quinta-feira, 11 de dezembro de 2014





FECHADO PRA BALANÇO 

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 11/12/2014) 

O ano futebolístico do Brasil termina marcado por grandes emoções.  A jornada foi brilhante para uns, espinhosa para outros, mas como diz o manjado ditado, entre mortos e feridos salvaram-se todos, ou quase todos.
No cardápio, nenhuma conquista ou sequer um vice-campeonato internacional. Apesar de ter sido disputada no Brasil e mesmo com toda a expectativa criada e toda a festa programada, a Copa do Mundo teve a final jogada entre a Alemanha e a Argentina. Ao Brasil restou um honroso (alguns dirão melancólico) quarto lugar.
A Copa representou o maior vexame internacional de toda a nossa história, superando o fiasco de 1950, quando pelo menos chegamos ao vice-campeonato perdendo por um apertado 2x1 (e não eliminados pelos alarmantes 7x1 de 2014) e o resultado final daquele Mundial teve uma repercussão mínima se comparada à globalização e universalização da notícia dos dias de hoje.
Estranhamente, porém, os derrotados de 1950 foram chamados de “covardes” e passaram um bom tempo se escondendo, ao passo que os derrotados de 2014 vão muito bem, obrigado, e o “efeito Alemanha” aparentemente não alterou a sua rotina. Sinal dos tempos.
No âmbito continental, nenhum time brasileiro chegou sequer à final de qualquer das duas Copas disputadas.
A Copa Libertadores teve como campeão o San Lorenzo da Argentina e o paraguaio Club Nacional em segundo, e a Copa Sul-Americana teve o campeão definido ontem à noite entre River Plate, da Argentina, e Atlético Nacional, da Colômbia.
Os clubes brasileiros que chegaram mais perto – Cruzeiro e São Paulo – ficaram nas quartas de final e na semifinal respectivamente.
O ano 2014 deve ser definitivamente esquecido e se possível riscado do calendário brasileiro no que diz respeito aos torneios internacionais e continentais.
No aspecto interno, os mineiros deram demonstração de força, com o Cruzeiro dando um passeio nos pontos corridos do Campeonato Brasileiro e o Atlético se superando na épica conquista da Copa do Brasil.
Os cariocas foram a maior decepção, pois o seu melhor representante – o Fluminense – não passou de um sexto lugar no Brasileiro e o Botafogo caiu para a divisão de baixo, sendo o penúltimo colocado entre os 20 participantes.
É verdade que o Vasco subiu da Série B para a Série A, mas chegou em terceiro, a 7 pontos do Joinville campeão, e em momento algum pareceu almejar  algo mais do que isso.
Apesar de o campeão brasileiro ter sido anunciado com duas rodadas de antecedência, o sistema de pontos corridos mostrou sua eficácia, pois até a última rodada foi mantido um grande frisson, se não pelo título, mas por uma vaga na chave de grupos na Libertadores – obtida pelo Internacional, que com um gol aos 50 minutos do segundo tempo jogou o Corinthians para a repescagem – e pela manutenção de um último clube para a Série A de 2015, com uma vaga disputada a cada minuto de jogo por Palmeiras, Vitória e Bahia, que resultou na queda dos dois baianos.
Localmente, tivemos um ano equilibrado do Sampaio Correa na Série B. O tricolor mostrou um time amadurecido e teve momentos durante a sua trajetória em flertou com entre os quatro primeiros para se habilitar a disputar a Série A no ano que vem. Chegou em décimo lugar, na metade da tabela, mas em momento algum passou pelo desespero de ficar entre os rebaixados.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014






FUTEBOL – NEGÓCIO OU ESPETÁCULO? (PARTE II) 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 08/12/2014) 

Talvez o título deste artigo (e também do artigo anterior) devesse ter sido “Futebol – Negócio e Espetáculo”, porque na verdade nos dias de hoje uma coisa não se dissocia da outra. Grandes marcas apostam em grandes espetáculos.
No caso do futebol brasileiro, no entanto, o título talvez pudesse ser “Maus negócios e Espetáculos sofríveis”.
O gerenciamento dos clubes não tem um selo de qualidade, pois os custos aumentam, as dívidas se acumulam e, entra ano, sai ano, a torneira continua aberta sem previsão de que o equilíbrio possa ser restabelecido.
Por outro lado, os jogadores que não recebem salários, direitos de imagem e premiações continuam rendendo 50% do que podem a proporcionam na maioria das vezes espetáculos medíocres.
Os ingredientes que os clubes têm a disposição parecem apropriados para que a receita original funcione e o negócio seja bem sucedido. Estes ingredientes poderiam proporcionar grandes espetáculos, mas por algum motivo a massa desanda, provavelmente devido à falta de um padeiro adequado.
A presença da mídia, a participação de patrocinadores de peso e todo o marketing esportivo que é desenvolvido em torno do negócio promovem e provocam a dança de bilhões de reais para alimentar o mercado do futebol.
Qualquer empreendimento milionário, porém, corre o risco de fazer água se não tiver um gerenciamento à altura do capital investido, isto é, o futebol profissional no estágio em que se encontra não pode ser dirigido como um campeonato de bairro.
Os altos e baixos se sucedem, mas os sucessos dão a impressão de que aconteceram por obra do acaso, sem o menor planejamento, ao passo que os fracassos mostram claramente a existência de erros estratégicos.
O maior problema é que os clubes não funcionam como empresa, e via de regra gastam muito mais do que ganham ou gastam o dinheiro que ainda não ganharam.
Os presidentes dos clubes de futebol são na sua maioria empresários que aparentemente sabem como tocar as suas empresas sem as colocar no negativo, mas não mostram o mesmo carinho pelos clubes que dirigem, uma absoluta irresponsabilidade. Será que as suas empresas contratam seus empregados – por excelentes que sejam – pagando salários que fazem com que a folha de pagamento supere o faturamento?
É meio difícil o futebol se organizar financeiramente num país onde a sociedade está pendurada em dívidas, as empresas estão meio quebradas e o próprio governo gastou além do seu orçamento, isto é, o mau exemplo vem de todos os lados. E olhem que eu não estou falando sobre a corrupção generalizada, fato que – com exceção à nebulosa história do rebaixamento da Portuguesa – não tem produzido no futebol escândalos de porte.
O Brasil está no vermelho e os zeros estão à esquerda – sem qualquer alusão a alguma coloração partidária.
Chegamos ao ponto de ter a esperança de que uma figura tão questionada como o presidente do Vasco Eurico Miranda possa ajudar o futebol a se tornar lucrativo e organizado.
Até a poderosa e bem dirigida Globo Esportes entrou na dança e quase se complicou por causa dos adiantamentos que fez, sendo inclusive acionada pela Justiça no caso do Botafogo como corresponsável por parte do débito do Glorioso, que vai de mala e cuia para a Série B acumulando um passivo de 750 milhões, sem incluir os salários atrasados de toda uma galera.
O futebol brasileiro passa pela necessidade de se estabelecer um teto salarial para jogadores e técnicos, pela responsabilidade fiscal e trabalhista dos clubes, pela ampliação do sistema sócio-torcedor, pela venda antecipada de ingressos através de carnês, por um calendário que privilegie os clubes das quatro divisões, pela profissionalização da arbitragem e pela redução da cota de avareza da CBF.