quinta-feira, 11 de setembro de 2014





QUEM VAI PAGAR O PATO

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 11/09/2014)

Como todos sabem, em virtude de alguns torcedores terem externado atos de racismo explícito em um jogo disputado há coisa de quinzes dias, o Grêmio foi penalizado com a eliminação da Copa do Brasil, torneio do qual participava.
Em princípio, isto parece ser uma punição muito séria, mas se atentarmos para os detalhes veremos que não é bem assim.
O Grêmio havia perdido aquele jogo para o Santos por 2x0 e teria que disputar a classificação em São Paulo com a difícil missão de vencer por 3x0 ou qualquer placar que revertesse a diferença, ou seja, já estava praticamente desclassificado.
Diante desta situação, o STJD puniu o clube na certeza de que (1) estava prestando um grande serviço ao futebol porque os torcedores iriam pensar duas vezes antes de cometerem atos que poderiam levar à eliminação do seu time e (2) a diretoria do Grêmio não iria fazer muita questão de levar a decisão a uma Justiça superior, pois tal desgaste não seria compensador.
Assim, como devia dizer o ditado antigo, matam-se dois coelhos com duas cajadadas e ninguém paga o pato.
Mas a justiça tem agora uma nova missão amarga – diria eu, duplamente amarga.
Como mencionado no artigo anterior, o Corinthians deverá ser julgado por ter colocado em campo um jogador que não estava autorizado pelo BID. Para quem não sabe, o BID é o Boletim Informativo Diário da CBF, um registro de todos os atletas que assinam contrato com os clubes, dando ao atleta condição de jogo para defender esta equipe a partir de uma determinada data.
Por ter colocado o jogador Petros no time antes de a autorização pelo BID ter sido publicada na internet, o Corinthians incorre na perda de 21 pontos, ou seja, 3 pontos em cada uma das 7 partidas onde o jogador atuou.
Evidentemente, o corpo jurídico do clube começou a se mexer no sentido de evitar a punição, ou pelo menos minimizá-la, e há rumores que a pena talvez não seja cumprida como devia.
Há que se considerar que o América Mineiro, atualmente disputando a Série B e com boas chances de ser promovido para a Série A, incorreu no mesmo pecado, escalando irregularmente o lateral Eduardo sem que o mesmo estivesse autorizado pelo BID.
O Tribunal está com um abacaxi nas mãos para descascar, pois não pode punir o América sem punir o Corinthians, e não pode deixar de punir os dois porque já existe jurisprudência a respeito.
Dado o formato do campeonato, disputado no sistema de pontos corridos, não cabe a eliminação de clubes que transgridem o regulamento, mas sim a perda de pontos.
Os clubes têm no seu quadro dirigentes, supervisores e um departamento jurídico com a responsabilidade de dar suporte técnico a quem trabalha especificamente com o futebol – treinadores, auxiliares técnicos, fisicultores, etc. – para que eles tenham nas mãos um elenco de jogadores para trabalhar. Cabe a esses dirigentes, ou coisa que o valha, se assegurar que determinado atleta tem ou não condição de jogo. 
Um clube que movimenta milhões com jogadores, centro de treinamento, equipes de apoio e categorias de base não pode ser refém de profissionais que não dão a segurança necessária para garantir que determinado atleta tenha ou não condição legal para atuar.
Causa espécie que o futebol, uma máquina de gerar dinheiro e uma das indústrias mais rentáveis do mundo seja administrado por pessoas com tamanha falta de visão, de competência e de responsabilidade.

 

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014





UMA PEDRA NO CAMINHO

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 09/09/2014) 

De um tempo pra cá, a Justiça esportiva resolveu pegar pesado na tentativa de moralizar as coisas do futebol.
É claro que de uma forma ou de outra isto sempre aconteceu, mas a partir do affair Portuguesa-Fluminense parece que o rigor com as punições recrudesceu. Depois de mandar a Lusa para a Série B por causa de um jogador escalado sem condições de jogo, chegou a vez do Icasa e do Botafogo da Paraíba serem excluídos das Séries B e C respectivamente por haverem acionado a Justiça comum antes de se esgotarem os recursos na área do esporte.
Por sua vez, o América Mineiro, na Série B, poderá perder 21 pontos por escalação irregular, mas como a legislação brasileira permite, sempre haverá recursos e expedições de liminares, embora estas tentativas tenham se mostrado em vão.
E é importante que assim seja.
O Grêmio acaba de ser eliminado da Copa do Brasil nos tribunais por decisão unânime dos auditores do STJD, um fato inédito no futebol brasileiro, devido às atitudes racistas dos seus torcedores na partida em que o time perdeu para o Santos. Até agora, problemas com torcedores eram punidos por multa, perda de mando de jogo ou jogo com portões fechados, mas o Tribunal resolveu jogar duro para intimidar outros atos semelhantes.
É nesse clima desfavorável que o Corinthians vai enfrentar uma barra pesada por ter colocado em campo o jogador Petros – jovem promissor contratado ao Penapolense depois de um ótimo Campeonato Paulista – antes de o jogador ter sido registrado no BID-Boletim Informativo Diário da CBF.
A lei prevê que o clube infrator perca três pontos por partida disputada com o jogador irregular. Como Petros disputou sete jogos, o alvinegro perderia 21 pontos dos 32 já conquistados, ficaria apenas com 11 e iria para a lanterna do campeonato, quatro pontos atrás do Vitória, atualmente último colocado.
O jogador já estava berlinda, pois havia sido condenado a 180 dias de suspensão por ter supostamente agredido o árbitro Raphael Claus no jogo disputado contra o Santos. Mesmo assim, foi escalado em uma outra oportunidade por conta de um efeito suspensivo, o que poderá aumentar a dor de cabeça do Corinthians.
O clube vive uma fase astral negativa, pois o ex-presidente Andrés Sanchez foi denunciado pela Justiça junto com outros três dirigentes sob a acusação de crime fiscal e desistiu oficialmente de tentar se reeleger (ele deixou a presidência em 2011 e articulava uma possível candidatura para brigar com a dupla Marin-Del Nero para comandar a CBF).
Esta essa situação não é nova.
Desde o início do sistema de pontos corridos, em 2003, o STJD já tirou pontos de sete clubes.
Pela escalação de jogador irregular, a Ponte Preta perdeu 4 pontos (2003), o Paysandu perdeu 8 (também em 2003), o Grêmio Prudente perdeu 3 (2010), o Flamengo perdeu 4 (2013) e a Portuguesa também perdeu 4 (também em 2013).
Por ter vendido ingressos para uma partida que deveria ser jogada com os portões fechados, o Brasiliense perdeu 1 ponto em 2005, e o São Caetano perdeu 24 pontos em 2004 porque o clube foi declarado culpado pela morte do jogador Serginho.
Desses, apenas o Brasiliense, o Grêmio Prudente e a Portuguesa foram rebaixados.
O recente caso de Petros é uma verdadeira pedra no sapato corintiano porque, mesmo que o time consiga fazer um bom segundo turno e se livrar do rebaixamento, a sua possibilidade de lutar pelo título e por uma vaga na Libertadores fica bastante comprometida. 

