OLHO NO LANCE!
Os torcedores do século passado
que assistiam futebol pela TV devem se lembrar de um dos bordões televisivos
criados pelo locutor esportivo Silvio Luiz para animar a narração sempre que
havia alguma jogada com perigo iminente de gol.
“Olho no lance!!! –
gritava ele.
O título deste artigo não
se deve, porém, a uma homenagem ao velho narrador – que aos 81 anos ainda se
encontra na ativa – nem faz uma simples visita ao passado. Ele se deve a uma
esperança futura.
Pelo andar da carruagem – eis
aqui outras pérolas do Silvio – está chegando a hora de soltar um grito na
garganta e conferir no replay.
Finalmente alguém está se
mexendo a fim de modernizar a arbitragem do futebol e utilizar a tecnologia
para corrigir as tão frequentes distorções do homem do apito, mesmo que por
enquanto fique apenas nos torneios e campeonatos principais.
E a frase “Olho no lance!”
tem um significado duplo porque, caso a proposta seja aprovada, o futebol
passará a contar com um olho muito especial e imparcial, posto que eletrônico,
para analisar os lances polêmicos do jogo.
É uma conquista dos
torcedores, dos jornalistas, das redes sociais e das pessoas de bom senso, que
estão fiscalizando com mais atenção as atitudes dos poderosos.
Na sua edição de domingo
último, o caderno SuperEsportes de O
Imparcial trouxe a notícia em primeira mão para fazer companhia ao
aperitivo que acompanha a leitura do jornal e antecede o almoço familiar.
A CBF acabou cedendo às
reclamações dos clubes das Séries A e B, que a cada rodada se veem prejudicados
por erros grosseiros de arbitragem, e está criando um projeto a ser aprovado
pela Fifa para a adoção de recursos tecnológicos na arbitragem brasileira a
partir de 2016, quiçá alcançando depois uma abrangência mundial.
O projeto está a cargo do
ex-árbitro Manoel Serapião Filho, atualmente diretor da Escola de Arbitragem.
Antes de entrar nos
detalhes do plano da CBF, vale a pena lembrar que não é de hoje que as coisas
da arbitragem são vistas com muita preocupação, e que no Brasil já aconteceram
muitos casos nebulosos que chegaram a decidir campeonatos sem que houvesse uma
condição de direito de que o erro fosse consertado.
Em pelo menos duas vezes
os fatos se transformaram em escândalo e foram levados aos tribunais – em 1982,
com a Máfia da Loteria Esportiva e em 2005, com o affair Edilson Pereira de
Carvalho. E deve ter muita coisa escondida debaixo do tapete.
É de se imaginar que num país
onde se descobre que a corrupção corrói as entranhas de órgãos do governo, de
empresas estatais e de grandes grupos empresariais, o esporte não esteja imune.
Então, qualquer dispositivo que seja criado para acabar, ou pelo menos
minimizar com os malfeitos de arbitragem será imensamente bem-vindo.
Afinal, como bem disse o
poeta Guimarães Rosa, “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita
coisa”.
Não é a primeira vez que
alguém levanta esta bandeira. Desde a época de João Havelange, muitos clubes e
jornalistas sugeriam para que recursos extracampo fossem utilizados para
auxiliar a arbitragem e fazer resultados mais justos.
Naquele tempo a tecnologia
era precária, mas mesmo assim teria sido possível evitar muita injustiça se uma
comissão de notáveis pudesse ter criado um plano adequado para o momento.
Mas Havelange sempre foi
contra a ideia por achar que “o futebol perderia a sua graça se não houvesse
polêmica”, uma declaração própria de quem está no comando de muita bandalheira,
como veio a ser provado recentemente.
A Fifa, com sua tradição
secular, também sempre se mostrou contra, e o assunto tem sido página virada
nas reuniões dos velhinhos da International Board, que sempre acabam com muitos
tapinhas nas costas, charutos e chá com rosquinhas, mas poucos resultados de
ordem prática.
A sugestão de mudança
propõe a criação de um árbitro adicional denominado Árbitro de Vídeo, que pode
informar ao árbitro de campo eventuais incorreções não assinaladas ou
assinaladas erroneamente após rever o lance algumas vezes pelo replay através
de diferentes câmeras.
O Árbitro de Vídeo terá a
atribuição de corrigir erros técnicos e disciplinares gritantes que possam
alterar o resultado ou o desenvolvimento de uma partida.
Em tempo de televisão e de
câmeras “Big Brother” espalhadas a torto e a direito, este sistema será um
divisor de águas, servindo também como professor de arbitragem para os árbitros
mal preparados ou mal intencionados.
É a tecnologia a serviço
da transparência e da honestidade.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 18/09/2015)