A CAMPANHA BRASILEIRA NO
PAN – PARTE 2
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Os
atletas do Brasil corresponderam em boa parte às expectativas do COB – Comitê
Olímpico Brasileiro e dos analistas esportivos, e fecharam os Jogos
Pan-Americanos numa invejável terceira colocação, igualando o total de 141
medalhas conquistadas em 2011, nossa segunda melhor marca da história.
O
terceiro lugar na competição é sem dúvida uma colocação excelente, pois ficamos
atrás apenas dos Estados Unidos e do anfitrião Canadá, mas à frente de Cuba até
com certa folga – foram 41 ouros contra 36 dos caribenhos – o que é bastante
significativo se olharmos para o retrospecto.
Nosso
terceiro lugar foi conseguido dentro de um universo de 41 países, 10 dos quais
não beliscaram sequer uma medalha de bronze e ficaram no zero absoluto.
Em
meio às glórias e à certeza do dever cumprido, cabem, no entanto algumas
observações.
Muitas
das 41 medalhas de ouro obtidas foram fruto de um esforço puramente individual
dos atletas.
A
grande maioria destes atletas vencedores tiveram que treinar e evoluir em
outros países, bancando seus custos por conta própria ou por meio de
patrocinadores particulares, isto é, o COB festeja uma vitória da qual não teve
uma participação efetiva.
A
natação nos brindou com 10 medalhas e um show do velocista Thiago Pereira, candidato
certo a fazer bonito nas Olimpíadas. Outras 5 medalhas foram ganhas pelo judô e
3 pelo tiro. É provável que alguns destes medalhistas possam repetir o bom desempenho
no próximo ano durante os Jogos do Rio-2016.
O
ouro de Juliana dos Santos nos 5.000 feminino também merece destaque por ter
sido o nosso único alto de pódio no atletismo, mas seu tempo de 15min45s97– o
melhor da sua carreira – está muito abaixo do recorde olímpico (Gabriela Szabo,
da Romênia – 14min40s79 em 2000) e do recorde mundial (Tirunesh Dibaba, da
Etiópia – 14min11s97 em 2008).
No
que diz respeito aos esportes coletivos, ganhamos ouro no basquetebol masculino,
no handebol masculino e feminino e no futebol feminino. O futebol masculino
segue a escalada de insucessos que nos persegue há algum tempo, e tivemos que
nos satisfazer com um bronze sofrido, arrancado contra o Panamá nos estertores
da prorrogação. O basquete feminino também regrediu se comparado com as três
ultimas edições e perdeu o bronze para Cuba.
Não
levamos para Toronto a nossa força máxima no vôlei, já que as equipes
principais estavam envolvidas com a Liga Mundial e com o Grand Prix, mas mesmo
assim chegamos às duas finais, perdendo o ouro para a Argentina no masculino e
para os Estados Unidos no feminino.
Normalmente
favoritos, decepcionamos no vôlei de praia, conseguindo no máximo a prata no
feminino, derrotados que fomos para o México.
É
relevante que se comente que a fim de dar ao Brasil um maior poder de
competição o COB achou mais cômodo – e com certeza mais barato – naturalizar
alguns atletas para as Olimpíadas do que investir em treinamento.
Na
verdade, recuperar o tempo perdido em no mínimo uma década seria uma tarefa
impossível, mas deveria ter sido feito pelo menos uma modernização nos
aparelhos e nas pistas de atletismo e ciclismo, sucateados desde o Pan-2007.
Esta
naturalização de atletas estrangeiros já começou, com o basquetebol reforçado
pelo americano Larry Taylor, que desde 2008 defende as cores do Bauru no
interior de São Paulo e com o polo aquático, que deve boa parte da prata
conquistada a um espanhol, um croata, um sérvio e um cubano.
A
esgrima deverá ter a naturalização de uma italiana, uma americana, uma francesa
e uma espanhola, e a luta greco-romana contará com um armênio e um cazaque.
Não
se conhecem detalhes das negociações, mas sabe-se que apenas o armênio Edouard Soghomonyan
custará aos cofres do COB a quantia de 2,6 milhões de reais, e este pode ser o custo
de cada naturalização.
Sabendo
que nas Olimpíadas todos os países costumam mandar a maior força a que têm
direito (e isso vale para o vôlei brasileiro), percebe-se desde já o tamanho da
encrenca que os Jogos de 2016 representará para o Brasil.
(Artigo
publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 31/07/2015)