A VOLTA DO ASTERISCO
A Série A do Campeonato
Brasileiro volta a ter um asterisco na tábua de classificação, indicando que
uma partida foi encerrada sem que se atribuíssem pontos aos litigantes. Isto
não acontecia desde 2013, quando a Portuguesa foi rebaixada pelo Tribunal (no
campo cairia o Fluminense).
O clássico Fla-Flu está
considerado sub-judice pelo STJD, que analisa a possibilidade da realização de
uma nova partida por causa de um alegado erro de direito cometido pelo árbitro
Sandro Meira Ricci. No placar, o Flamengo venceu por 2x1.
Tudo porque Meira Ricci
validou um gol tricolor denunciado como irregular pelo seu assistente e depois
de longos 13 minutos voltou atrás e concordou que o bandeirinha estava certo,
mas só após ter sido alertado por uma pessoa alheia à arbitragem, o que não é
permitido pelas regras da Fifa.
Não importa na verdade se
houve ou não impedimento (parece que houve), pois um erro de arbitragem é
tolerado pelas regras por se tratar de um “erro de fato”. O que não pode é
haver o tal “erro de direito”, como um time jogar com doze jogadores, por
exemplo, e entre as proibições está a chamada “ajuda externa da arbitragem”, que
foi exatamente o que aconteceu.
De qualquer forma, mais uma
vez o tribunal tem que se intrometer para modificar um resultado obtido no
campo, o que, pelas características do jogo, tendo ou não havido o impedimento,
termina por frustrar torcedores e jogadores.
Meira Ricci tem colecionado
erros grosseiros e continua incompreensivelmente prestigiado pela CBF. Seu erro
de agora foi além de tudo covarde porque ele não teve coragem de usar a verdade
ao redigir a súmula.
A atuação dos árbitros nas mais
recentes rodadas do Campeonato Brasileiro tem beirado a calamidade, tanto por problemas
de visão como por erros de interpretação.
Alguns árbitros, mesmo muito
bem colocados e próximos ao lance simplesmente não conseguem ver toques de mão
na bola ou pênaltis claríssimos ou veem irregularidades em lances normais; por
outro lado, a falta de critério e a falta de diálogo entre o árbitro e os seus assistentes
continuam gerando situações contraditórias que acabam deixando todo mundo descontente.
Se isto não envolvesse
diretamente os quatro primeiros colocados talvez não fosse tão flagrantemente notado,
posto que estes erros vêm infelizmente se constituindo num fato corriqueiro no
nosso futebol. A arbitragem brasileira é cronicamente péssima e parece que não
há jeito de ser consertada.
Assim, palmeirenses,
flamenguistas, atleticanos e santistas estão pondo a boca no trombone e se acusando
uns aos outros de estarem sendo beneficiados, e os presidentes destas
agremiações têm vindo a público desfiar as suas teorias da conspiração.
Alguns pedem a anulação de
partidas, outros pedem que determinados árbitros não sejam mais escalados,
outros suspeitam de que resultados tenham sido armados na Comissão de
Arbitragem, mas todos se esquecem que ao longo destas trinta e uma rodadas já
disputadas eles também já tiveram uma mãozinha da arbitragem em seu benefício.
Em outros países, quando
investigadas com rigor, situações como estas geraram sérias consequências que
inclusive levaram muita gente pra cadeia pela constatação de que resultados
eram fabricados por esquemas que incluíam o envolvimento de loterias e outros babados.
Tudo leva a crer que o que
acontece no Brasil não chegue a tanto, mas nada impede que seja levada adiante
uma investigação séria e que seja feito um processo de capacitação rigoroso
para que a Comissão de Arbitragem se certifique da competência de cada um dos
seus representantes.
Foi por causa da falta dessa
competência que Meira Ricci, um árbitro useiro e vezeiro em criar problemas nas
partidas em que apita, leva o Campeonato Brasileiro a este infeliz impasse bem
no momento em que recrudescia a luta entre Palmeiras e Flamengo pela liderança.
Por causa disso, o campeonato
corre o risco de se transformar numa novela cheia de recursos jurídicos e talvez
possa encerrar o ano sem um campeão dentro do campo.
Há exatos onze anos, o
Campeonato de 2005 foi conturbado por denúncias contra o árbitro Edilson
Pereira de Carvalho que, pressionado, declarou ter recebido dinheiro para fabricar
certos resultados. Por esse motivo o STJD cancelou diversas partidas,
invertendo profundamente a pontuação da tabela e desequilibrando o certame, que
culminou dando o título ao Corinthians.
O engraçado é que apesar de
Edilson ter confessado ser um ladrão, nenhuma das partidas apitadas por ele
sofreu de fato alguma distorção nos resultados, de modo que o Tribunal acabou forçando
a barra indevidamente.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 21/10/2016)