sábado, 5 de fevereiro de 2022



 SINFONIA NOTURNA

(Augusto Pellegrini)

Ao acender o abajur na mesa de cabeceira
Sentiu na alma uma imensa alegria
A luz com seu fulgor se espalhou pelas beiras
E pôs fim às sombras, como se fosse dia

Observou na mesa os livros que ama ler
Que falam para a sua alma e que lhe dão prazer
Os personagens, todos juntos, lhe fazem companhia
Na solidão da madrugada que ora se inicia

Sentiu o ar da noite entrar pela janela aberta
E ouviu o canto musical e único do vento
Com mil imagens feitas no seu pensamento
Até cerrar os olhos na noturna sesta

À noite, a natureza impera nua, pura e solta
Insetos de asas vão em vêm, fazem a festa
E o gato, enrodilhado no lençol da cama
Faz companhia ao dono, como um cão de escolta

Então, luz apagada, começam a surgir os sonhos
E aí o inverossímil cresce por inteiro
O gato já mudou de lado, e o travesseiro
Guarda o calor do rosto suado e dos seus poros

Amanhece, a luminosidade atravessa a janela
A sinfonia noturna toda se modificou
O gato não mais dorme, tristonho olha a tigela
E aguarda que o dono ponha leite dentro dela

Dezembro 2018

 

 

 



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

 


A ALIENAÇÃO DA MÚSICA BRASILEIRA 

A mudança de conceitos já estabelecidos, quando se fala em arte, sempre foi um objeto de intensa discussão acadêmica.

Ela é responsável pelo aparecimento de novas tendências e pela criação de novas escolas, embora possa, como fonte de experimentos, ocasionar problemas de qualidade.

A história mostra que os conservadores sempre se mantiveram de sobreaviso contra mudanças consideradas agressivas, e que os vanguardistas sempre buscaram impor as suas ideias de renovação, fossem elas boas ou simplesmente inaceitáveis do ponto de vista do bom gosto. Mas as duas correntes, mesmo conflitantes, têm sido responsáveis pela evolução que a música apresentou ao longo dos séculos em todo o mundo.

A renovação bem-sucedida, no entanto, não nasce simplesmente do nada, pois mesmo nas novidades mais extremadas de cada nova tendência, essa tendência é baseada em elementos que já existiam na velha escola.

Esta mudança é dinâmica, e vale para todas as artes.

O que vale também para todas as artes são as conceituações sobre a sua qualidade (ou falta de) e a velha e discutível máxima de que “gosto não se discute”.

As mudanças na forma de expressar a arte se processam de forma cíclica e inevitável, mas a história costuma fazer a sua devida depuração, de modo que o próprio tempo se encarrega de mandar para a lixeira muitas tentativas de conspurcação a fim de reestabelecer uma mínima qualidade artística.

Infelizmente com a música – estou falando da música brasileira – não é bem isso o que está acontecendo. Parece que a depuração está ficando mais lenta.

O grande culpado por esta queda de qualidade é o aumento do consumo – leia-se dinheiro envolvido – por conta da febre mercantilista que leva produtores de shows, programadores de rádio e músicos ávidos pelo sucesso fácil, a investirem maciçamente neste segmento, que é produzido especialmente para que muita gente ganhe fortunas.

Há que se entender, antes de mais nada, que a verdadeira música pode ser expressa apenas pela melodia, pela harmonia e pelo andamento, ou seja, ritmo e letra são meros complementos de beleza.

O sucesso popular de uma música atual, porém, vem via de regra quando a percussão assume um volume insuportável e quando a letra contém apenas grunhidos, exclamações, gritos e obscenidades.

A deterioração da música brasileira começou as poucos nos anos 1990 e a cada década vai se acentuando, num verdadeiro atentado contra a produção celestial de Jobim, Chico, Caetano, Caymmi, Gil, Djavan e João Bosco, apenas para citar alguns, onde música e poesia se completam de forma inequívoca.

A eletrônica e a computação prestaram um grande auxílio à qualidade sonora e às facilidades para gravação, mas os técnicos e produtores exacerbaram e deram a estes recursos um valor acima do necessário. Criou-se um monstro.

Por outro lado, a dança popular e a manifestação do público durante a realização de shows há muito deixaram de ser coisa de gente civilizada, e as grandes festas são apenas mais um motivo para a galera se enturmar e ouvir música em volume ensurdecedor, não importa o tipo de música que estiver tocando. Ensandecidos pelo emburrecimento, pelo álcool e pelas drogas o público está ficando com a mente embotada de tanto ouvir coisa ruim.

Felizmente, como as grandes orquestras sinfônicas, o jazz convencional, a música popular autêntica e a preservação do folclore tradicional teimam em continuar existindo, existe também a tênue esperança de dias melhores para aqueles que ainda lutam, mesmo que aparentemente seja contra moinhos de vento.

Eu, por exemplo, quando faço minhas tertúlias musicais jazzistas e bossanovistas procuro sempre incluir no repertório “standards” americanos como “Autumn Leaves”, “Night and Day”, “Summertme” ou “Unforgettable”, e alguns sambas-canções da época de Dolores Duran, Dick Farney ou Johnny Alf. O resultado tem sido compensador, pois além de satisfazer as pessoas exigentes eu estou conseguindo recuperar alguns ouvintes.

