sexta-feira, 22 de junho de 2018





PONTA-PÉ INICIAL
A HISTÓRIA DO FUTEBOL

PARTE 3 - O FUTEBOL NOS SÉCULOS DEZENOVE E VINTE

No ano de 1888 foi fundada na Inglaterra a primeira liga de futebol.
Esta Liga, chamada de “First Division” (Primeira Divisão) era composta por doze clubes, os melhores do país, que jogavam duas vezes entre si a cada temporada. Obedecendo ao mesmo critério, outras Ligas menores foram também fundadas.
No final do século 19, algumas modificações importantes foram introduzidas no futebol.
As redes das metas foram usadas pela primeira vez em 1890, e em 1891 as penalidades passaram a ser cobradas nos moldes de hoje (mas foi apenas em 1905 que o goleiro foi obrigado a permanecer debaixo das traves quando da sua cobrança).
Até 1894 apenas um árbitro era utilizado para conduzir as partidas. A partir daí ele passou a ter dois auxiliares – batizados de “linesmen” (no Brasil “bandeirinhas”), agora chamados árbitros assistentes – para ajudá-lo.
Em 1898, o número de regras oficiais passou a ser dezessete.
Apesar de algumas daquelas regras terem sido alteradas com o passar do tempo – elas foram “modernizadas” em 1938 e continuam sendo revisadas de tempos em tempos – o seu número permaneceu o mesmo.
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NT8 – Algumas situações comuns em jogos não fazem parte das regras, como por exemplo a formação da barreira quando da cobrança de faltas – o que a regra estabelece é que o jogador adversário tem que manter uma distância mínima de 9,14 metros da bola).
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NT9  - Uma série de mudanças entraram em vigor em 2016, referentes à “paradinha” na cobranças de pênaltis, aplicação de cartões, parada técnica, cobrança de arremesso lateral, etc., mas nenhuma delas foi objeto de uma regra específica).
 
Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), todos os times da First Division pertenciam a clubes do norte ou da parte central da Inglaterra. Depois da guerra, alguns times de Londres – Arsenal, Chelsea, Fulham e Tottenham – passaram a fazer parte da Divisão.
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O futebol começou de repente a ser jogado em muitos países. O jogo estava se tornando cada vez mais popular com aficionados na Inglaterra e também na Escócia. Os torcedores eram fiéis aos seus clubes e assistiam aos jogos todas as semanas.
Inicialmente, os torcedores não tinham condições de viajar para ver jogos em cidades distantes, mas mesmo assim eles assistiam a um jogo por semana. Em uma semana eles acompanhavam o time principal e na semana seguinte assistiam ao time reserva. Devido ao fato de a cada dia mais e mais torcedores se interessarem pelos jogos, os clubes mais importantes começaram a construir estádios para melhorar a acomodação das pessoas.
Os primeiros estádios foram construídos nos locais onde a maioria dos torcedores moravam, assim eles ficavam próximos às suas residências e da área comercial da cidade. Como os torcedores começaram a pagar ingresso para ver o jogo, os estádios foram então cercados por muros e portões. Às vezes os estádios abrigavam outros tipos de jogos, mas a maioria deles era usada apenas para o futebol.
Os clubes queriam agregar o maior número de torcedores possível para assistir aos seus jogos, então eles construíram arquibancadas de madeira para que os assistentes pudessem se acomodar em fileiras.
Como os torcedores gostavam de comer e beber nos intervalos das partidas, os clubes passaram a vender lanches e bebidas nos estádios.
A Escócia levou alguma vantagem sobre a Inglaterra no que diz respeito à construção dos estádios. O Rangers construiu o seu estádio em Ibrox, Glasgow, em 1887 e o Celtic, seu rival na cidade, construiu o seu em 1892.
Este foi também o ano em que foi construído o primeiro estádio na Inglaterra com a finalidade específica de abrigar somente partidas de futebol. Este estádio foi construído em Goodison Park, na cidade de Liverpool, e era a casa do Everton Football Club. O estádio era cercado por arquibancadas altas nos quatro lados do campo.
Com o passar do tempo cada clube importante tinha o seu próprio estádio, que estava sempre lotado de torcedores. Mas havia também lugar para os torcedores de outros times que vinham de outras cidades.
Atualmente o número de torcedores que pretendem comprar ingresso para assistir a jogos dos seus times em outros estádios é limitado. Para jogos da “Premier League” (Campeonato Inglês) o total de ingressos à disposição dos torcedores dos times visitantes é de apenas cinco por cento da capacidade do estádio. Para os jogos da Copa da Inglaterra ou para jogos internacionais, a quantidade aumenta para quinze por cento.
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NT10 – Dependendo da importância do jogo, que pode ser de âmbito nacional ou internacional, os clubes fazem um acordo sobre a quantidade de ingressos que serão colocados à disposição dos visitantes).
 
