AS SÉRIES INVICTAS
Uma das coisas que
alimentam a rivalidade do futebol é a estatística.
O torcedor busca na
história detalhes e feitos que possam diferenciar o seu clube dos demais, mesmo
quando o fato gerador da polêmica tenha acontecido há muito tempo.
Aí vale tudo: quantidade
de títulos regionais, nacionais e internacionais, maiores goleadas, times
inesquecíveis, jejum de vitórias, e por aí vai.
Uma das marcas mais
importantes que costumam gerar discussões e zoações é a tal da série invicta.
Basta um time esticar uma invencibilidade que comece a incomodar os rivais para
que todo mundo fique secando e tentando tirar uma casquinha.
Uma série invicta faz o
torcedor relembrar dias de glória mesmo se o seu time no momento estiver
passando por, digamos, dificuldades sazonais, e faz o torcedor recitar
escalações inteiras de um passado de orgulho.
De acordo com as pesquisas
realizadas, o recorde brasileiro das séries invictas de clubes pertence ao
Botafogo e ao Flamengo, empatados com uma sequência de 52 jogos; o alvinegro
permaneceu invicto entre 1977 e 1978, e o rubro-negro entre 1978 e 1979.
O Botafogo da série
invicta contava com um esquadrão do qual faziam parte o goleiro Zé Carlos e os
jogadores Renê, Osmar, Rodrigues Neto, Mendonça, Dé, Manfrini e Paulo Cesar
Caju.
O Flamengo tinha na sua
formação o goleiro Cantarele e os jogadores Leandro, Junior, Andrade, Adílio,
Zico, Tita, Claudio Adão e Julio Cesar.
Na sequência dos jogos
invictos aparece a surpreendente Desportiva-ES (51 jogos entre 1967 e 1968).
Seu jogador mais conhecido foi Humberto Monteiro, campeão brasileiro pelo
Atlético Mineiro em 1971.
Depois aparecem Bahia, de
Léo Oliveira, Sena e Dadá Maravilha (48 jogos em 1982), Grêmio, de Luiz
Carvalho e Foguinho (48 jogos entre 1931 e 1933), Santa Cruz, de Carlos Alberto
Barbosa, Paranhos, Givanildo e Lula (48 jogos entre 1978 e 1979) e São Paulo,
de Valdir Peres, Nelsinho Batista, Gilberto, Chicão, Muricy, Serginho e Pedro
Rocha (46 jogos em 1975).
Como uma invencibilidade é
marcada por vitórias e empates, uma sequência apenas de vitórias (caso do
Palmeiras de 1996, 21 jogos de um time que tinha Velloso, Cafu, Kleber, Muller,
Luizão, Djalminha e Rivaldo) é uma marca bastante respeitável.
O jornal A Gazeta
Esportiva instituiu em 1939 a Taça dos Invictos (que em 1970 seria denominada
Taça Tomás Mazzoni) apenas para os clubes paulistas. Devido à luta pelos
direitos da marca do troféu entre a Federação Paulista e o jornal, a taça foi
tendo sua importância diminuída e depois de oito edições foi parar na justiça.
Como a Gazeta Esportiva é
um jornal local e a Federação não demonstra muito interesse em glamurizar o
troféu, não existe muita celeuma a seu respeito. Pode-se dizer, no entanto, que
o Palmeiras (então Palestra Itália) foi o seu primeiro detentor, com 22 jogos
entre 1933 e 1934, que o São Paulo foi o seu maior recordista com 39 jogos
entre 1974 e 1975 e que o Corinthians é o seu atual possuidor, com a marca de
28 jogos entre 2009 e 2010.
Entre as seleções, o
Brasil sustenta, ao lado da Espanha, a maior série invicta incluindo amistosos
e jogos oficiais, com 35 partidas sem perder.
A marca do Brasil durou
dois anos, de dezembro de 1993 a janeiro de 1996, e a dos espanhóis dois anos e
quatro meses, de fevereiro de 2007 a junho de 2009. A seguir vêm a Argentina
com 31 jogos (1991 a 1993), a Hungria com 30 jogos (1950 a 1954) e a França,
também com 30 (1994 a 1996).
No futebol internacional
de clubes, o F.C. Steaua Bucuresti, da Romênia, possui um recorde difícil de
ser batido, correspondendo a 104 jogos entre 1986 e 1989.
Atualmente, fazemos menção
à incrível sequência de 39 jogos invictos do quase imbatível Barcelona, que
teve sua série quebrada exatamente pelo maior rival, Real Madrid no início
deste mês. O clube catalão mantinha a sua marca desde outubro de 2015 e depois
da derrota virou um saco de pancadas, até que se recuperou nesta semana e
sapecou 8x0 no Deportivo la Coruña, mostrando que não há mal que sempre dure e
nem bem que nunca acabe.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 22/04/2016)