A LAVA-JATO CHEGA AOS
ESTÁDIOS
Durante
os últimos dez anos muito se especulou sobre a falta de lisura que teria conduzido
a realização dos Jogos Pan-Americanos, da Copa do Mundo e da Olimpíada no
Brasil.
Havia
uma desconfiança generalizada principalmente no tocante à execução de obras
públicas e dos chamados entornos, com custo bancado ou financiado pelos governos
e prefeituras.
Sabe-se
que o Pan 2007 gerou um déficit superior a R$23 milhões, embora exista a
desculpa que não se tratava de verba pública, pois o COB – Comitê Olímpico
Brasileiro admitiu ter sido seu o prejuízo. No caso, no entanto, a prefeitura e
o governo também têm parte no déficit por causa de malsucedidas parcerias
público-privadas que não deram certo.
A
Olimpíada custou a bagatela de R$40 bilhões, mas talvez por ter sido tão
recente ainda não foi iniciada nenhuma investigação mais profunda sobre o
gerenciamento do dinheiro.
A
Copa do Mundo, porém, já é objeto de uma investigação que busca saber entre
outras coisas como foram efetivamente utilizados os R$8,3 bilhões na construção
ou reforma dos estádios, pois afinal o poder público bancou 97% das despesas.
Finalmente
está sendo levantado o pano preto que escondia toda a patifaria engendrada por
políticos, empresários e dirigentes esportivos para desviar milhões dos cofres
públicos usando como pretexto a realização da Copa.
De
norte a sul, todos os estádios construídos ou reformados para o torneio estão
sob suspeição de escândalo, e aos poucos a caixa preta vai sendo aberta, mostrando
detalhes dos artifícios utilizados para o enriquecimento ilícito de centenas de
larápios.
Nos
últimos tempos, todos os negócios que envolvem obras licitadas pelo poder
público ou que tenha a sua participação por meio de aval,
consórcio, empréstimo oficial ou interferência do governo em todos os níveis
são objeto de desconfiança pública.
A
roubalheira atingiu a tal ponto que os ladrões perderam a vergonha e agem
praticamente às claras, na expectativa de que tudo passe em brancas nuvens.
As
nuvens, no entanto, já ficaram escuras e prenunciam chuvas e trovoadas.
Qualquer
análise mais ou menos profunda sobre a necessidade, o custo e a qualidade das
obras já deixa evidente que existia algo de muito podre na história.
A
começar pelo Maracanã, que foi totalmente desfigurado e literalmente posto
abaixo para a construção de um outro estádio sem que fosse preciso. Ajustes
pontuais seriam mais do que suficientes para dar à “arena” as condições de uso
exigidas pela Fifa. O Tribunal de Contas vê superfaturamento na reforma do
estádio e o Ministério Público quer a devolução de 200 milhões de reais, que
escorregaram para o bolso de muita gente do governo e fora dele.
Em
São Paulo, o chamado “Itaquerão” também está sendo devidamente investigado. A
exemplo do Maracanã fica evidente a inutilidade da sua construção, pois com
pouco mais de 25% do que foi gasto o Morumbi, já existente, estaria
perfeitamente adequado aos chamados “padrões Fifa”.
Aqui,
porém, o tiro pode ter saído pela culatra, pois o Corinthians, beneficiado pela
obra, está agora endividado até o pescoço e terá que desembolsar R$3 milhões
por mês durante os próximos vinte anos (um verdadeiro presente de grego nascido
de um acordo costurado pelo então presidente da República, levando a crer que o
clube daria um jeito de passar o calote).
É
escusado a gente passar a peneira fina sobre os outros doze estádios.
Todos
têm o mesmo problema de superfaturamento e estão sendo investigados. Alguns
deles se prestaram a servir de palco a uns poucos jogos e agora se encontram à
mercê de uma manutenção cara e inexistente, pois são localizados em centros
onde o futebol é pouco desenvolvido.
Já
estava mesmo na hora da Operação Lava-Jato passar o futebol a limpo.
Há
muita água suja correndo pela canalização do esporte brasileiro.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 17/03/2017)