Os torcedores visitantes devem sentar-se em um local determinado para evitar discussões e contendas entre eles e torcedores do time da casa; assim, os visitantes se sentem livres para cantar e torcer à vontade.
Até 1927 apenas os torcedores que estavam assistindo ao jogo no estádio sabiam o que estava acontecendo lá dentro. Mas no dia 22 de janeiro desse mesmo ano a emissora BBC transmitiu o seu primeiro jogo pelo rádio. O jogo reuniu as equipes do Arsenal e do Sheffield United e terminou empatado em 1 x 1. A partir daí os jogos da Football Association passaram a ser narrados e comentados pelas estações de rádio. 
Com isso, a cada dia mais e mais pessoas começaram a se interessar pelo futebol, e através dos comentários que descreviam o que acontecia no gramado eles passaram a entender melhor o jogo.   
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Existiam muitos jogadores britânicos de qualidade já na primeira metade do século 20, embora seja difícil compará-los com os craques atuais. Sua equipagem e a bola com as quais eles jogavam eram muito diferentes.
No passado, a bola era feita de couro, e muito mais pesada.

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NT11 - Os jogadores do passado usavam camisas grossas e pesadas, de algodão, que retinham o suor e fazia o jogador cansar mais rápido, ao passo que as camisetas modernas são fabricadas de um material sintético especial, mais leve e confortável, o que melhora o rendimento do atleta. Quanto à bola, no final do século 19 ela era feita de couro curtido com uma costura grosseira que machucava a testa do jogador que a cabeceasse. Esse era o modelo da bola trazida para o Brasil em 1894 por Charles Miller, que ajudou a disseminar a prática do futebol no país).
A bola utilizada atualmente é geralmente branca – algumas com detalhes pretos e coloridos – e não é feita de couro, mas de um material sintético. O material é cortado em formatos diferentes para formar uma esfera perfeita quando da montagem das peças.
A bola de hoje é muito leve, e os jogadores mais habilidosos podem fazê-la mudar de direção depois de chutada, ou fazê-la cair de repente, como fazem os craques batedores de faltas. Às vezes, durante o inverno europeu ou em partidas noturnas, a bola tem a cor amarela, porque esta cor é mais fácil de ser distinguida sob uma iluminação artificial.
As chuteiras também eram muito pesadas no passado, mas mesmo assim alguns jogadores conseguiam executar um bom número de fintas e dribles. Atualmente as chuteiras são bem menores e mais leves, pois não precisam mais proteger os tornozelos dos atletas. Estas chuteiras proporcionam ao jogador mais velocidade e habilidade, embora lhes dê menos proteção.
As chuteiras modernas são fabricadas em diferentes cores e modelos. Os fabricantes pagam aos jogadores famosos para que eles as usem, assim os torcedores também se sentem compelidos a comprar.
Os jogadores atuais têm as camisetas numeradas e com os seus nomes escritos nas costas, mas até 1930 a única forma que um torcedor tinha para identificar os jogadores era a posição que eles ocupavam no campo.
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NT12 - Outras formas que os torcedores e narradores esportivos tinham para identificar os jogadores, além da posição em que ele jogava, eram a compleição e aparência física, a cor dos cabelos e o estilo de jogar. Naquele tempo, os jogadores não se revezavam nem invertiam as suas posições em campo, o que tornava mais fácil a sua identificação).

