ESQUEMAS TÁTICOS DO FUTEBOL – PARTE 2
A década de 1930 abrigou três Copas do Mundo – 1930, 1934 e 1938 - e todas as seleções, inclusive a brasileira, adotavam o mesmo sistema proposto pela Inglaterra, ou seja, o 2-3-5, com dois zagueiros, três jogadores no meio do campo e cinco atacantes, o que proporcionou uma média altíssima de gols por jogo (3,9 em 1930, 4,4 em 1934 e 5,5 em 1938).
Fazer muitos gols pode ser o sonho de muito time, mas ninguém gosta de tomar gols, e foi esta a tônica da mudança do sistema para que a defesa fosse reforçada.
Apesar desta tendência, nenhuma alteração significativa aconteceu na Copa de 1950, pois com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 até 1945, o mundo teve que se manter afastado das lúdicas preocupações futebolísticas. Assim, o que aconteceu em 1950 em termos táticos foi apenas uma continuação do que já existia.
O Brasil adotou este esquema, mantendo cinco atacantes enfiados – Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Já os ingleses se arriscaram no sistema WM, que na prática não passava de uma variação do 2-3-5 transformado num 3-2-2-3.
Em 1954, tanto Hungria como Alemanha reforçaram o meio-campo utilizando um 3-5-2 onde dois meias tinham liberdade para atacar deixando o time num 3-3-4. O Brasil iniciava um incipiente 4-2-4 que iria se cristalizar quatro anos depois, com a vitoriosa seleção de 1958 (embora durante o jogo, com o recuo de Zagallo, o esquema mudasse para 4-3-3). As médias em 1950 e 1954 se mantiveram altas – respectivamente 4,0 e 5,5 gols por jogo – mas em 1958 caiu para 3,4.
Não houve mudanças significativas em 1962, mas em 1966, embora o Brasil mantivesse o 4-3-3, a Inglaterra foi campeã com o 4-4-2. O 4-3-3 perdurou até 1982, quando o meio campo ficou mais povoado e o ataque se resumia a um ou no máximo dois jogadores. Durante este período - 1962 a 1982 - a média de gols nas Copas caiu para a casa dos 2,7.
A volta dos três zagueiros em 1986 é atribuída por muitos estudiosos ao futebol proposto pela Dinamarca; outros acham que isso foi criado pelo técnico Carlos Bilardo, que foi campeão com a Argentina. Todos concordam porém que o esquema de três zagueiros foi a volta do WM inglês mais aprimorado. A média de gols continuou baixa devido ao defensivismo, registrando 2,6 em 1986 e 2,2 em 1990 (a pior da história ao lado da Copa de 2010).
A partir daí, com ligeiras variações passando de 4-5-1, 4-2-3-1, 4-3-2-1 ou 3-4-2-1 as seleções passaram a jogar com apenas um atacante fixo que se tornava um marcador quando o adversário tinha a posse da bola, num inacreditável 4-5-1-0, apostando as fichas num velocista que pudesse recuperar a bola e partir para um contra-ataque ou receber um lançamento nas costas da zaga adversária.
Esta preocupação defensiva manteve o baixo patamar de gols nas Copas de 1994 até 2014, que ficou na média de 2,5.
Nos últimos dez anos, foi enfatizada a “posse de bola” - nada muito moderno, pois eu me lembro das preleções do técnico e coordenador da S.E. Tupan Aurino Vieira na época em que eu presidi a agremiação, durante os anos 1990. Aurino dizia da importância de ter a posse da bola, pois “quando a bola está em nosso poder, o adversário não irá chutá-la para o nosso gol”.
Esta teoria está sendo revista no futebol dos últimos anos pois as equipes estão desdenhando da posse de bola, deixando-a em poder do adversário para decidir a partida com uma sólida formação defensiva e um contra-ataque mortal, baseado numa perfeita troca de passes, próxima ao erro “zero”, como tem feito o Corinthians, por exemplo.
(Artigo publicado no jornal O Imparcial de 19/07/2017)