O MELHOR EMPREGO DO
MUNDO
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Imagine-se o
prezado leitor trabalhando como professor, motorista ou bancário e que por
algum motivo seja demitido e se veja de repente às voltas com o desemprego.
Nesta
história, diferentemente da realidade do hoje em dia, a primeira reação será a
de um intenso alívio.
Afinal o
leitor professor já estava ficando irritado com as cobranças da direção da
escola e com o comportamento daquela molecada que gostava de tudo, menos de
estudar. O leitor motorista não estava aguentando mais a pressão do dia-a-dia
no trânsito caótico da cidade nem a atitude de motoristas irresponsáveis que frequentemente
dirigem na contramão, fazendo ultrapassagens proibidas ou passando com o sinal
vermelho. E o leitor bancário não aturava mais ter que tolerar clientes
grosseiros, além do medo de cometer algum erro contábil e do cumprimento de
metas estabelecidas pela diretoria.
A segunda
reação será a de relaxar profundamente, levar as crianças pra passear no
parque, proporcionar-se aquela pescaria que há tanto tempo sonhava e, desejo
supremo, esquecer o odioso relógio-despertador, agora transformado em um
irritante telefone celular multiuso.
Além do mais,
o professor poderá aproveitar seu tempo vago para se reciclar, aprender novas
técnicas de ensino e as novas exigências do aprendizado para algum dia voltar
ao trabalho ainda melhor; o motorista poderá pensar em uma nova profissão, quem
sabe abrir uma oficina mecânica, seu velho sonho de consumo, e dirigir apenas
por lazer quando bem entendesse, podendo escolher livremente o seu caminho e o
tempo debruçado ao volante. Quanto ao bancário, uma parada é sempre vantajosa
para observar o mercado e pensar seriamente naquela sociedade que o amigo
economista lhe propôs para ingressarem pra valer no mundo da consultoria.
Se nada der
certo, depois de alguns meses eles até poderão voltar para a sala de aula, para
o volante do ônibus ou para a agência bancária e recomeçar o desafio, sem
nenhum desgaste ou prejuízo financeiro.
O leitor deve
estar pensando que o articulista endoidou.
Tente, no
entanto, mudar as profissões de professor, motorista e bancário para técnico de
futebol.
O técnico de
futebol assina contrato de um ano com um clube que lhe pagará 500 mil reais por
mês, chova ou faça sol. Depois de seis meses de serviços prestados, o
presidente do clube não está satisfeito com o seu trabalho ou se sente
pressionado por diretores e torcedores, além de perceber que há um movimento
estranho entre os jogadores que começaram a puxar o tapete do treinador.
Depois de
algumas reuniões e de um vazamento para a imprensa, a fim de diminuir o
impacto, presidente e técnico “chegam a um acordo” e o homem é finalmente demitido.
Mas existe
uma cláusula contratual mediante a qual o salário de 500 mil deve continuar a
ser pago, isto quando não houver mais uma multa rescisória.
Se o técnico
for do tipo econômico, terá gasto por mês cerca de 50 mil reais, no
máximo, ou seja, sobraram 3 milhões de reais devidamente aplicados, o
que somados aos cerca de 3 milhões que serão pagos até o final do contrato –
isto se o profissional desempregado continuar gastando a mesma média mensal –
lhe dará um rendimento ao final de um ano de mais de 6 milhões de reais, isto é, cerca de 200 vezes mais do que o professor, o
motorista ou o bancário receberiam como salário bruto, trabalhando.
Não é à toa
que por maiores que sejam as críticas ao seu trabalho, as maldições sobre jogos
e títulos perdidos, os 7x1 e outras goleadas da vida, estando empregado ou não,
o técnico de futebol sempre mantém a saudável aparência de um cidadão tranquilo
e confiante na vida que Deus lhe deu...
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Impacial de 17/04/2015)