sexta-feira, 6 de junho de 2014





A PROFECIA DOS 16 ANOS

 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 05/05/2014)

 


A internet publicou há alguns dias um estudo apócrifo que prevê dificuldades no percurso do Brasil nesta Copa do Mundo. Trata-se de um trabalho nada científico, mas muito preocupante para o destino da nossa seleção. Pelo teor das previsões, é bom o torcedor se preparar com rezas, água benta e uma série de toc-toc-tocs na madeira a cada jogo do escrete.
Não há qualquer embasamento nesta teoria desastrosa; na verdade, ela entra em choque com o natural favoritismo da nossa seleção.
Afinal, motivos para este favoritismo não faltam. Somos de fato mais favoritos que os outros favoritos – teoricamente Espanha, Alemanha, Argentina, Holanda e Itália, não necessariamente nesta ordem – porque jogamos em casa e temos um time entrosado, porque tradicionalmente os adversários, na sua maioria, tremem quando estão nos enfrentando e porque Deus é brasileiro.
Alguns numerólogos, no entanto, resolveram construir uma sequência algorítmica que prova por a + b que esta não será a Copa do Brasil. Tudo por causa do número 16.
Vamos ver como a coisa funciona.
Por uma infeliz coincidência, a cada 16 anos depois do desastre de 1950, favorito ou não, o Brasil sofre um revés que significa a perda do título. A sequência cabalística obedece à progressão dos anos 1950, 1966, 1982, 1998 e finalmente chegou a 2014. Assim, é bom Felipão, Parreira e toda a trupe passar por uma benzedura generalizada antes do dia 12.
Em 1950 o Brasil era o grande favorito, e tinha a seu favor o fato de que, com os rescaldos da Segunda Guerra, muitos antigos papões (França, Tchecoslováquia, Hungria, Polônia e Argentina) não estariam presentes; além do mais, o torneio contaria com apenas treze participantes. O Brasil tinha sabidamente uma grande equipe, jogou a partida final dependendo de um empate, começou o segundo tempo vencendo por 1 x 0 e acabou sofrendo a virada para o Uruguai.
A redenção veio oito anos depois. Ganhamos em 1958 com autoridade e repetimos a dose em 1962 com uma seleção envelhecida, mas em 1966 tropeçamos de novo na praga dos 16 anos, com uma campanha pífia e a eliminação ainda na primeira fase com as derrotas para a Hungria e para Portugal.
Quatro anos mais tarde – 1970 – ganhamos novamente, e novamente com autoridade, contando com a ajuda do clima equatorial e da torcida mexicana. Depois disso enfrentaríamos um hiato de vinte anos, com a maldição da sequência nos contemplando em 1982. Neste ano o Brasil formou uma seleção de craques, uma das melhores de todos os tempos, mas perdeu para a Itália mais uma partida em que precisava apenas de um empate.
1994 nos devolveu a alegria de erguer a taça, com uma seleção compacta na defesa, iluminada no ataque por conta de Bebeto e Romário, mas definitivamente sem brilho. O adversário era a Itália, e o título veio apenas na cobrança das penalidades após uma das mais fracas finais de Copa que se tem notícia.
A bruxa dos 16 anos veio com toda a força em 1998, com o Brasil chegando à final com pinta de favorito para ser goleado pela França – 3 x 0 – depois de um inexplicável e inexplicado apagão sofrido pelo craque do time, o atacante Ronaldo, que chegou a ser hospitalizado horas antes do jogo depois de uma convulsão que provocou lágrimas e tensão nos outros jogadores.
Teria esse episódio alguma ligação com o fatalismo dos 16 anos? Não se sabe, mas tendo ou não acabou sendo uma infeliz coincidência, embora na época ninguém tivesse atentado para o problema cabalístico.
Pronto. Chegamos a 2014, exatamente 16 anos depois da derrota no Stade de France, em Saint-Denis. Ou quebramos a escrita ou institucionalizamos a maldição.
Toc-toc-toc.

