DOR DE COTOVELO
Aos 38 anos, e já com poucas
perspectivas de ser algum dia chamado para defender a seleção brasileira principal,
o goleiro Fernando Prass – ex-Grêmio, Coritiba e Vasco, e há três anos atuando
pelo Palmeiras – exultou ao ser convocado para a seleção olímpica.
Aproveitando o regulamento
que permite sejam incluídos no grupo de convocados até três atletas acima de 23
anos de idade, a CBF optou por trazer jogadores que além de adicionar
experiência ao grupo sejam fundamentais em três setores nevrálgicos – o gol, a
armação das jogadas e a lucidez e eficiência do ataque.
Para tanto vieram Prass, Renato
Augusto, do Corinthians, e Neymar, do Barcelona.
O sonho e a responsabilidade
de conquistar para o Brasil o único galardão que o país não possui – a medalha
de ouro olímpica – deram a eles um alento especial, principalmente ao
“veterano” Neymar, que chegou a abdicar da Copa América para poder fazer parte
do grupo olímpico, que pode ser uma marca histórica na sua carreira e representa
a possibilidade de restaurar o nome do Brasil dentro do seu território.
Estranhamente, Renato
Augusto não foi titular no amistoso contra o Japão, mas Neymar mesmo sem
brilhar mostrou a importância da sua presença não apenas se impondo como
capitão do time como também pelo respeito que despertou na defesa adversária.
Fernando Prass não jogou.
Pior: foi dispensado por motivo de contusão.
Uma fratura no cotovelo
direito não apenas o tirou dos Jogos como também vai afastá-lo do Palmeiras
presumivelmente até o final do ano.
É estranho que o goleiro não
tenha feito um só treino com bola antes de acusar a contusão.
Se não houve jogo, queda ou
choque do jogador com um companheiro da seleção, só resta uma alternativa: a
contusão estava sob controle no seu clube e, embora se tratasse de algo sério,
os preparadores físicos dosavam o tipo de exercício, sendo que na seleção pode
ter havido algum esforço mais intenso nesta preparação.
Jogando pelo Palmeiras,
Prass sabia como contornar o problema ao fazer as suas defesas, embora sempre
acusasse um certo mal-estar no cotovelo fatídico.
Pelo bem ou pelo mal, a
situação agora está resolvida, pois o goleiro já foi operado e aguardará o
tempo necessário para voltar, infelizmente somente apenas a tempo de brilhar
mais um ou dois anos antes de encerrar a carreira.
Para o seu lugar chegou
Weverton, do Atlético Paranaense, 28 anos.
Muitas situações de corte às
vésperas da estreia em Copas do Mundo fazem parte da história da seleção
brasileira principal.
Em 1970, o atacante titular
Rogério (Botafogo), contundido, cedeu seu lugar ao goleiro Leão (Palmeiras).
Em 1974, o goleiro Wendell (Botafogo)
foi substituído por Waldir Peres (São Paulo), e Clodoaldo (Santos) saiu para a
entrada do atacante Mirandinha (São Paulo) no grupo.
Em 1978, houve
dois cortes por contusão pré-Copa: saíram Nunes (então jogando pelo Santa Cruz),
para a convocação de Roberto Dinamite (Vasco), e Zé Maria (Corinthians), para a
chamada de Nelinho (Cruzeiro).
Em 1982, o
promissor Careca (Guarani) foi cortado e em seu lugar foi chamado Roberto
Dinamite (Vasco).
Em 1986, Mozer
(Flamengo) se machucou e Mauro Galvão (Inter) foi chamado. O volante Toninho Cerezo
(Roma) também se contundiu e foi substituído por Valdo (Grêmio).
Em 1994 Mozer (desta
vez jogando no Olympique) foi novamente dispensado, sendo chamado para o seu
lugar Márcio Santos (Bordeaux). No mesmo ano, Ricardo Gomes (PSG) cedeu seu
lugar ao zagueiro Ronaldo (São Paulo).
Em 1998
machucou-se Flávio Conceição (La Coruña) e foi substituído pelo lateral Zé
Carlos (São Paulo); Márcio Santos (São Paulo) foi cortado para a chegada de
André Cruz (Milan). Ainda em 1998, Romário foi cortado e substituído por
Émerson (Grêmio).
Em 2002, o mesmo
Émerson (agora jogando pela Roma) cedeu espaço para a chegada de Ricardinho
(Corinthians).
Em 2006, o
volante Edmilson (Barcelona) foi cortado na última hora e para o seu lugar foi
chamado Mineiro (São Paulo).
Em 2010 e 2014
fez-se uma pausa no ciclo e não tivemos nenhum corte por contusão a dias da
estreia na Copa.
Nos casos de
1970, 1994 e 2002, os jogadores cortados devem ter sentido uma certa dor de
cotovelo ao ver seus substitutos ostentando a medalha de campeão do mundo, provavelmente
ouvindo um samba-canção de Lupicínio.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 05/08/2016)