno retocado por algumas nuvens de algodão.
          O que vejo, no entanto, é um beco imundo sem saída e cheio de detritos, com a face amarga do inverno se avolumando sombria e insetos mortos boiando em poças de água, tornando a paisagem desalentadora como a minha  a.
          O mundo fede, e o mau cheiro penetra pela fresta da janela como um gás venenoso que me invade as narinas.
          Não encontro ninguém para responder minhas perguntas nem para satisfazer meus questionamentos.
          Grito, e o meu grito se perde no eco do local vazio e fechado, como o lamento de um moribundo dentro de uma masmorra.
          Há um homem no parlatório na sala ao lado, separado de mim por uma parede de vidro tão espessa que não consigo ouvir a sua voz. Tenho a impressão de que o conheço, seu rosto não me é estranho, mas meu torpor me impede de concatenar ideias.
          Ele me olha fixamente nos olhos, e eu percebo que repete tudo o que eu digo, imita meus gestos e, por incrível que pareça, guarda no rosto a mesma expressão desanimada que estampo na cara macilenta de quem não dorme há duas semanas. Pelo menos é isto que me parece, já que a minha noção de tempo está prejudicada pelos meus desvarios.
          Não sei ao certo onde estou nem o que estou fazendo aqui, e a exaustão embota o meu raciocínio.
          Devo estar sonhando, pois de outra forma já teria encontrado uma explicação para esta situação insólita e insustentável – mas dou um murro na porta metálica e a mão dói, mostrando que estou bem acordado.
          Nunca fui uma pessoa brilhante, capaz de grandes descobertas ou conclusões, mas até um animal que age apenas por instinto teria uma noção razoável de onde se encontra. Um rato, uma barata acuada, um inseto, que seja, tem no instinto de sobrevivência o vislumbre de perceber o tamanho do problema em que se meteu.
          Eu, porém, me sinto desgraçadamente inútil e sem rumo.
          Parece que estou numa cela, e o único móvel que preenche este vazio é esta dura cadeira na qual sento e levanto, feita de metal branco e esmaltado, o que me leva a pensar que estou num hospital ou na antessala de um manicômio, sendo psicologicamente atormentado para confessar algum delito que não me lembro de ter cometido.
                                                              -0-0-0-
          Finalmente entendo que o parlatório nada mais é do que um enorme espelho e que meu interlocutor sou eu mesmo.
          Escuto uma voz que soa como se fossem badaladas de um sino no campanário da minha cabeça – “Vamos deixá-lo aí, para que se acalme de vez.     Amanhã podemos transferi-lo para o quarto” – e outra voz, retrucando – “Mas recomende que seja amarrado com as tiras de couro, pois ele pode se tornar novamente perigoso...”.
          Faz se o silêncio, e antes de apagar totalmente a consciência, me vejo estrangulando o vizinho que costumava praticar canto lírico nos domingos de manhã.







quarta-feira, 2 de janeiro de 2019






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 29/09/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

CHARLIE MINGUS - HIS FINAL WORK

Poucos músicos de jazz têm a aparência física e a personalidade tão parecidas com a sua música quanto Charles Mingus. Seu temperamento podia mudar em minutos, passando de dócil e delicado para agressivo e violento, e isto tanto acontecia na vida particular como em cima do palco. Sua música reflete bem esta bipolaridade, alternando momentos de lirismo com passagens arrebatadoras em composições que mais parecem execuções impressionistas de sinfonias em jazz. É interessante notar que, ao contrário da maioria dos músicos que se especializaram na execução de um instrumento - no seu caso, o contrabaixo - Mingus se coloca sempre atrás dos seus músicos, evitando solos onde ele possa aparecer como o líder da banda que era. Suas composições contêm um componente negro ativista e uma teatralidade pouco vista no jazz, como pode ser notado nas músicas mostradas neste programa, entre elas "Fables of Faubus", "Farewell Farwell", "So Long Eric" e "Just for Laughs" que reúnem músicos do mais alto quilate, como o trompetista Woody Shaw, o saxofonista-barítono Gerry Mulligan, o vibrafonista Lionel Hampton e o baterista Danny Richmond. Esta gravação, de 1977, foi a última em que Mingus participou tocando um instrumento. Ele morreu em 1979.


Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

terça-feira, 1 de janeiro de 2019






NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

ME-TIME

If the pressures of daily life are getting too much for you, then why not indulge in little ME-TIME, time to relax and do exactly what you enjoy? Whether it’s going to the gym, taking a long hot bath, or sitting down with a cup of coffee and a large slice of chocolate cake, we all need a little ME-TIME in our lives.   

“Are you allocating enough ME-TIME into your day? It is far too easy to get wrapped up in day-to-day tasks and responsibilities, forgetting to take care of yourself. Chose from a variety of practices that can be incorporated a few minutes each day to bring about inner peace and contentment”.  
(About Inc. , 6th June 2005)

TRADUÇÃO

Se as pressões da vida diária estão se tornando muito fortes para você, por que não se conceder um pouco de TEMPO-PARA-MIM para relaxar e fazer exatamente o que você gosta de fazer? Quer seja indo para a academia, tomando um longo banho quente ou sentar-se diante de uma xícara de café e uma grande fatia de bolo de chocolate, tudo o que precisamos é de um pouco de TEMPO-PARA-MIM nas nossas vidas.
  
“Você está incluindo TEMPO-PARA-MIM suficiente no seu dia? É muito fácil ficar envolvido em tarefas e responsabilidades do dia-a-dia e se esquecer de cuidar de si mesmo. Escolha alguma prática que pode ser incorporada pelo menos alguns minutos por dia que possa lhe trazer satisfação e paz interior”.