Os times jogavam numa formação 2-3-5, e os jogadores não se movimentavam por todo o campo como acontece hoje. Também não havia substituições, nem para os jogadores contundidos.
Após a obrigatoriedade da numeração, os jogadores que atuavam numa determinada posição sempre usavam o mesmo número.
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NT13 - O sistema de jogo 2-3-5 significa dois zagueiros, três médios centrais e cinco atacantes, e a numeração ia de 1 a 11. Em 1958 foi permitida uma substituição, mas só em caso de lesão).
 O goleiro atuava na posição numero 1, e a partir de 1913 ele foi obrigado uma usar a camiseta com a cor diferente da cor dos demais companheiros.
O lateral direito jogava com a camiseta número 2, e daí por diante. Os torcedores podiam associar o número ao nome do jogador, baseado em um folheto que eles recebiam na entrada do estádio.
A numeração das camisas teve início em agosto de 1928, no confronto entre dois times londrinos, e logo os outros clubes começaram a copiar a ideia. A Football Association , porém, não gostou da novidade e rejeitou a medida durante algum tempo, até que em 1939 ela se rendeu aos fatos e concordou que os times podiam usar camisetas numeradas.
A temporada de 1939, no entanto, foi interrompida abruptamente por causa do início da Segunda Guerra Mundial e as camisas numeradas só voltariam a ser utilizadas na temporada de 1946-1947.
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NT14 – Em virtude do inverno rigoroso na Europa, os jogos de um campeonato são disputados de agosto de um ano a maio do ano seguinte).

Alguns jogadores britânicos famosos se tornaram conhecidos nas suas posições pelo número da camiseta. No entanto, se em uma determinada partida eles tivessem que jogar em outra posição eles tinham que usar uma camiseta com outra numeração.
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NT15 – Naquele tempo, a camiseta não “pertencia” ao jogador, mas sim à posição que ele ocupava no campo. Apesar de a numeração ter sido obrigatória desde 1939, este capítulo não está expresso em nenhuma das dezessete regras, o que possibilitou a sua posterior alteração, com o jogador mantendo a camisa com o “seu” número original).

A partir de 1965 os jogadores contundidos tiveram a permissão de ser substituídos, e os jogadores substitutos tinham as camisetas numeradas com números a partir de 12.
Posteriormente, para facilitar ainda mais as coisas, foram adicionados os nomes dos jogadores nas costas das camisas. As camisetas com número e nome foram usadas pela primeira vez numa partida entre Inglaterra e Suécia em 1992. Ao final da temporada 1992-1993, o novo sistema de identificação foi utilizado na final da League Cup (Copa da Liga Inglesa) entre Arsenal e Sheffield Wednesday.
Os torcedores evidentemente se interessaram em adquirir camisetas com o nome e número dos seus jogadores favoritos, e a partir de então a venda de camisetas passou a ser um negócio altamente rentável para os clubes.


