sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019






O CONTADOR DE HISTÓRIAS
(excerto)

          Quem desce a Rua da Misericórdia tem a impressão de que está se dirigindo ao fundo de um poço. Lá em baixo, mesmo quando brilha o sol, a luz parece não chegar com intensidade nem irradiar o seu calor.
          Muitas pessoas vão à praça quase todos os dias, vindas de diversos lugares, e descem os duzentos metros de rampa em direção à casa de numero 341, um pequeno sobrado com pintura verde descascada em frente a um calçamento cheio de trincas, por onde crescem ervas rasteiras que formam figuras irregulares, mas mesmo assim bastante agradáveis de se ver. Essas pessoas peregrinam com a intenção de consultar um mago, e têm na mente a fantasia e a esperança de resolver as suas dores da alma.
          Na casa, ao lado da porta e de uma janela que está sempre fechada, há uma placa que serve de chamariz e indicativo a tantos visitantes – PROFESSOR GALBA – e em letras menores – QUALQUER QUE SEJA O SEU PROBLEMA, ELE SERÁ RESOLVIDO.
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          Certo dia surgiu no consultório um homem estranho que não quis preencher ficha nem declinar qual seria o seu problema, apenas se identificou como Inspetor Ramalho.
          O professor ficou impressionado com o porte do indivíduo: meia idade, altura avantajada, ombros largos, má catadura, calvo da testa até o alto da cabeça, mas com cabelos desordenados nas laterais, chegando mesmo a cobrir as orelhas. Trajava um casaco escuro por cima de uma camisa xadrez, o que lhe conferia um aspecto de lenhador, não fosse o corpo magro e esguio, embora espadaúdo.
          O Inspetor foi direto ao ponto: na próxima semana iria trazer uma pessoa para ser consultada, e esta pessoa, no menor prazo possível deveria ser estimulada a cometer suicídio. Para tanto, o professor receberia uma alta quantia, que seria paga depois que o cidadão partisse desta para melhor.
          Caso se negasse a atender ao pedido, o professor seria preso por prática ilegal da profissão e sua vida se transformaria num inferno, correndo mesmo o risco de perdê-la numa das esquinas tortuosas da cidade (e fez um gesto assustador com a mão, cortando o ar com energia – zás – como se estivesse rasgando uma garganta).
          Olhou fixamente nos olhos do assustado professor e deu um aviso: “Você não conseguirá me localizar nem adianta fazer qualquer denúncia à polícia, pedindo proteção. Eu sou a polícia”.
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          Num final de tarde, o sombrio Inspetor apareceu no consultório na companhia de um homem rechonchudo e de faces coradas como um bebê premiado, um tipo que simplesmente ama a vida e a quem nada poderia causar desespero ou a busca de soluções extremas, exatamente o oposto do que se espera de um suicida.
          O professor Galba chamou o Inspetor para a sua sala, pois precisava conversar sobre alguns detalhes que no seu dizer facilitariam a empreitada.
          Sentaram-se frente a frente e o professor ofereceu um vinho do Porto para aquecer a conversa e facilitar o diálogo. O Inspetor concordou de bom grado em tomar alguns goles e o professor apanhou a garrafa, serviu os dois cálices e começou uma peroração que indicava ao policial que tudo estava sob controle e que o plano seria cumprido sem maiores dificuldades.
          O Inspetor sorveu o vinho de uma talagada só, mostrando apreciação pela qualidade da bebida e pela cumplicidade do professor, e decidiu tomar mais uma dose, desta vez civilizadamente, enquanto o plano de execução da ideia era explicado em detalhes através de uma bem elaborada história.
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          Dez dias depois, os jornais da cidade falavam com estardalhaço sobre um corpo encontrado debaixo da ponte, ao lado sul do porto. A cidade, normalmente tranquila, estava alvoroçada, pois raramente servia de modelo para manchetes deste tipo.
          O cadáver encontrado era magro e calvo, e apresentava um profundo talho na garganta, mas os exames de praxe mostraram que a vítima havia sido envenenada por cianureto, provavelmente ingerido com vinho do Porto.
          A vítima era um policial aposentado chamado João Madeira, que já fora também conhecido por Rebouças, Trancoso e Ramalho e que atualmente vivia de pequenos expedientes.
          As coisas no número 341 da Rua da Misericórdia continuaram funcionando normalmente.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019







NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

FLEXITARIAN

You’ve got a problem: your friend who is coming to dinner is a strict vegetarian, and your parents-in-law will be expecting to eat meat. How much easier life would be if your friend were a FLEXITARIAN, prepared to eat a little meat or fish for the evening just to make life simpler for you.

“FLEXITARIANS adhere mostly to the vegetarian diet as a healthy lifestyle rather than following an ideology. They feel an occasional meal that includes fish, fowl or meat is acceptable.” (Los Angeles Times, 8th June 2004)

TRADUÇÃO

Você está com um problema: seu amigo que vem para o jantar é estritamente vegetariano, e os seus sogros gostariam de comer carne. A sua vida seria bem mais fácil se seu amigo fosse um VEGETARIANO FLEXÍVEL, preparado para comer um pouco de carne ou peixe no jantar pelo menos para tornar as coisas mais fáceis para você.     
“Os VEGETARIANOS FLEXÍVEIS de uma forma geral são adeptos do vegetarianismo não por ideologia, mas por se tratar de um modo de vida mais saudável. Eles consideram aceitável ocasionalmente comer peixe, aves ou carne”.