sábado, 8 de setembro de 2018





IMPRESSÕES COLHIDAS NO INFERNO
(excerto)

Dante se aproximou da minha porta. Veio devagar, arrastado, sem vontade.
Veio como se estivesse partindo.
A rigor, Dante estava sempre partindo, e “ritornare” não era verbo do seu uso diário, exceto quando se tratava da minha casa.
Dante dava a impressão quitinosa de um besouro, feio, frio e indeciso.
Tinha ele algum dia chegado a chegar? Tinha ele visto uma aurora sem chuva? Tinha ele algum dia visto o sol, tinha ele algum dia saído do fundo do seu bolso junto com o resto de fumo moído e o feltro esparso?
Tinha ele algum dia visto a própria imagem refletida em um espelho ou era simplesmente um espectro como muitos, um objeto sem consistência, um fluido?
Mais uma vez Dante se aproximou da minha porta.
Mesmo que eu não o visse, sentiria o odor forte de maresia e ouviria o ranger de suas dobradiças mal lubrificadas.
Veio devagar, arrastado, sem vontade. Veio como se estivesse partindo.
Dante – a quem o cão fiel decepou uma das mãos numa mordida de satisfação, a quem eu volto minha atenção com o hálito fortemente digestivo.
Saiu pela cidade cavoucando bueiros entupidos por detritos negros onde Beatriz poderia estar escondida, esticando o pescoço para dentro de bares suspeitos onde Bestriz poderia estar escondida, mas jamais olhou para um espelho e nele viu seus próprios olhos emaciados onde Beatriz estava realmente escondida diafanamente nua, mergulhada na esclerótica, fantasiando a sua visão.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018





A VERDADE E A  MENTIRA

A mentira tem olhos azuis e um rosto angelical
Tem gestos que nos seduz e uma beleza sem par

A verdade, nua e crua, tem a cara bem fechada
Não inventa ou insinua nem tenta ser engraçada

Da mentira todos gostam, porque a verdade espanta
E pouca gente se importa se na verdade ela adianta

A verdade às vezes choca, mas a mentira alivia
Vive-se uma vida torta nesta espúria companhia

A mentira serve, às vezes, pra que outros sejam felizes
Ninguém gosta de reveses e nem aceita deslizes

A verdade às vezes dói, mentira tem perna curta
Vale a pena ser sincero ou mentir por causa justa?

Por outro lado, a mentira provoca a infelicidade
Quando mentimos a alguém com preconceito e maldade

Enquanto isso, a verdade, por mais amarga que seja
Busca por felicidade, por ser fruta benfazeja

Com os fatos distorcidos, a coisa vai, volta e vira
E nos deixa convencidos que este mundo é uma mentira

Enquanto a mentira berra, a verdade só sussurra
E o recado que isto encerra se ouve, mas não se escuta

Portanto, mesmo a mentira sendo coisa corriqueira
Devemos ser verdadeiros, não importa em qual maneira
Construindo um mundo honesto sem trapaça ou bandalheira
Tendo a decência como alvo e boa-fé como bandeira

2018






terça-feira, 4 de setembro de 2018




O MEU CONDADO

As ruas do meu condado
Têm calçamento de pedra
Em cujos espaços medra
Verde musgo alcatifado

O chão está preservado
Pela ausência de passantes
E quem aqui viveu antes
Não deixou qualquer legado

É uma cidade fantasma
Casas poucas, malcuidadas
Com paredes descascadas
Como um presépio sem alma

Das janelas pendem flores
Protegidas pelo tempo
Da ação do inclemente vento
Do sol e outros dissabores

Os homens que aqui viveram
Em tempos imemoriais
De muitos anos atrás
Não honraram seus herdeiros

Não deixaram coisa alguma
Móveis, qualquer utensílio
Passado de pai pra filho
Ou seja, herança nenhuma

A morada tem, de fato
A natureza como abrigo
Onde a escuridão amiga
Protege insetos e ratos

Mas no meio do vazio
Onde a solidão impera
Tudo é sempre primavera
E flores há, sem plantio

Silêncio é música ouvida
De sons ao sabor do vento
Que sopra a todo momento
Na paisagem combalida