terça-feira, 9 de setembro de 2014


UMA PEDRA NO CAMINHO

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 09/09/2014) 

De um tempo pra cá, a Justiça esportiva resolveu pegar pesado na tentativa de moralizar as coisas do futebol.
É claro que de uma forma ou de outra isto sempre aconteceu, mas a partir do affair Portuguesa-Fluminense parece que o rigor com as punições recrudesceu. Depois de mandar a Lusa para a Série B por causa de um jogador escalado sem condições de jogo, chegou a vez do Icasa e do Botafogo da Paraíba serem excluídos das Séries B e C respectivamente por haverem acionado a Justiça comum antes de se esgotarem os recursos na área do esporte.
Por sua vez, o América Mineiro, na Série B, poderá perder 21 pontos por escalação irregular. Porém, como a legislação brasileira permite, sempre haverá recursos e expedições de liminares, embora estas tentativas tenham se mostrado em vão.
E é importante que assim seja.
O Grêmio acaba de ser eliminado da Copa do Brasil nos tribunais por decisão unânime dos auditores do STJD, um fato inédito no futebol brasileiro, devido às atitudes racistas dos seus torcedores na partida em que o time perdeu para o Santos. Até agora, problemas com torcedores eram punidos por multa, perda de mando de jogo ou jogo com portões fechados, mas o Tribunal resolveu jogar duro para intimidar outros atos semelhantes.
É nesse clima desfavorável que o Corinthians vai enfrentar uma barra pesada por ter colocado em campo o jogador Petros – jovem promissor contratado ao Penapolense depois de um ótimo Campeonato Paulista – antes de o jogador ter sido registrado no BID-Boletim Informativo Diário da CBF.
A lei prevê que o clube infrator perca três pontos por partida disputada com o jogador irregular. Como Petros disputou sete jogos, o alvinegro perderia 21 pontos dos 32 já conquistados, ficaria apenas com 11 e iria para a lanterna do campeonato, quatro pontos atrás do Vitória, atualmente último colocado.
O jogador já estava berlinda, pois havia sido condenado a 180 dias de suspensão por ter supostamente agredido o árbitro Raphael Claus no jogo disputado contra o Santos. Mesmo assim, foi escalado em uma outra oportunidade por conta de um efeito suspensivo, o que poderá aumentar a dor de cabeça do Corinthians.
O clube vive uma fase astral negativa, pois o ex-presidente Andrés Sanchez foi denunciado pela Justiça junto com outros três dirigentes sob a acusação de crime fiscal e desistiu oficialmente de tentar se reeleger (ele deixou a presidência em 2011 e articulava uma possível candidatura para brigar com a dupla Marin-Del Nero para comandar a CBF).
Esta essa situação não é nova.
Desde o início do sistema de pontos corridos, em 2003, o STJD já tirou pontos de sete clubes.
Pela escalação de jogador irregular, a Ponte Preta perdeu 4 pontos (2003), o Paysandu perdeu 8 (também em 2003), o Grêmio Prudente perdeu 3 (2010), o Flamengo perdeu 4 (2013) e a Portuguesa também perdeu 4 (também em 2013).
Por ter vendido ingressos para uma partida que deveria ser jogada com os portões fechados, o Brasiliense perdeu 1 ponto em 2005, e o São Caetano perdeu 24 pontos em 2004 porque o clube foi declarado culpado pela morte do jogador Serginho.
Desses, apenas o Brasiliense, o Grêmio Prudente e a Portuguesa foram rebaixados.
O recente caso de Petros é uma verdadeira pedra no sapato corintiano porque, mesmo que o time consiga fazer um bom segundo turno e se livrar do rebaixamento, a sua possibilidade de lutar pelo título e por uma vaga na Libertadores fica bastante comprometida.