Ah, eu também gosto do velho e bom rock and roll, com o seu volume alto e a sua informalidade organizada levada no balanço distorcido do rhythm & blues, mas este é um outro assunto, objeto de um outro artigo. 

2018         

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 


A BUSCA  

(Bossa - Música de Renato Winkler e Letra de Augusto Pellegrini)

 

Ah, esta eterna procura

Do que não se perdeu

A gente onde é que está?

Ah, esta sempre vontade

De ser e de saber

Tudo o que é e tem seu valor

 

É busca da gente em si mesma

É busca no tempo e no espaço

É busca do amor que não veio

Com a esperança de um dia encontrar

 

Ah, a procura daquela

Nova dimensão

A dimensão da paz

De tudo o que se quis um dia

De tudo o que se fez um dia

Pra ter aquela Maria

Pra ter aquela Maria

 

 


PÁGINAS ESCOLHIDAS
(Augusto Pellegrini)

O FANTASMA DA FM (1992)

CLICHÊS – O EMPRÉSTIMO

“Rapaz, que bom te ver! Estou precisando de um favorzinho!”
Esta forma de abordagem sempre me faz ouriçar os pelos da nuca.
Era o Cleto Nó Cego, o Anacleto Boa Conversa, se chegando insidiosamente para pedir “algum” emprestado. Tento me esquivar, mas ele se põe na minha frente como um leão que não vai deixar a presa escapar.
‘Sim?” – respondo cautelosamente olhando bem firme nos seus olhos e tentando ler a mente do meu opositor assim como o fazem os pugilistas nas grandes noites de disputa de título, o cinturão em jogo.   
“Você sabe – diz ele – estou para receber uma grana de um negócio que fechei no interior – coisa de mais de dez mil – mas no momento estou precisando de cem reais, só até terça-feira.
Quando abro a boca para contestar, ele dispara outro míssil – “já consegui o Cheque Ouro do Banco do Brasil, mas o gerente só vai liberar a semana que vem!”
“E pra que você precisa de cem, agora?...” – faço a pergunta na hora errada, pois o meu interlocutor acha que estou concordando com a pedida. Tento então contra atacar – “eu gostaria de ajudá-lo, mas no momento estou com o bolso curto” – emendei.
“Mas o que são cem pratas pra você? Não vai me dizer que você está com receio de me emprestar essa mixaria…”
(Não é receio, é pavor, mesmo).
Lembrei-me dos cinquenta do Alexandre, dos oitenta do Mesquita, os duzentos da loja de móveis e pensei naquela fiança que o Antônio Carlos teve que pagar, além dos cheques sem fundo passados para o mercadinho que agora adornam o quadro cheio de cheques devolvidos dos maus pagadores.
(Um sujeito desses deveria ser o Secretário de Finanças do Município, tal a habilidade que tem em conseguir fundos com conversa mole).
Então me lembrei dos cem que ele me havia pedido há mais de dois anos pra comprar remédios para uma avó que já havia morrido, e lhe lancei na cara a minha indignação.
“Você já me deve cem, nunca pagou, e tem a coragem de pedir mais cem!?”
Então, na maior cara-de-pau ele propõe – “pois é, já que eu lhe devo cem e você me deve os cem que eu estou pedindo, você me passa a grana e a gente fica quites”.

(Uma rápida apresentação a respeito de um especialista em finanças) 

domingo, 30 de janeiro de 2022

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU)

English words that people say wrong and use wrong 

(ver tradução após o texto) 

FACTOID   

Wrong meaning: A small fact. 

Right meaning: A false fact.

 

The word FACTOID was first used by journalist, author and activist Norman Mailer in 1973 to talk about a fact that is not true. He wrote that FACTOIDS were “facts which have no existence before appearing in a magazine or newspaper” – that is, stuff that the media just makes up.

 

Today, the word is used to refer to a “bite-sized” fact, a small quick fact or something that is repeated by so many people that it’s eventually assumed to be true. The -OID in FACTOID is a suffix that means “resembling” or “like”, so FACTOID really means “fact-like”.  

 

            

            TRADUÇÃO 

Palavras da língua inglesa que as pessoas usam com o sentido errado

 

FACTOIDE

Significado errado: Um pequeno fato (sem importância).

Significado correto: Um fato falso (inventado). 

A palavra FACTOIDE foi usada pela primeira vez pelo jornalista, escritor e ativista Norman Mailer em 1973 para se referir a um fato que não era verdadeiro. Ele escreveu que FACTOIDES eram fatos que não existiam até que fossem publicados num jornal ou revista.

Hoje em dia a palavra é usada para se referir a um fato “fácil de engolir”, um fato sem importância ou algo que é repetido tantas vezes que todo mundo acredita ser verdade. O sufixo -OIDE em FACTOIDE significa “semelhante” ou “igual”, de modo que FACTOIDE significa “um fato que parece verdadeiro”.