RESENHA OLÍMPICA
As competições de uma
Olimpíada se desenvolvem de uma forma tão intensa e paralela que fica
impossível ao analista fazer comentários pontuais durante o seu transcorrer.
Somente agora, quando terminaram os saltos, os pontos, os golpes, os mergulhos
e as corridas, é que se pode emitir opiniões e fazer uma contabilização do
celebrado certame.
Em primeiro lugar é bom que
se ressalte que imediatamente após a memorável noite de abertura, para provar
que em matéria de festa o brasileiro é imbatível, desarmou-se o clima negativo
que estava instalado por conta de inabilidades políticas, equívocos
administrativos, despreparo técnico e suspeita de muita coisa errada na
condução financeira das obras.
As peças foram se encaixando
e as coisas começaram e entrar nos eixos.
Começaram os jogos e o
público entrou no jogo, lotando estádios e locais de competições, confraternizando
com turistas e transmitindo o lado brasileiro bom de conviver, apesar das vaias
a alguns atletas argentinos.
Saímos de um clima de maledicência
e entramos numa atmosfera de alegria e descontração. Todos os temores de atentados,
calamidades e outras tragédias felizmente não se consumaram. Houve as
costumeiras reclamações – e em contraponto os usuais elogios – quanto à
segurança, organização e acomodações, mas nada que pudesse causar maiores
discussões. As ocorrências policiais também aconteceram dentro na normalidade para
um evento que congrega tanta gente.
A morte de um treinador
alemão após um acidente de trânsito, um assalto de mentira a nadadores
americanos e o assassinato de um soldado no complexo da Maré foram os pontos mais
aflitivos dos 19 dias de disputas.
O poder paralelo do crime
deu um tempo, como havia feito na Copa do Mundo, com exceção de algum fato
isolado que não teve repercussão na imprensa nacional ou internacional.
Tirando o problema do
esverdeamento da água do complexo aquático, que acabou também resolvido a
contento, nada de muito especial aconteceu com os campos de provas, como se
temia a princípio.
As provas náuticas
disputadas em mar aberto não mereceram muitas reclamações dos atletas, como receavam
os organizadores, e ninguém foi internado com intoxicação. Os casos de zica
ficam para os próximos meses.
O resultado no campo
esportivo, porém merece uma reflexão.
Com exceção das Forças
Armadas (que deram o seu valioso quinhão), a sociedade civil – escolas, clubes
– e o poder constituído, incluindo aí o COI, as Federações e o Ministério do
Esporte, não fizeram qualquer esforço para que os nossos atletas fossem mais
competitivos.
Das 19 medalhas no total –
contando ouro, prata e bronze – as Forças Armadas foram responsáveis por 13, o que
nos faz sonhar com um desempenho melhor em Tóquio-2020 se o seu trabalho tiver
continuidade e for aperfeiçoado.
Frustrou-se, porém a
expectativa de que conseguiríamos terminar entre os dez primeiros, porque na
verdade se tratava de uma expectativa, não de um planejamento. Os homens do COI
esperavam que as medalhas caíssem do céu, sem investimento e sem incentivo.
O Brasil manteve a tradição
histórica dos últimos anos e ficou atrás apenas dos Estados Unidos entre os
países do continente americano, mas como anfitrião deixou muito a desejar,
terminando as competições em 13º lugar, atrás de sete europeus (Grã Bretanha,
Rússia, Alemanha, França, Itália, Holanda e Hungria), três asiáticos (China,
Japão e Coreia do Sul) e um oceânico (Austrália).
Mesmo assim, vale a pena
considerar que esta colocação foi a melhor da história olímpica do Brasil,
desde a primeira edição dos jogos em Antuérpia-1920.
Como donos da festa, nas
últimas dez Olimpíadas somente ficamos melhor do que a Grécia em 2004, que
terminou em 15º. Dos outros anfitriões, três foram campeões em
seus domínios (Estados Unidos – duas vezes, URSS e China), a Grã Bretanha
terminou em 3º, a Austrália e a Coreia do Sul em 4º e a Espanha em 6º.
O ponto positivo, porém, foi
a conquista de 7 medalhas de ouro, superando nosso recorde de 5 medalhas
conquistadas em Atenas (em todas as 21 participações antes do Rio-2016 havíamos
conseguido apenas 23 ouros).
Quanto à lisura dos Jogos, à
parte o episódio do doping russo e da negativa do lutador egípcio em cumprimentar
o seu oponente judeu, tudo correu bem, embora tenha pegado mal a grosseria do
Super Neymar com alguns torcedores depois da quebra do tabu olímpico. É importante
que alguém lhe faça ver que assim como é preciso saber perder, é também
importante saber vencer.
Não esquecendo jamais o lema
do Barão Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas: “o importante não é
vencer, é competir”.
Sempre com postura e
dignidade.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 26/08/2016)