segunda-feira, 2 de junho de 2014







O TERCEIRO SEGREDO DE FÁTIMA

 

O jogador Ruy Bueno Neto, também conhecido por Ruy Cabeção, esteve em visita à presidente Dilma Rousseff na companhia de outros atletas representando o Bom Senso F.C. a fim de colocá-la a par das desventuras por que passa o futebol brasileiro e das reivindicações da categoria.
Ruy, que já passou por diversos clubes – entre eles Cruzeiro, Botafogo e Fluminense – está temporariamente desempregado depois de uma temporada no Operário-MT, do qual saiu sem receber os devidos salários.
Ipso facto, ele resolveu juntar as suas mágoas às reivindicações do Bom Senso F.C. (reivindicações essas que incluem atrasos de pagamento aos jogadores) e aproveitar a oportunidade para chorar nos ombros da principal mandatária do país, que abriu uma brecha na sua agenda para escutar os boleiros.
Também faziam parte da comitiva os jogadores Alex (Coritiba), Juan e Dida (Internacional) e Gilberto Silva (sem clube), além do ex-jornalista da SporTV Toninho Nascimento, atual Secretário Nacional de Futebol e Direitos do Torcedor.
A conversa versou sobre o calendário da CBF – a quantidade excessiva de jogos que um profissional tem que atuar por ano e o período apertado das férias dos atletas. Ironicamente, versou também sobre o aperto por que passam os jogadores de clubes menos expressivos que, ao contrário, atuam apenas alguns meses durante o ano devido à falta de torneios oficiais.
Também foi exposto à presidente a falta do comprometimento dos dirigentes dos clubes em cumprir as suas obrigações contratuais, ficando às vezes meses sem pagar salários, bichos e direitos de imagem. Esta situação é menos grave para aqueles atletas que recebem salários polpudos – na verdade, poucos – mas é absolutamente crítica para a grande maioria que ganha uma mixaria por mês.
De acordo com Ruy Cabeção, ao ouvir a peroração, Dilma ficou “estarrecida”, pois jamais suspeitara desta triste realidade num país onde os clubes fazem transações milionárias, têm patrocínios também milionários, não prestam conta das suas atividades financeiras a nenhum Tribunal de Contas e não têm as obrigações fiscais de uma empresa regular (isto é, não pagam certos impostos por serem associações sem fins lucrativos). Ela não imaginava “que essas coisas acontecessem no país do futebol, no Brasil pentacampeão”.
Entende-se que a presidente, assoberbada que é com os macro problemas do país – que incluem negociação com partidos políticos, a inquietação da patuleia, viagens diplomáticas, manutenção de uma base política, preocupação com a política econômico-financeira e contatos com sua equipe de marketing para cuidar da imagem – não tenha sido devidamente informada pelos seus assessores sobre os problemas existentes na administração do futebol no Brasil.
Seus encontros com o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo – também presente à reunião, mas possivelmente menos estarrecido – devem ter se limitado aos detalhes sobre a Copa e um ou outro deslize da CBF de boa lembrança.
A situação me faz lembrar o Terceiro Segredo de Fátima, que será divulgado ao conhecimento público até 31 de outubro deste ano.
Reza a lenda que cada novo Papa que assumia o pontifício ao longo do tempo era informado sobre este terrível segredo, ficava estarrecido, chorava, e começava a orar com muita devoção. Em maio de 2000 o Papa João Paulo II divulgou o Segredo em segredo, só para alguns iniciados. Todos oraram e choraram, pois o Segredo vaticinaria coisas terríveis como uma guerra nuclear, assassinatos em massa incluindo o próprio Papa, Bispos e Cardeais e a entronização de um papa impostor – um Antipapa.
Não sei se isto é bom ou ruim para o Bom Senso F.C., mas a presidente, apesar de estarrecida, não chorou nem orou. Também não há notícia que ela, a quarta mulher mais poderosa do mundo de acordo com a revista Forbes, irá tomar alguma providência de impacto para resolver o problema.