segunda-feira, 18 de junho de 2018






PONTA-PÉ INICIAL
A HISTÓRIA DO FUTEBOL

PARTE 2 - COMO O FUTEBOL COMEÇOU NA INGLATERRA

Os romanos foram expulsos da Inglaterra no princípio do quinto século d.C., mas o jogo de futebol continuou a ser praticado no país.  
Com o passar do tempo, as partidas começaram a ser jogadas com a introdução de novas regras e com a participação de um número maior de pessoas. Na maioria das vezes, o jogo era apenas uma desculpa para os jovens de uma cidade ou vilarejo se engalfinharem com os de outras cidades, e os jogadores muitas vezes preferiam chutar uns aos outros em vez de chutar a bola. Isto acabou criando um problema para a prática do futebol porque ele se tornou um jogo violento e perigoso.
Em 1314, o prefeito de Londres proibiu a prática do futebol na cidade. Os reis da Inglaterra também não gostavam do jogo, pois preferiam que os homens praticassem arco e flecha nas suas horas de lazer. Afinal, tanto o arco quanto a flecha eram bastante necessários para matar soldados franceses na Guerra dos Cem Anos, ao passo que o futebol não tinha utilidade alguma.
Em 1555 o futebol foi proibido nas Universidades de Cambridge e Oxford, mas em 1581 o diretor de uma conceituada escola inglesa considerou que poderia haver alguma coisa de aproveitável nesse esporte. Ele acreditava que jogando com uma menor quantidade de jogadores, um árbitro mais rigoroso e a adoção de algumas regras o jogo poderia ser uma forma saudável de passar o tempo. Ele também poderia ensinar os garotos a praticar um esporte em conjunto e a aprender a acatar ordens.
Aproximadamente cem anos depois, um homem chamado Francis Willoughby escreveu o livro Book of Sports (Livro dos Esportes), no qual ele descrevia uma partida de futebol de uma forma muito parecida como acontece nos dias de hoje. Ele escreveu a respeito do campo e dos gols – ou metas – que eram defendidas pelos melhores jogadores. O objetivo principal era marcar o primeiro gol e não era permitido aos jogadores atingirem seus oponentes agressivamente.
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Os jovens continuavam jogando futebol, mas não havia muitos lugares onde eles podiam jogar porque o jogo havia sido banido das ruas. No entanto, os garotos ricos que frequentavam algumas das melhores escolas inglesas praticavam o futebol dentro dessas escolas.
Uma dessas escolas era chamada Rugby School, que tinha na sua propriedade muitos campos propícios para a prática do jogo, de modo que muitos garotos podiam disputar diversas partidas ao mesmo tempo.
Em 1823, um jogador da Rugby School apanhou a bola com as mãos e começou a correr com ela, e assim surgiu o “rugby football”(ou “rugger”). Naquela época era permitido que vários jogadores disputassem a posse de bola, inclusive dando caneladas e chutes nas panturrilhas dos adversários.
Outras escolas, como a Charterhouse School, não tinham campos muito abertos onde se pudesse praticar o “rugger”. Elas decidiram então que a bola não poderia ser carregada, e decidiram também que não seria mais permitido chutar o adversário, apenas a bola.
Alguns anos depois, alguns trabalhadores, a maioria deles provenientes do norte da Inglaterra, começaram a jogar esta forma original de futebol. Os homens que trabalhavam nas grandes fábricas gostavam de jogar com os amigos nas suas horas de descanso.
O primeiro clube de futebol do mundo foi formado na cidade de Sheffield, no nordeste da Inglaterra. O clube estabeleceu suas próprias regras, que foram chamadas as “Regras de Sheffield”. Outros clubes foram se formando, cada qual utilizando o seu próprio regulamento; logo, porém, todos começaram a concordar que as regras tinham que ser unificadas.
Em 1863, representantes das escolas e clubes de toda a Inglaterra se encontraram em uma taverna de Londres para discutir e entrar em acordo sobre as regras do futebol. Muitas questões foram analisadas: A bola poderia ser conduzida com as mãos ou não? Seria permitido agarrar o adversário? Depois de muita discussão, os homens que responderam “sim” a estas duas perguntas foram embora da taverna, pois o que eles queriam jogar não era o futebol, mas o “rugby”. (
NT7 – O rugby acabou originando um outro esporte, chamado de “American football ”, bastante semelhante na aparência, mas com regras bem diferentes. No “football”, por exemplo, os jogadores podiam avançar carregando a bola (que assim como no “rugby” não era esférica, mas oval). O “football” é largamente praticado nos Estados Unidos e no Canadá desde novembro de 1869, quando as Universidades de Rutgers e Princeton se enfrentaram pela primeira vez”).
 
Aqueles que permaneceram na taverna decidiram então começar um trabalho conjunto, e desta forma foi fundada a Football Association (Associação de Futebol), que passou a ser conhecida pela sigla FA.
Durante os meses seguintes a Football Association chegou a um acordo sobre quatorze regras. Foram também padronizados o peso e tamanho da bola e as dimensões do campo.
Apenas o goleiro tinha a permissão de tocar a bola com as mãos. Chutar o adversário – ao invés da bola – também não era permitido, assim como não era permitido derrubá-lo. Os jogadores também não podiam usar as mãos para empurrar ou segurar seus oponentes. (Alguns jogadores de hoje em dia deveriam sempre se lembrar destas últimas três regras!)
Logo o futebol começou a ser chamado de “soccer”, vocábulo originário da palavra “association”.
O mais importante de tudo isso é que a partir de então o jogo poderia ser praticado da mesma forma em qualquer parte do país.

domingo, 17 de junho de 2018





PONTA-PÉ INICIAL
A HISTÓRIA DO FUTEBOL

PRÓLOGO
Esta é uma tradução não autorizada do livro “KICK-OFF! – THE STORY OF FOOTBALL”, feita por Augusto Pellegrini. O livro, voltado para aqueles que se interessam pelas curiosidades que cercam o futebol, foi escrito por Patrick Adams e editado por John Milne através da Editora MacMillan Readers. Conforme resume a contracapa, “A história do futebol é um jogo por si só interessante e empolgante. Neste livro da MacMillan Readers, Patrick Adams descreve os primórdios do futebol na América do Sul e na América Central e a sua chegada às ruas da Inglaterra do século 19. A história termina com a utilização de estádios monumentais, a realização de altos negócios e a projeção de jogadores que custam muitos milhões de libras”.
O leitor tomará conhecimento da história deste esporte que atrai pessoas de todas as partes do mundo vista pelos olhos de quem nasceu na terra onde o futebol se organizou e se profissionalizou. 

