sábado, 22 de outubro de 2016






A VOLTA DO ASTERISCO

A Série A do Campeonato Brasileiro volta a ter um asterisco na tábua de classificação, indicando que uma partida foi encerrada sem que se atribuíssem pontos aos litigantes. Isto não acontecia desde 2013, quando a Portuguesa foi rebaixada pelo Tribunal (no campo cairia o Fluminense).
O clássico Fla-Flu está considerado sub-judice pelo STJD, que analisa a possibilidade da realização de uma nova partida por causa de um alegado erro de direito cometido pelo árbitro Sandro Meira Ricci. No placar, o Flamengo venceu por 2x1.
Tudo porque Meira Ricci validou um gol tricolor denunciado como irregular pelo seu assistente e depois de longos 13 minutos voltou atrás e concordou que o bandeirinha estava certo, mas só após ter sido alertado por uma pessoa alheia à arbitragem, o que não é permitido pelas regras da Fifa.
Não importa na verdade se houve ou não impedimento (parece que houve), pois um erro de arbitragem é tolerado pelas regras por se tratar de um “erro de fato”. O que não pode é haver o tal “erro de direito”, como um time jogar com doze jogadores, por exemplo, e entre as proibições está a chamada “ajuda externa da arbitragem”, que foi exatamente o que aconteceu.
De qualquer forma, mais uma vez o tribunal tem que se intrometer para modificar um resultado obtido no campo, o que, pelas características do jogo, tendo ou não havido o impedimento, termina por frustrar torcedores e jogadores.
Meira Ricci tem colecionado erros grosseiros e continua incompreensivelmente prestigiado pela CBF. Seu erro de agora foi além de tudo covarde porque ele não teve coragem de usar a verdade ao redigir a súmula.
A atuação dos árbitros nas mais recentes rodadas do Campeonato Brasileiro tem beirado a calamidade, tanto por problemas de visão como por erros de interpretação.
Alguns árbitros, mesmo muito bem colocados e próximos ao lance simplesmente não conseguem ver toques de mão na bola ou pênaltis claríssimos ou veem irregularidades em lances normais; por outro lado, a falta de critério e a falta de diálogo entre o árbitro e os seus assistentes continuam gerando situações contraditórias que acabam deixando todo mundo descontente.
Se isto não envolvesse diretamente os quatro primeiros colocados talvez não fosse tão flagrantemente notado, posto que estes erros vêm infelizmente se constituindo num fato corriqueiro no nosso futebol. A arbitragem brasileira é cronicamente péssima e parece que não há jeito de ser consertada.
Assim, palmeirenses, flamenguistas, atleticanos e santistas estão pondo a boca no trombone e se acusando uns aos outros de estarem sendo beneficiados, e os presidentes destas agremiações têm vindo a público desfiar as suas teorias da conspiração.
Alguns pedem a anulação de partidas, outros pedem que determinados árbitros não sejam mais escalados, outros suspeitam de que resultados tenham sido armados na Comissão de Arbitragem, mas todos se esquecem que ao longo destas trinta e uma rodadas já disputadas eles também já tiveram uma mãozinha da arbitragem em seu benefício.
Em outros países, quando investigadas com rigor, situações como estas geraram sérias consequências que inclusive levaram muita gente pra cadeia pela constatação de que resultados eram fabricados por esquemas que incluíam o envolvimento de loterias e outros babados.
Tudo leva a crer que o que acontece no Brasil não chegue a tanto, mas nada impede que seja levada adiante uma investigação séria e que seja feito um processo de capacitação rigoroso para que a Comissão de Arbitragem se certifique da competência de cada um dos seus representantes.
Foi por causa da falta dessa competência que Meira Ricci, um árbitro useiro e vezeiro em criar problemas nas partidas em que apita, leva o Campeonato Brasileiro a este infeliz impasse bem no momento em que recrudescia a luta entre Palmeiras e Flamengo pela liderança.
Por causa disso, o campeonato corre o risco de se transformar numa novela cheia de recursos jurídicos e talvez possa encerrar o ano sem um campeão dentro do campo.
Há exatos onze anos, o Campeonato de 2005 foi conturbado por denúncias contra o árbitro Edilson Pereira de Carvalho que, pressionado, declarou ter recebido dinheiro para fabricar certos resultados. Por esse motivo o STJD cancelou diversas partidas, invertendo profundamente a pontuação da tabela e desequilibrando o certame, que culminou dando o título ao Corinthians.
O engraçado é que apesar de Edilson ter confessado ser um ladrão, nenhuma das partidas apitadas por ele sofreu de fato alguma distorção nos resultados, de modo que o Tribunal acabou forçando a barra indevidamente.



(Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 21/10/2016)