VAYA COM DIÓS, DUNGA!
Reproduzo
abaixo uma pequena postagem que o jornalista Carlos Andrade, meu amigo há
trinta e cinco anos, me enviou através da rede social. Pontual e crítico, ele
anteviu a traulitada que Dunga e o seu incrível exército de Brancaleone
levariam do Peru, antigo freguês de caderneta. A reprodução do texto foi
devidamente autorizada pelo autor, e a formatação sem parágrafos obedece à
técnica utilizada nas postagens de rede social:
“A
natural goleada do Brasil diante do Haiti de 7x1 lembrou, pelo resultado, o
tamanho da nossa seleção quando joga com outra de verdade, como foi o caso da
Alemanha na Copa do Mundo, no Brasil. Naquele momento, o Haiti era aqui. E,
se depender de Dunga e de empates sem gols como com o Equador, ainda vai
continuar sendo por muito tempo. Oxalá o Brasil perca para o Peru e não avance
na competição. Só assim, e somente assim, a seleção que já teve orgulho de ser
canarinho deixe de ser comandada por um anão no apelido e, pior, nas decisões
profissionais que o cargo de treinador exige dele. Dos oito gols da partida
sete foram por erros do Haiti e um por mérito do Haiti. Ou seja, para o Brasil,
restou fazer o jogo da estreia: o 0x0. Agora vai decidir se vai ou vem contra o
Peru. Uma derrota permitirá ao país uma situação inimaginável: sofrer na
humilhação do 7x1 e chorar na obrigação dos 7x1.”
Como
resposta, depois da desclassificação sacramentada, eu respondi:
“Como
em tudo na vida, o futebol também evoluiu. Novos conceitos, novo tipo de
preparação, novas exigências, tudo isso fez o futebol mundial tomar caminhos
diferentes nos últimos vinte anos. E, enquanto todos buscaram alternativas e
estudaram novas fórmulas para crescer, o Brasil parou. Não é à toa que os
nossos jogadores, salvo algumas exceções, deixaram de ser ídolos nos demais
países, e também não é à toa que os nossos técnicos não conseguem emplacar em
times do exterior – semana passada Luxemburgo e Mano Menezes foram demitidos de
clubes da segunda divisão chinesa! Ficar em terceiro lugar – e ser eliminado –
em um grupo que tinha Equador, Peru e Haiti mostra que estamos cada vez “mais
pequenos”. Sem desculpa pelo gol peruano ter sido feito com o braço. Afinal,
deixamos de perder na estreia porque o árbitro não validou um gol legítimo dos
equatorianos. Além disso, não fizemos um só gol no Equador nem no Peru. Os sete
marcados contra o Haiti não valem. O Haiti ainda é pior do que o Brasil. E
olhem que eu estou falando de futebol...”
Faz
muito tempo que eu venho criticando a falta de cuidado com que é tratada a seleção
brasileira pelos seus responsáveis. Os motivos são vários, mas tudo indica que
o principal deles é que atletas e dirigentes ainda ostentam a ilusão de que
praticamos o melhor futebol do mundo, que todos os nossos jogadores são
craques, que os europeus são uns cinturas-duras, que os sul-americanos são
nossos eternos fregueses e que todos tremem quando vêm a camisa amarela crescer
diante deles.
Com
base nestes conceitos o futebol brasileiro não evoluiu, nem na organização, nem
na orientação tática ou técnica, nem no tipo de treinamento, nem na cabeça dos
jogadores.
Especificamente,
a falta de competência e de estatura de Dunga vem de longe. Ele sempre mostrou
falta de habilidade, seja na convocação, na escalação e na orientação, mas isso
não foi levado em conta mesmo tendo o Brasil perdido a Copa América de 2015
para o Paraguai e mesmo ocupando no momento a sexta colocação nas Eliminatórias
para a Copa de 2018.
Com
Dunga, o Brasil ganhava amistosos inúteis contra adversários sem pedigree ou sem
interesse, porque tais amistosos não adicionavam tecnicamente nada a ninguém.
Agora,
a três meses da sétima rodada das Eliminatórias, Tite é finalmente convidado
para exercer o comando técnico, sonho de consumo do torcedor brasileiro (com
exceção do corintiano, que vê a saída do seu técnico vitorioso com bastante
apreensão).
A
seleção olímpica vai ficar sob o comando de Rogério Micale, nada mais justo,
porque foi ele quem conduziu o trabalho até agora. Sua missão será ganhar uma
medalha – e para a opinião pública só a de ouro vale – e mostrar ascendência
dobre o grupo de jogadores acima de 23 anos, entre eles Neymar, única presença
já confirmada na lista de 35 até o momento em que este artigo foi escrito.
Começamos
um novo tempo depois de uma era de trevas.
Seja
bem-vindo, Tite. “Vaya com Diós”, Dunga!
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 17/06/2016)