NOTA DO TRADUTOR
Este livro foi publicado em 2010, havendo portanto uma defasagem de oito anos entre o seu lançamento e esta versão traduzida, completada em 2018. Desta forma, apesar de alguns fatos ou nomes já não mais fazerem parte da atualidade do futebol ou apesar da omissão de fatos e nomes que se consolidaram depois de o livro ser escrito, o tradutor procura manter a fidelidade do original, dando-se o direito de, vez por outra, fazer observações precedidas pelo termo “NT” (Nota do Tradutor) a fim de esclarecer alguma situação, incluir algum dado relevante, ajudar a compreensão do leitor mais exigente ou até fazer alguma correção oportuna. O livro de Patrick Adams procura abranger todos os aspectos técnicos e históricos do futebol, inclusive naquilo que diz respeito ao glossário futebolístico e a uma relação de jovens jogadores que eventualmente seriam os futuros astros mundiais (na sua concepção de 2010) através de notas inseridas no final do texto. A sua exposição é às vezes um tanto professoral e sem muita profundidade, pois o livro foi primordialmente escrito para pré-adolescentes e jovens que estudam a língua inglesa, não se tratando, portanto, de um trabalho acadêmico, o que afinal facilita a sua leitura, por simples e direta que é. Na sua explanação, Adams se preocupa em ser bastante didático, e às vezes trata o leitor como se este fosse um leigo absoluto que precisasse entender toda e qualquer explicação sobre o futebol por mais simplória que pareça, provavelmente se esquecendo de que a maioria das pessoas interessadas em ler o seu livro já devem possuir alguma intimidade com a matéria. De qualquer forma, porém, o livro passa algumas informações curiosas e interessantes, e é importante, para os não-ingleses, ver como a história e os fatos do futebol são contados através da ótica de um nativo inglês, bem como conhecer a sua visão sobre alguns detalhes que para nós podem ter passado despercebidos ou seriam considerados desimportantes. Isto posto, vamos iniciar nossa viagem através do tempo e do esporte, tentando manter o estilo e a mensagem do escritor com a maior fidelidade possível.


PARTE 1 - OS PRIMÓRDIOS
Os jogos com bola têm uma longa história a ser contada. Esta história teve a participação de jovens, homens ou mulheres, durante milhares de anos.
Os jogos mais antigos de que se têm notícia foram praticados no México há pelo menos três mil anos. Mais tarde, outros jogos com regras próprias também fizeram parte da cultura dos antigos povos Olmeco e Asteca. (
NT1- Os Olmecos eram povos de uma civilização pré-colombiana de uma região chamada Mesoamérica, que se desenvolveu nas áreas tropicais do centro-sul do atual México no período entre 1500 a 400 a.C. Os Astecas são mais recentes, com uma civilização e cultura que vai de 1325 a 1521 d.C, quando foram aniquilados pelos conquistadores espanhóis. O autor não menciona os Maias, mas é de se supor que o futebol também tenha sido praticado por esta civilização que habitou as terras mexicanas antes da dominação Asteca).

Não se conhece muito sobre estes jogos devido à dificuldade em se entender e decifrar os documentos que foram escritos a seu respeito. Mas sabe-se que, de certa forma, eles eram bastante similares ao jogo de futebol praticado hoje em dia.
As partidas eram disputadas num terreno específico, denominado de “o campo”.
Os espectadores – homens, mulheres e crianças que assistiam aos jogos – ficavam em uma plataforma tipo arquibancada e muitas vezes apostavam ouro, escravos e casas sobre o resultado do jogo. Os fãs também podiam adquirir miniaturas dos jogadores (
NT2 - Este trecho foi traduzido literalmente, cabendo ao leitor imaginar o que seriam as “miniaturas” de jogadores produzidas numa época tão distante).

