sexta-feira, 15 de junho de 2018





SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 27/01/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA 

KIRK LIGHTSEY TRIO & FREDDIE HUBBARD - TEMPTATION  

Kirk Lightsey é um pianista muito considerado pelos músicos de jazz, embora não seja tão conhecido pelo público. Isto porque ele dedicou a sua carreira em ser um acompanhante de protagonistas como Sonny Stitt, Chet Baker, Dexter Gordon, Woody Shaw, Pharoah Sanders e outros, como este excelente trompetista que divide o palco com ele nesta noite, Freddie Hubbard. Lightsey já tem quase oitenta anos e se especializou no estilo hard-bop depois de passar pelo cool-jazz. A gravação apresentada no programa desta sexta-feira foi feita em 1987 e mostra muita força e brilho com músicas de autoria de Hubbard e Thelonious Monk, além da conhecida "Love Is A Many-Splendored Thing" numa versão hard.   
 

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

quinta-feira, 14 de junho de 2018




SESSENTA ANOS

O dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues não deixou por menos: depois dos fracassos de 1950 e 1954, profetizou que o Brasil jamais venceria uma Copa do Mundo porque seus jogadores tinham um “complexo de vira-latas”. Escreveu, falou e repetiu, para quem não tinha lido nem ouvido sua sentença de morte.
Só que há exatamente sessenta anos, os vira-latas se transformaram em leões.
E o Anjo Pornográfico “teve que engolir o escrete”, para usar uma expressão semelhante à que mais tarde seria proferida por Zagallo – que era jogador em 1958 – quando, como técnico, venceu a Copa América em La Paz em 1997, ao esbravejar contra as críticas que vinha sofrendo por parte da imprensa.
Quando Zagallo berrou paras as câmeras de tv – “Vocês vão ter que me engolir!” – o Brasil já havia levantado a Copa do Mundo quatro vezes – 1958, 1962, 1970 e 1994 – e a zanga do velho lobo dizia respeito exclusivamente a si, não à seleção.
Nelson Rodrigues, morto em 1980, não chegou a ver a expressão de fúria do treinador, mas já havia visto sua teoria ir a pique três vezes.  
Mas, voltando sessenta anos no tempo, o Brasil de 1958 foi um país iluminado, como descrito pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos no seu livro “Feliz 1958 – O ano que não devia terminar”, pois uma série de acontecimentos positivos coroaram a arrancada para o desenvolvimento e reconhecimento do país, que culminaria com a fundação de Brasília dois anos depois e a consequente interiorização e industrialização tão necessária.
No ano de 1958 João Gilberto, lançou o disco “Chega de Saudade”, que fundava oficialmente a bossa nova. Foi em 1958 que o cinema novo foi exportado para a Europa, com o filme “Rio, Zona Norte”, de Nelson Pereira dos Santos, feito um ano antes. Em 1958 a arte arquitetônica de Oscar Niemeyer passou a ser sinônimo de modernidade e bom gosto em todo o mundo.
Foi também 1958 o ano em que Maria Ester Bueno, nossa tenista maior, ganharia o primeiro dos seus dezenove títulos de Grand Slam e em que Eder Jofre, nosso maior pugilista, conquistou o título nacional de peso galo e iniciou sua vitoriosa carreira no exterior.
E foi em 1958 que a seleção brasileira de “Didi, Garrincha e Pelé deu o seu baile de bola” como cantava Jackson do Pandeiro e conquistou a sua primeira Copa do Mundo, com direito a uma goleada por 5x2 na final contra a Suécia anfitriã.
Assim, 1958 foi o ano em que o Brasil se internacionalizou com uma base sólida na beleza musical, na qualidade do esporte e também pela beleza da sua arquitetura, como diz Joaquim Ferreira dos Santos.
O mundo de 1958 ainda era branco-e-preto, e assim ficou por mais de dez anos, até tingir a década de 1970 de um colorido psicodélico e entrar num universo de cores artificiais construídas pela tecnologia do fim do século.
Em termos de futebol, 1958 foi o ano em que Nelson Rodrigues teve que mudar o seu discurso e que marcou a saga do torcedor canarinho, que a cada Copa disputada (ganha ou não) começou a pintar calçadas, a decorar residências com bandeiras e as ruas com bandeirolas, e a fazer um carnaval fora de época escudado na euforia dos jornais, nas ondas do rádio – depois da tv – e nas concentrações públicas feitas para comemorar ou simplesmente para torcer.
Aquele tempo era mais fácil, pois o torcedor que ia aos estádios nos gloriosos fins de semana gozava da intimidade de Garrincha, Pelé, Zito, Nilton Santos, Vavá, Gerson, Tostão, Jairzinho, Rivellino e tantos outros, eis que todos eles atuavam no Brasil e se digladiavam uns contra os outros nos clássicos de domingo.
Com o passar do tempo, quer pela exportação dos nossos selecionáveis que passaram a exibir seu futebol em gramados europeus nos privando da sua companhia, quer pelo preço cobrado pelos ingressos para ver a “canarinho” jogar, quer pela exiguidade de jogos realizados no nosso território, quer pela credibilidade dos senhores de gravata que comandavam o espetáculo, o futebol do escrete saiu das gerais e foi para os camarotes.
A torcida começou a berrar menos e a aplaudir mais, como se estivesse em um teatro. Famílias inteiras paramentadas se divertiam como uma tarde no Grand Circus, e os palavrões começaram a rarear.
O torcedor comum canalizou o seu carinho no seu time de coração e foi aos poucos sendo substituído por este outro tipo de entusiasta, que não perde tempo com o futebol de clubes, só assiste jogos da seleção e torce coberto de artefatos – camisa amarela, bandeiras, peruca, selfies, buzina, apito, reco-reco, surdo e tamborim – sem saber sequer o nome daquele jogador que saiu na foto ao lado do Neymar.
Sessenta anos representam duas gerações, e na velocidade cada vez maior em que o mundo gira, duas gerações representam muita mudança.
    
  


segunda-feira, 11 de junho de 2018





O REENCONTRO

(Augusto Pellegrini)

Desde que te conheci (e te perdi)
Sinto um vazio que me devora a alma
Painel descolorido do que já vivi
Lembrança inútil que jamais me acalma

Por que será que as coisas se sucedem
E seguem soltas, ao sabor do vento
Se as decisões tomadas sempre impedem
De comandar o próprio pensamento?

Há muito tempo veio a despedida
Sequer aconteceu, passado se apagando
Com cada qual vivendo a própria vida
Cada um de nós a vida em vão levando

São muitos anos de distanciamento
Amadurecemos sem ficarmos velhos
Fazendo do reencontro um único momento
Voltando ao tempo, longe dos espelhos

Ainda guardo imagens firmes e sem corte
Dos bons momentos feitos por nós dois
São sonhos vívidos, tempero forte
Cheio de antes, com poucos depois

Este momento tem um tom marcado
Que evoca outros momentos, na verdade
É que o destino certo deu errado
E o sonho, que era bom, virou saudade

2018