A PROFECIA DOS 16 ANOS
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 05/05/2014)
A
internet publicou há alguns dias um estudo apócrifo que prevê dificuldades no
percurso do Brasil nesta Copa do Mundo. Trata-se de um trabalho nada
científico, mas muito preocupante para o destino da nossa seleção. Pelo teor das
previsões, é bom o torcedor se preparar com rezas, água benta e uma série de toc-toc-tocs
na madeira a cada jogo do escrete.
Não
há qualquer embasamento nesta teoria desastrosa; na verdade, ela entra em
choque com o natural favoritismo da nossa seleção.
Afinal,
motivos para este favoritismo não faltam. Somos de fato mais favoritos que os
outros favoritos – teoricamente Espanha, Alemanha, Argentina, Holanda e Itália,
não necessariamente nesta ordem – porque jogamos em casa e temos um time
entrosado, porque tradicionalmente os adversários, na sua maioria, tremem
quando estão nos enfrentando e porque Deus é brasileiro.
Alguns
numerólogos, no entanto, resolveram construir uma sequência algorítmica que
prova por a + b que esta não será a Copa do Brasil. Tudo por causa do número
16.
Vamos
ver como a coisa funciona.
Por
uma infeliz coincidência, a cada 16 anos depois do desastre de 1950, favorito
ou não, o Brasil sofre um revés que significa a perda do título. A sequência
cabalística obedece à progressão dos anos 1950, 1966, 1982, 1998 e finalmente
chegou a 2014. Assim, é bom Felipão, Parreira e toda a trupe passar por uma
benzedura generalizada antes do dia 12.
Em
1950 o Brasil era o grande favorito, e tinha a seu favor o fato de que, com os
rescaldos da Segunda Guerra, muitos antigos papões (França, Tchecoslováquia,
Hungria, Polônia e Argentina) não estariam presentes; além do mais, o torneio
contaria com apenas treze participantes. O Brasil tinha sabidamente uma grande
equipe, jogou a partida final dependendo de um empate, começou o segundo tempo
vencendo por 1 x 0 e acabou sofrendo a virada para o Uruguai.
A
redenção veio oito anos depois. Ganhamos em 1958 com autoridade e repetimos a
dose em 1962 com uma seleção envelhecida, mas em 1966 tropeçamos de novo na
praga dos 16 anos, com uma campanha pífia e a eliminação ainda na primeira fase
com as derrotas para a Hungria e para Portugal.
Quatro
anos mais tarde – 1970 – ganhamos novamente, e novamente com autoridade,
contando com a ajuda do clima equatorial e da torcida mexicana. Depois disso
enfrentaríamos um hiato de vinte anos, com a maldição da sequência nos
contemplando em 1982. Neste ano o Brasil formou uma seleção de craques, uma das
melhores de todos os tempos, mas perdeu para a Itália mais uma partida em que
precisava apenas de um empate.
1994
nos devolveu a alegria de erguer a taça, com uma seleção compacta na defesa,
iluminada no ataque por conta de Bebeto e Romário, mas definitivamente sem
brilho. O adversário era a Itália, e o título veio apenas na cobrança das
penalidades após uma das mais fracas finais de Copa que se tem notícia.
A
bruxa dos 16 anos veio com toda a força em 1998, com o Brasil chegando à final
com pinta de favorito para ser goleado pela França – 3 x 0 – depois de um
inexplicável e inexplicado apagão sofrido pelo craque do time, o atacante
Ronaldo, que chegou a ser hospitalizado horas antes do jogo depois de uma convulsão
que provocou lágrimas e tensão nos outros jogadores.
Teria
esse episódio alguma ligação com o fatalismo dos 16 anos? Não se sabe, mas
tendo ou não acabou sendo uma infeliz coincidência, embora na época ninguém
tivesse atentado para o problema cabalístico.
Pronto.
Chegamos a 2014, exatamente 16 anos depois da derrota no Stade de France, em
Saint-Denis. Ou quebramos a escrita ou institucionalizamos a maldição.
Toc-toc-toc.