A HORA DO ESPANTO
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 03/07/2014)
A
sabedoria popular é pródiga em tornar positivas algumas situações incômodas, pra
não dizer perturbadoras. Ela diz, por exemplo, que um raio não cai duas vezes
no mesmo lugar, que depois da tempestade vem a bonança e que não há mal que
sempre dure (embora também afirme que não há bem que nunca se acabe).
Por
que a sabedoria popular é geralmente otimista, o mundo vem vivendo a trancos e
barrancos à procura daquela luz que deve haver no fim dos túneis, ou seja, a
esperança continua sendo a última que morre.
Em
questão de provérbios, porém, é sempre bom confiar desconfiando.
No
caso do raio que partiu a tranquilidade e a confiança da seleção brasileira
depois da deplorável exibição contra o Chile, espera-se que de fato ele não
caia novamente, e esperamos que a tempestade não tenha feito muitos estragos
para que a bonança seja bem-vinda contra a Colômbia.
Trocando
em miúdos, espera-se mais de Felipão na criação de um sistema de jogo e dos
jogadores uma atuação mais caprichada e digna da sua fama e prestígio.
Afinal,
a maior potência futebolística do mundo, com cinco títulos mundiais conquistados,
e com jogadores cantados em verso e prosa por milhões de pessoas, não pode ter
desaprendido a ponto de parecer uma equipe de segunda classe.
Espera-se
que a terceira parte da profecia não seja cumprida e que o bem realmente não
acabe, pelo menos agora, sob os olhos e corações dos seus torcedores.
Vencer
a Colômbia requer algum xamanismo para superar a situação desafiadora em que
nos encontramos, em plena competição e sem tempo para serem testadas alterações
profundas na escalação do time, até porque temos que nos contentar com o material
humano que temos em mãos.
Infelizmente,
temos que retroceder novamente ao ano de 1950, quando as autoridades esportivas
e governamentais deixaram claro que “nós fizemos tudo o que foi necessário para
o Brasil ganhar a Copa, e esperamos que os jogadores agora façam a sua parte”.
A seleção estava concentrada em Joá, na época um pacato bairro da zona norte
que ficava distante do burburinho da Capital da República, mas teve que se
mudar para São Januário para que políticos, artistas, clérigos, trabalhadores e
desportistas em geral pudessem visitar os jogadores a fim de transmitir
confiança e desejar boa sorte.
Não
adiantou os jogadores reclamarem da falta de privacidade (embora alguns até se
mostrassem felizes com o assédio dos torcedores). Esta intervenção inoportuna
fez crescer a responsabilidade, desconcentrou o grupo e elevou alguns egos.
Na
véspera da partida decisiva, os jornais estampavam fotos da seleção com a
espalhafatosa manchete “Estes são os campeões do mundo!” (jornais foram levados
para a concentração uruguaia e serviram de motivação para uma jornada de garra
e muita dedicação dos nossos adversários).
A
motivação da família Scolari passa um pouco por isso.
Quando
os jogadores se apresentaram, Felipão e Parreira deixaram claro que o Brasil iria
ganhar a Copa porque tinha um time superior – e a prova disso havia sido o
título da Copa das Confederações em 2013 – e porque jogava com o apoio da sua
imensa torcida. Nós somos os melhores, os adversários é que devem se preocupar.
A
concentração em Teresópolis chegou a lembrar a cidadezinha suíça de Weggis de tão
má memória na Copa de 2006, onde havia de tudo – festa, autógrafos, visitas e
pagode – mas faltou a concentração necessária para moldarmos nossa atuação na
Alemanha.
À
parte a má atuação contra o Chile, o Brasil se mostrou uma pilha de nervos na
hora da cobrança das penalidades, explicação para as lágrimas e para a falta de
atitude de ninguém menos do que o capitão Thiago Silva, de quem se espera
equilíbrio e controle emocional.
O
jogo contra a Colômbia – mais uma decisão – será numa sexta-feira, e embora não
seja 13, é mais uma boa ocasião pra mandar o mau futebol pra escanteio e
festejar com os gols necessários para que o Brasil possa seguir adiante.