sábado, 8 de outubro de 2022

 


O FIO DA MEADA
(Augusto Pellegrini)

Fico pensando, em meu canto
Que o mundo não vale nada
Você fala, faz e acontece
Pra sair de uma enrascada
E vai levar a vida inteira
Pra achar o fio da meada

Fim, começo, tanto faz
Eu quero uma ponta-guia
Que me ajude na procura
De uma boa companhia
Que me traga encanto e paz
Vinho, amor e simpatia

Penso que achei, mas não acho
Pois a pista é sempre falsa
Parece que é uma ponta
Aquilo que a gente encontra
Mas é só uma parte solta
Bem no meio da enrolada

E tudo isso se sucede
Mesmo tomando cuidado
Os caminhos que aparecem
Desviam pra todo lado
E via de regra acontece
De apontar pro lado errado

Pra achar a ponta do fio
É preciso ter paciência
Mas na maioria das vezes
O acaso não tem clemência
E zomba da nossa lida
Com a maior indiferença

E, por procurar ao léu
Desisto desta empreitada
Pra recomeçar a vida
Busco um outro carretel
Que já tenha definido
O início da caminhada

Não se trata aqui, no caso
De achar o fio da meada,
Tentando reencontrar
Um pensamento perdido
Que terminou confundido
Por quem não entende nada

O que procuro é o início
De uma meada confusa
Não tem nada figurado
E quando for encontrado
Espero que me conduza
Ao caminho desejado

Isto não é só figurado
É realmente o começo
De uma busca extremada
Pra seguir a minha estrada
Fio da meada eu desprezo
Eu quero o fim da meada

2018

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(EF – English Live)

Most common English idioms and phrases 

(ver tradução após o texto) 

TO CUT CORNERS   

This expression means “to do something badly or cheaply”. 

“They really cut corners when they built this bathroom. The shower is leaking”    

 

            

TRADUÇÃO

Expressões idiomáticas mais comuns na língua inglesa 

TO CUT CORNERS (aparar os cantos), no Brasil “FAZER GAMBIARRA”

 A expressão significa “fazer alguma coisa mal e porcamente”.

 
“Eles fizeram a maior gambiarra quando construíram este banheiro. O chuveiro está pingando”

           

 

 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

 


PÁGINAS ESCOLHIDAS

De um livro de contos ainda não publicado
(Augusto Pellegrini)

 DESVENTURAS DE UM FIM DE TARDE

Parmênio, bêbado como um peru de véspera de Natal, não viu o poste com a placa na calçada da praia – meio invisível no lusco-fusco das seis da tarde – e quase se rachou ao meio.
A placa advertia os banhistas sobre o perigo da maré alta no local, pois sua baixa repentina podia carregar mar adentro algum banhista descuidado, sugando o aventureiro com muita força para o centro do oceano.

Irritado com o trompaço no poste da placa, Parmênio começou a lhe dirigir impropérios e parece que ficou ainda mais irritado com a sua mudez, pra não dizer desfaçatez.
Zé Maria, em solidariedade ao companheiro, cismou que a placa estava no lugar errado, pois, raciocinava ele, ali não havia banhistas em perigo. A placa devia ter sido colocada na areia, não na calçada. Ato contínuo, deu um belo safanão com a mão na chapa de metal que, provavelmente indignada com a sua atitude, provocou-lhe um corte no dedo.

Parmênio e Zé Maria se zangaram ainda mais e começaram então a agredir o poste a pontapés como se estivessem enfrentando um adversário numa briga de rua.
A cada chute uma dor, e a cada dor a raiva aumentando.
À distância, o garçom do Bar do Ernesto e o próprio Ernesto a tudo assistiam impassíveis, e viram quando a viatura da polícia chegou e dois meganhas truculentos pegaram os dois amigos com a facilidade de quem carrega uma trouxa de roupa e os jogaram no banco de trás.

Sem mais delongas, o carro partiu em disparada, os pneus gemendo em uníssono com os gemidos dos dois senhores embriagados, que finalmente se deram conta da encrenca em que se haviam metido e começaram a sentir os hematomas e os cortes causados por tão rocambolesco episódio.
Doíam-lhes as mãos, os pés e a consciência. 

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

 


PEÇO A VOCÊ 

1978

(Samba de Augusto Pellegrini)

 

Peço a você

Que console este meu coração

Já não vivo em paz

Pois novamente fracassei

E pensar noutra desilusão

Eu não posso mais

 

Eu peço

 

Peço a você

Que console este meu coração

Já não vivo em paz

Pois novamente fracassei

E pensar noutra desilusão

Eu não posso mais

 

Meu pranto derramei

Por toda a vida

Tive sonhos dourados de amor

Encontrei flores no meu caminho

No entanto, em cada flor

Morava a solidão

E o canto se transformava

Da flor em espinho

Por isso peço a você

Que me console e me dê seu carinho

Ninguém pode ser feliz sozinho

Por isso peço a você

Que me console e me dê seu carinho

Ninguém pode ser feliz sozinho