sábado, 1 de agosto de 2015







A CAMPANHA BRASILEIRA NO PAN – PARTE 2 

 

Os atletas do Brasil corresponderam em boa parte às expectativas do COB – Comitê Olímpico Brasileiro e dos analistas esportivos, e fecharam os Jogos Pan-Americanos numa invejável terceira colocação, igualando o total de 141 medalhas conquistadas em 2011, nossa segunda melhor marca da história.
O terceiro lugar na competição é sem dúvida uma colocação excelente, pois ficamos atrás apenas dos Estados Unidos e do anfitrião Canadá, mas à frente de Cuba até com certa folga – foram 41 ouros contra 36 dos caribenhos – o que é bastante significativo se olharmos para o retrospecto.
Nosso terceiro lugar foi conseguido dentro de um universo de 41 países, 10 dos quais não beliscaram sequer uma medalha de bronze e ficaram no zero absoluto.
Em meio às glórias e à certeza do dever cumprido, cabem, no entanto algumas observações.
Muitas das 41 medalhas de ouro obtidas foram fruto de um esforço puramente individual dos atletas.
A grande maioria destes atletas vencedores tiveram que treinar e evoluir em outros países, bancando seus custos por conta própria ou por meio de patrocinadores particulares, isto é, o COB festeja uma vitória da qual não teve uma participação efetiva.
A natação nos brindou com 10 medalhas e um show do velocista Thiago Pereira, candidato certo a fazer bonito nas Olimpíadas. Outras 5 medalhas foram ganhas pelo judô e 3 pelo tiro. É provável que alguns destes medalhistas possam repetir o bom desempenho no próximo ano durante os Jogos do Rio-2016.
O ouro de Juliana dos Santos nos 5.000 feminino também merece destaque por ter sido o nosso único alto de pódio no atletismo, mas seu tempo de 15min45s97– o melhor da sua carreira – está muito abaixo do recorde olímpico (Gabriela Szabo, da Romênia – 14min40s79 em 2000) e do recorde mundial (Tirunesh Dibaba, da Etiópia – 14min11s97 em 2008).
No que diz respeito aos esportes coletivos, ganhamos ouro no basquetebol masculino, no handebol masculino e feminino e no futebol feminino. O futebol masculino segue a escalada de insucessos que nos persegue há algum tempo, e tivemos que nos satisfazer com um bronze sofrido, arrancado contra o Panamá nos estertores da prorrogação. O basquete feminino também regrediu se comparado com as três ultimas edições e perdeu o bronze para Cuba.
Não levamos para Toronto a nossa força máxima no vôlei, já que as equipes principais estavam envolvidas com a Liga Mundial e com o Grand Prix, mas mesmo assim chegamos às duas finais, perdendo o ouro para a Argentina no masculino e para os Estados Unidos no feminino.
Normalmente favoritos, decepcionamos no vôlei de praia, conseguindo no máximo a prata no feminino, derrotados que fomos para o México.
É relevante que se comente que a fim de dar ao Brasil um maior poder de competição o COB achou mais cômodo – e com certeza mais barato – naturalizar alguns atletas para as Olimpíadas do que investir em treinamento.
Na verdade, recuperar o tempo perdido em no mínimo uma década seria uma tarefa impossível, mas deveria ter sido feito pelo menos uma modernização nos aparelhos e nas pistas de atletismo e ciclismo, sucateados desde o Pan-2007.
Esta naturalização de atletas estrangeiros já começou, com o basquetebol reforçado pelo americano Larry Taylor, que desde 2008 defende as cores do Bauru no interior de São Paulo e com o polo aquático, que deve boa parte da prata conquistada a um espanhol, um croata, um sérvio e um cubano.
A esgrima deverá ter a naturalização de uma italiana, uma americana, uma francesa e uma espanhola, e a luta greco-romana contará com um armênio e um cazaque.
Não se conhecem detalhes das negociações, mas sabe-se que apenas o armênio Edouard Soghomonyan custará aos cofres do COB a quantia de 2,6 milhões de reais, e este pode ser o custo de cada naturalização.
Sabendo que nas Olimpíadas todos os países costumam mandar a maior força a que têm direito (e isso vale para o vôlei brasileiro), percebe-se desde já o tamanho da encrenca que os Jogos de 2016 representará para o Brasil.
 


(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 31/07/2015)