O ANJO TORTO
(Excerto II)
Um dia, afinal, eles se
encontraram. Um representava o bem, o outro representava o mal.
Estava evidente que
Fausto, a força maligna vinda do além, seria um desafio invencível.
Roderick bem que entendeu a
dificuldade da contenda e a intensidade do poder que emanava de seu adversário
quando quando cruzou seu olhar guerreiro com o olhar calculista e debochado do
rival. Mesmo assim, respirou fundo e iniciou uma verdadeira cruzada, a batalha
entre o bem e o mal, a luta pelo resgate do coração da heroína cuja mente
estava aprisionada pelo dragão.
Lindaura, que a tudo assistia,
entendeu que algo terrível estava para acontecer com Roderick, mas se sentia
impotente para fazer qualquer coisa, sequer um apelo, ante o deslumbramento
causado por Fausto, uma alma cheia de ventosas com a aparência de um querubim.
Fausto esgrimia com
palavras, dono de uma habilidade verbal incomum, e discorria sobre os sublimes
mistérios desta vida como se fosse um velho sábio, ante o olhar dourado de
Lindaura e o cenho inquisidor de Roderick, manejando com graça e destreza seu
florete imaginário, e transformando Roderick em simplesmente um anti-herói sem
expressão.
Fausto passava a limpo
toda a filosofia que se espalha entre os céus e a terra – passado, presente e
futuro – e Roderick enfrentava uma batalha desigual, pois se tratava da luta
entre entre o humano e o imortal, entre o racional e o imponderável, entre o
anjo salvador e o espírito daninho. De um lado a verdade e a coragem, do outro
lado a esperteza e a força a maldade.
Quem fosse dotado de dons
extraordinários poderia perceber relâmpagos e trovões fazendo fundo aos dois
lutadores.
No final da batalha, Fausto
exibia o seu sorriso vitorioso.
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Depois de cumprir com sua
missão diabólica, Fausto retornará às suas origens.
Na noite desse dia, uma
luz amarelada riscará o céu em direção ao infinito, e só então Lindaura vai
acordar do seu sonho e se lembrar de Roderick.
Fausto não mais habitará o
seu mundo, pois partiu ao encalço de novas aventuras.
O vento da noite vai
soprar assustador e uivar por entre as ramas malucas dos chorões ensandecidos,
o odor de maresia se misturando com o cheiro acre de materiais em decomposição.
Fausto estará retornando para
o reino da escuridão, deixando para Lindaura apenas uma história para não ser
contada.