Este é o meu condado
E dos meus antepassados
Que não tiveram o cuidado
De deixar qualquer legado

2018






INTERESTING FIGURES ABOUT THE ENGLISH LANGUAGE


(World Population in 2017 = +/- 7,6 billion)

500 MILLION SPEAKERS ARE NATIVE (USA, United Kingdom, Canada, Australia, Ireland and New Zealand)

TWO BILLION SPEAKERS ARE NONNATIVE (use English as a second language in 55 countries – Jamaica, Nigeria, South Africa, etc.) - and 27 State Entities (Puerto Rico, Hong Kong, etc.)

TWO BILLION PEOPLE ARE ENGLISH USERS (in many places excluding natives and second language speakers)

EIGHT HUNDRED MILLION PEOPLE SPEAK ENGLISH  IN 10 COUNTRIES, IN THIS ORDER - US, India, Pakistan, Nigeria, Philippines, UK, Germany, Bangladesh, Egypt and Canada. 

(it means that more than 50% of the planet speaks or makes use of English)

AT LOCAL PLACES (US, UK, ETC.) WE FIND FEW, BUT RELEVANT MISPRONUNCIATION (EX. Thank you, New York, library, nice, yesterday, etc. )

AT INTERNATIONAL PLACES (FRANCE, BRAZIL, ETC.) WE FIND MORE MISPRONUNCIATION (EX. Restaurant, mirror, etc.)

76% OF THE PEOPLE HAVE VISUAL CONTACT WITH THE IDIOM (Signs, billboards, subtitles, computer language, etc.)

24 % OF THE PEOPLE HAVE AUDIO CONTACT WITH THE IDIOM (Music, cable TV, etc.)

80% OF THE NET INFORMATION AND NAVIGATION IS IN ENGLISH

56% OF SITES ARE WRITTEN IN ENGLISH

60% OF THE WORLD BUSINESS AND TRADE IN DONE IN ENGLISH (AGAINST 12% OF SPANISH AND ONLY 28 % IN LOCAL LANGUAGES)

TEENS LISTEN TO ENGLISH 4/6 HOURS A DAY




segunda-feira, 3 de setembro de 2018





A CORDA
(excerto)

A corda.
A corda balança como se na outra extremidade habitasse um cadáver. Um fio de prumo no prumo, dependurado, fixado lá no alto do prédio, passando em frente da janela que é só vidro, no décimo-primeiro andar, altura suficiente para o homem sentir as sensações de Ícaro, projetar-se nos ares, voar sem asas.
Eis a corda.
A corda balança ao sabor do vento e bate na parede corrugada de concreto ao lado do fio do telefone e do para-raios prendidos com grampos.
A corda está arrebentada, criminosamente arrebentada na altura do décimo-primeiro andar, mas puxada para baixo pelo peso do morto enquanto vivo agora prende frouxa até o nono.
E o andaime, lá em baixo, aos pedaços.




SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 23/06/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

SATYA - SEVEN BLUE SEAS   

Satya é uma palavra em sânscrito que pode ser traduzida como "verdade" ou "o que é correto", e por isso é largamente utilizada na Índia em movimentos que envolvam paz, meio-ambiente e justiça social. Satya é também o nome de uma cantora e compositora indiana que no seu primeiro álbum conseguiu juntar três idiomas que fizeram parte da civilização de Bombaim, sua cidade natal - o indiano, o inglês e o português, fazendo uso do "scat-singing" em contraposição com uma base de saxofones, flauta e piano elétrico. Na sua primeira visita ao Brasil, Satya se encantou com a música brasileira, a qual adaptou à forma e à atmosfera da música do seu país, possibilitando arranjos incríveis que variam do etéreo ao rítmico, do balanço ocidental à harmonização oriental, com a parceria do produtor, compositor e guitarrista americano Scott Anderson. Assim, as cidades do Rio, Nova York e Bombaim navegam neste disco através dos mares azuis - "Seven Blue Seas" que as separam. No repertório músicas de autoria de Satya, Scott Anderson, Lo Borges, e a incrível "Ponteio", de Edu Lobo.


Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini