sábado, 5 de março de 2016








O NOVO CHEFÃO

Agora é pra valer. Giovanni Vincenzo Infantino, popularmente conhecido como Gianni, foi eleito presidente da Fifa até 2019 com a missão de acabar com as mutretas da era Havelange/Blatter.
Infantino era o Secretário Geral da UEFA, e viabilizou a sua candidatura quando a justiça condenou o presidente da sua instituição, Michel Platini, a oito anos de afastamento de qualquer atividade ligada ao futebol (Platini era o candidato natural à sucessão de Blatter, mas se envolveu em um recebimento ilegal de dinheiro e viu a sua chance ser jogada pela janela).
Apesar do nome absolutamente italiano, Infantino é suíço, e tem a responsabilidade de reconstruir a imagem da entidade, seriamente abalada após constatação de irregularidades, favorecimento ilícito e suborno que levaram à prisão diversos dirigentes de entidades continentais e da própria Fifa, bem como presidentes de confederações de outros países.
Ele também tem a seu encargo restaurar as finanças da entidade, que sofreu um abalo de mais de 100 milhões de dólares incluindo negócios mal feitos e a saída de diversos patrocinadores que não queriam ver seu nome ligado a Blatter & Cia.
O suíço venceu as eleições já no segundo turno ao obter 115 votos, 11 a mais do que a maioria simples dos 104 necessários para encerrar o pleito sem a necessidade de uma terceira rodada de votação. O xeque bareinita Salman Bin Ebrahim Al-Khalifa foi o segundo colocado, com 88 votos, o príncipe jordaniano Al-Bin Al Hussein ficou em terceiro com apenas 4. O francês Jérome Champagne foi o quarto, sem voto nenhum.
Analistas entendem que o poder do futebol voltará a ser concentrado na Europa, pois Infantino credita a alta corrupção no esporte à falsa democratização imposta por Blatter – na sua opinião o ex-presidente fez isso para ter mais campo de ação no “toma lá, dá cá” desenfreado que dava os mesmos direitos a federações pouco representativas e a federações expressivas do ponto de vista do interesse público, da mídia e dos patrocinadores.
Isto justificaria os presentes caríssimos distribuídos a presidentes de federações obscuras como Brunei, Guam, Montserrat ou Eritréia, que nada representam em termos de futebol e faziam parte do bloco Maria-vai-com-as-outras que dava apoio a qualquer proposição do presidente.
Por esse motivo, Infantino já começa sendo criticado e é tido como elitista por alguns dos seus 92 adversários, a maioria do terceiro mundo futebolístico.
Gianni Infantino terá três anos (com direito a duas reeleições, podendo se manter até 12 anos no comando) para provar o acerto da sua proposição, limpar as manchas do nome da Fifa, hoje visto com desconfiança pelas pessoas ligadas ao futebol e atrair novos patrocinadores.
Uma das suas primeiras ações será fazer uma distribuição dos lucros da Fifa entre as federações filiadas, muitas das quais estão em situação financeira precária, e ele promete fazer esta transferência da maneira mais transparente possível. Esta medida simpática começará a atrair as federações para debaixo das suas asas.
Com respeito à prática do futebol em si, ele terá que discutir com os membros da International Football Association Board, que é quem autoriza modificações nas regras, o importante ponto da ajuda eletrônica para modernizar a arbitragem, mesmo sendo o assunto um tabu que costuma ser evitado.
Terá também que decidir o formato da Copa do Mundo, para o qual antecipa uma proposta de aumentar o número para 40 seleções finalistas. Resta saber se a mudança já seria implementada da Copa de 2018.
Uma coisa é certa: os holofotes do mundo estarão voltados para o novo chefão, que fica desta forma impedido de cometer deslizes ou de causar algum retrocesso no futebol do mundo, que hoje, por ter se constituído numa forte marca política e comercial, funciona como um regulador de interesses, nos mesmos moldes da ONU. 


(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 04/03/2016)