Estes primeiros jogos de bola eram disputados por dois times com sete jogadores de cada lado. Os jogadores eram homens que haviam sido capturados em guerras e mantidos como prisioneiros, e a partida era jogada com uma bola feita de uma borracha preta que provavelmente pesava entre cinco e seis quilos. A bola tinha que ser mantida no ar – não era permitido que ela tocasse o chão.
Mas os jogadores não chutavam a bola com os pés. Eles se utilizavam dos quadris, joelhos e braços para mantê-la no ar e usavam um tipo de almofada para se proteger.
Os jogadores tentavam assinalar um “gol” fazendo a bola passar por um dos dois anéis de pedra colocados sobre as arquibancadas. Talvez o jogo terminasse com esse gol, mas não se tem certeza disso. Sabe-se, porém, que em algumas partidas aquele que fizesse o gol ganhava ouro e roupas finas.
Não se sabe quanto tempo durava uma partida, mas sabemos que elas terminavam de uma maneira terrível, de forma que os jogadores procuravam seguir jogando pelo maior tempo possível. A disputa não se limitava a ganhar um troféu, ouro ou roupas. Vencer era uma questão de vida ou morte porque fazia parte de um ritual religioso. Cada partida terminava com um sacrifício ordenado por um sacerdote.
Quando a bola caísse no chão, o capitão do time perdedor tinha sua cabeça cortada e seu coração arrancado! Às vezes, todos os jogadores do time perdedor eram sacrificados. E os fãs iam à loucura.
Após os jogos, todos comiam e bebiam à farta.
Este tipo de jogo ainda era praticado na América do Sul quando os espanhóis lá chegaram em 1519. Os soldados levaram um time para a Espanha, mas lá o jogo logo seria proibido por não ser aprovado pela Igreja.
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Alguns escritos chineses datados de 50 a.C. descrevem algumas partidas de futebol disputadas entre China e Japão. Os times utilizavam uma bola de couro que era preenchida com cabelo. Os jogadores podiam utilizar as costas, o peito e os ombros, assim como os pés, mas não podiam usar as mãos. Eles deviam ser muito habilidosos, pois aprenderam a executar fintas e jogadas de efeito de forma similar ao que se faz hoje em dia. (NT3 – A história também registra a prática, na China, por volta de 3000 a.C., de um exercício chamado tsu chu, onde os soldados treinavam chutar uma bola lançada para o alto a fim de aperfeiçoar o golpe de chutar a cabeça dos inimigos. Os estudiosos consideram esta prática uma das origens das artes marciais, não do futebol ). 

Existe também um jogo japonês, chamado kemari, que é igualmente muito antigo, mas até hoje praticado. Ele não é competitivo e não existem times. Os jogadores se posicionam em um círculo e passam a bola entre eles, devendo mantê-la no ar durante o maior tempo possível.   
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Alguns registros mostram que os antigos gregos também praticavam uma espécie de futebol cerca de 2000 a.C. Existiam dois times, e a bola podia ser tanto chutada como lançada com as mãos. A bola era feita de uma bexiga de porco inflada e coberta com couro. (NT4 - O jogo se chamava episkiros e cada equipe atuava com nove jogadores num campo retangular).
 
Os gregos não precisavam se preocupar em sujar os uniformes porque os jogadores, fossem homens ou mulheres, não usavam nenhum tipo de roupa! (
NT5 – De acordo com registros históricos e comentários referentes aos Jogos Olímpicos da antiguidade, os gregos praticavam não apenas este tipo de futebol, mas também todos os demais esportes completamente nus).

Algum tempo depois, na Itália, os rapazes praticavam nas ruas de Roma um jogo semelhante ao futebol, chamado harpastum – “o pequeno jogo de bola”.
Os soldados romanos gostavam de praticar este jogo, pois isto os deixava em boa forma física. Eles jogavam em um campo retangular, com uma linha demarcando as duas metades. Apenas o jogador que estivesse de posse da bola podia ser combatido, e os fãs gritavam e torciam como o fazem nos dias de hoje – “A bola foi longa demais! A bola foi curta demais! Devolva a bola!”.
Quando os romanos invadiram a Bretanha no primeiro século d.C. eles começaram a praticar este jogo lá também. Não se sabe como os jogadores anotavam os tentos, mas existe um registro de um jogo onde os romanos venceram – Itália 3 x 1 Inglaterra – por exemplo... (
NT6 – Durante a Idade Média, época transcorrida entre os séculos V e XV, os italianos praticavam um esporte com bola que eles chamavam de “gioco del cálcio”. O esporte era praticado em praças ao invés de campos retangulares e cada time tinha 27 jogadores, que tinham que levar a bola até dois postes que ficavam em lados opostos da praça. Em virtude disso, o futebol na Itália nos dias de hoje ainda é chamado decálcio”).