sexta-feira, 15 de maio de 2015





SOB NOVA DIREÇÃO 

A linha sucessória da presidência da CBF sempre suscitou constantes reclamações por parte da imprensa esportiva. As acusações se sucedem - ostentação, má administração, desonestidade, conservadorismo, arrogância, falta de transparência - e isto acontece há 57 anos, desde que João Havelange assumiu em 1958.
A lista é extensa e inclui o Almirante Heleno Nunes, Octávio Pinto Guimarães, Nabi Abi Chedid, Ricardo Teixeira e José Maria Marin. O único que se salvou das maledicências foi Giulite Coutinho, que presidiu a entidade de 1980 a 1986.
Assim, não é nenhuma surpresa que o novíssimo presidente Marco Polo del Nero, que assumiu no início deste ano, embora tenha tomado posse somente em abril, seja objeto do mesmo tratamento.
Afinal, ele foi o vice atuante de Marin e já presidiu a Federação Paulista de Futebol, dois fatos que por si só, só podem causar desgaste.
Acontece que em tão pouco tempo no comando da Confederação ele já tomou - ou está tomando - providências que os outros não chegaram a tomar nem com todo o tempo de mandato. Assim, parece que Del Nero começa a ganhar pontos com alguns críticos mais azedos, pois pelo menos aparentemente ele começa a mostrar serviço e a buscar fórmulas para melhorar a administração do futebol brasileiro.
As preocupações do presidente vão de encontro aos anseios da maioria dos clubes e dos torcedores, e podem ser o começo de um mandato que poderá fazer história, se comparado com o que aconteceu da era Havelange pra cá.
Del Nero estuda com a Globo a antecipação do horário inconveniente das 22 horas para as partidas de futebol, sonho de consumo de muito torcedor.
Ele também autorizou a realização de jogos às 11 horas da manhã dos domingos, entendendo que isto contribui para o lazer e o bem estar do torcedor, que poderá ir ao estádio e passar a tarde com a família, ou mesmo almoçar fora e esticar o programa dominical.
A terceira proposição ainda é uma cruzada. Del Nero pretende lutar contra a Medida Provisória que trata do financiamento das dívidas dos clubes, editada pelo Governo Federal para regularizar a situação dos clubes com respeito à reeleição dos seus presidentes, pois entende que existem pontos falhos e que a MP foi editada sem que os clubes fossem consultados. Ele acha que há questões a serem discutidas e é contra a intromissão do governo no futebol, posição aliás respaldada pela Fifa, que ameaça com desfiliação as Federações de países cujos governos interfiram no esporte. Del Nero já conta com o apoio explícito do Flamengo, do Fluminense, do Palmeiras e do São Paulo.   
Com respeito à seleção brasileira, o presidente ampliou o diálogo com a comissão técnica, a quem deu poderes para tomar decisões na sua área sem que haja necessidade da sua interferência.
Desta forma, a primeira medida já foi tomada: Alexandre Gallo, técnico das seleções  de base e remanescente da era Scolari, que não mantinha um bom diálogo com Dunga e Gilmar Rinaldi, foi destituído do cargo. Dunga irá acumular as funções (o que é uma temeridade, considerando que haverá muito trabalho à frente da seleção principal, pois teremos a Copa América, a preparação para as eliminatórias para a Copa do Mundo e os sempre presentes amistosos para engrenar a equipe e trazer dividendos para os cofres da entidade).
Mas o gol de placa marcado pelo presidente Del Nero foi a negociação prevista com a Rede Globo para adequar a distribuição de verba entre os grandes clubes brasileiros de uma forma mais isonômica, dando a todos de alguma forma a possibilidade de montar equipes competitivas. Atualmente existe uma discrepância muito grande, pois Corinthians e Flamengo recebem 170 milhões de reais por ano, ao passo que clubes como Atlético, Botafogo, Cruzeiro, Fluminense, Grêmio e Internacional recebem apenas 60.
A continuar assim, em pouco tempo o equilibrado e competitivo futebol brasileiro iria sofrer uma "espanholização", desaguando num campeonato nacional de apenas dois clubes (lá o Barcelona e o Real Madrid, aqui o Corinthians e o Flamengo).
Por enquanto, aplausos ao presidente.     
 

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 15/05/2015)