O SÉCULO DA CORRUPÇÃO
Dada
a intensa repercussão causada pela prisão dos sete dirigentes esportivos ocorrida
na semana passada, o que gerou manchetes espetaculares e comoção em todo o
mundo, eu havia decidido me manter à parte do problema, até porque parecia que
tudo o que era impactante e deveria ser dito já havia sido dito.
Mas
casos como esses sempre têm efeitos colaterais, a gente prossegue na
expectativa de que mais algum indiciado dê com a língua nos dentes – como o fez
o empresário J.Hawilla, dono da Traffic, o que antecipou a prisão de Marin e
dos outros envolvidos.
Apesar
de as irregularidades terem sido cometidas por dirigentes de entidades de
diversos países – Brasil, Chipre, Costa Rica, Ilhas Cayman, Nicarágua, Uruguai
e Venezuela – que estavam reunidos na Suíça, país que não é berço de nenhum
deles, as autoridades dos Estados Unidos determinaram as suas prisões tendo
como base jurídica o fato de que os crimes foram cometidos utilizando-se de
instituições financeiras norte-americanas.
Além
desses dirigentes, outros onze (três de Trinidad e Tobago, três da Argentina,
dois dos Estados Unidos, um do Paraguai e os brasileiros José Hawilla e José
Marguiles) também foram indiciados.
Indiferente
à celeuma que envolvia feitos administrativos da Fifa, Joseph “Sepp” Blatter
conduziu a sua reeleição, mas acabou renunciando quatro dias depois por não
suportar a pressão que abalou a sua imagem e a da instituição.
As
denuncias que pesam sobre a Fifa e sobre outras confederações são as mais
variadas, incluindo as duas próximas Copas do Mundo (Rússia e Qatar) e alguns
torneios no Brasil e no continente americano, como a Copa América, a Copa das
Confederações, a Copa Libertadores e a própria Copa do Brasil.
Por
enquanto, avalia-se o preço da corrupção em cerca de 150 milhões de dólares,
mas tudo indica que o rombo deverá aumentar com o prosseguimento das
investigações.
O
motivo do escândalo não é técnico, isto é, não envolve arbitragem nem
combinação de resultados. O motivo é puramente financeiro, e diz respeito a
propinas altíssimas pagas em nome dos locais da realização das Copas de 2018 e
2022 e, no caso brasileiro e sul-americano, em nome de exclusividade de
transmissões e de exploração de direitos.
A
extensão do problema está ocasionando as investigações em pauta e já causou o
afastamento ou a demissão de alguns dirigentes da Fifa, além de ressuscitar
velhos fantasmas, como João Havelange e Ricardo Teixeira que estão, como se diz
no jargão jornalístico, com as barbas de molho.
A
cada investigação iniciada começa um efeito dominó que ameaça mexer com outras
coisas que estavam quietas e aparentemente domadas, como a Copa de 2014 no
Brasil e o devastador padrão Fifa que direcionou fortunas para meia dúzia de
beneficiados, além das denuncias contra as Federações brasileiras de Vôlei, de Basquete,
de Judô e de Futsal e a manutenção no poder à custa de votos viciados de
dirigentes que enriquecem e se eternizam sem dar a devida compensação ao
esporte que dirigem.
O
escândalo da Fifa pode também estar tirando o sono de algumas emissoras de
televisão e até de algumas agências de publicidade, porque o esquema de
corrupção utilizado foi realmente violento e deve ter seus tentáculos
espalhados por muitas pessoas e muitas empresas, entre corruptores,
facilitadores e corrompidos.
De
qualquer modo, nota-se que a bandalheira não está presente apenas no Brasil,
terra do Mensalão, do Petrolão e de outros escândalos superlativos, mas
espalhada por todo o mundo.
Assim
como o século 18 ficou conhecido pelo início da Revolução Industrial, o século
19 marcou pela série de Invenções e Descobertas Científicas e o século 20 foi a
Era da Tecnologia, o século 21 está começando a marcar o seu lugar na história
como o Século da Corrupção, pontuado pela falta de escrúpulos, pela avidez e
pelo consumismo.
Problemas
ambientais e guerras à parte, a corrupção poderá determinar o desequilíbrio
definitivo da humanidade, produzindo um caos tão formidável que corremos o
risco de não chegar ao século 22.
(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do
jornal O Imparcial de 06/06/2015)