sexta-feira, 18 de setembro de 2015







OLHO NO LANCE! 

Os torcedores do século passado que assistiam futebol pela TV devem se lembrar de um dos bordões televisivos criados pelo locutor esportivo Silvio Luiz para animar a narração sempre que havia alguma jogada com perigo iminente de gol.
“Olho no lance!!! – gritava ele.
O título deste artigo não se deve, porém, a uma homenagem ao velho narrador – que aos 81 anos ainda se encontra na ativa – nem faz uma simples visita ao passado. Ele se deve a uma esperança futura.
Pelo andar da carruagem – eis aqui outras pérolas do Silvio – está chegando a hora de soltar um grito na garganta e conferir no replay.
Finalmente alguém está se mexendo a fim de modernizar a arbitragem do futebol e utilizar a tecnologia para corrigir as tão frequentes distorções do homem do apito, mesmo que por enquanto fique apenas nos torneios e campeonatos principais.
E a frase “Olho no lance!” tem um significado duplo porque, caso a proposta seja aprovada, o futebol passará a contar com um olho muito especial e imparcial, posto que eletrônico, para analisar os lances polêmicos do jogo.
É uma conquista dos torcedores, dos jornalistas, das redes sociais e das pessoas de bom senso, que estão fiscalizando com mais atenção as atitudes dos poderosos.
Na sua edição de domingo último, o caderno SuperEsportes de O Imparcial trouxe a notícia em primeira mão para fazer companhia ao aperitivo que acompanha a leitura do jornal e antecede o almoço familiar.
A CBF acabou cedendo às reclamações dos clubes das Séries A e B, que a cada rodada se veem prejudicados por erros grosseiros de arbitragem, e está criando um projeto a ser aprovado pela Fifa para a adoção de recursos tecnológicos na arbitragem brasileira a partir de 2016, quiçá alcançando depois uma abrangência mundial.
O projeto está a cargo do ex-árbitro Manoel Serapião Filho, atualmente diretor da Escola de Arbitragem.
Antes de entrar nos detalhes do plano da CBF, vale a pena lembrar que não é de hoje que as coisas da arbitragem são vistas com muita preocupação, e que no Brasil já aconteceram muitos casos nebulosos que chegaram a decidir campeonatos sem que houvesse uma condição de direito de que o erro fosse consertado.
Em pelo menos duas vezes os fatos se transformaram em escândalo e foram levados aos tribunais – em 1982, com a Máfia da Loteria Esportiva e em 2005, com o affair Edilson Pereira de Carvalho. E deve ter muita coisa escondida debaixo do tapete.
É de se imaginar que num país onde se descobre que a corrupção corrói as entranhas de órgãos do governo, de empresas estatais e de grandes grupos empresariais, o esporte não esteja imune. Então, qualquer dispositivo que seja criado para acabar, ou pelo menos minimizar com os malfeitos de arbitragem será imensamente bem-vindo.
Afinal, como bem disse o poeta Guimarães Rosa, “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.
Não é a primeira vez que alguém levanta esta bandeira. Desde a época de João Havelange, muitos clubes e jornalistas sugeriam para que recursos extracampo fossem utilizados para auxiliar a arbitragem e fazer resultados mais justos.
Naquele tempo a tecnologia era precária, mas mesmo assim teria sido possível evitar muita injustiça se uma comissão de notáveis pudesse ter criado um plano adequado para o momento.
Mas Havelange sempre foi contra a ideia por achar que “o futebol perderia a sua graça se não houvesse polêmica”, uma declaração própria de quem está no comando de muita bandalheira, como veio a ser provado recentemente.
A Fifa, com sua tradição secular, também sempre se mostrou contra, e o assunto tem sido página virada nas reuniões dos velhinhos da International Board, que sempre acabam com muitos tapinhas nas costas, charutos e chá com rosquinhas, mas poucos resultados de ordem prática. 
A sugestão de mudança propõe a criação de um árbitro adicional denominado Árbitro de Vídeo, que pode informar ao árbitro de campo eventuais incorreções não assinaladas ou assinaladas erroneamente após rever o lance algumas vezes pelo replay através de diferentes câmeras.
O Árbitro de Vídeo terá a atribuição de corrigir erros técnicos e disciplinares gritantes que possam alterar o resultado ou o desenvolvimento de uma partida.
Em tempo de televisão e de câmeras “Big Brother” espalhadas a torto e a direito, este sistema será um divisor de águas, servindo também como professor de arbitragem para os árbitros mal preparados ou mal intencionados.
É a tecnologia a serviço da transparência e da honestidade.   

 

 

 

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 18/09/2015)