terça-feira, 3 de dezembro de 2013


 
 
A ENGENHARIA DOS ESTÁDIOS


A quantidade de acidentes que têm acontecido ultimamente nos estádios em construção começa a preocupar e faz a gente pensar em mil conjeturas.
Não sou engenheiro nem sequer técnico em edificação, mas percebo claramente que existe algo de errado nesta estatística trágica.
Primeiro, considere-se que o caríssimo projeto foi sugerido e aprovado pela FIFA que, perfeccionista como é, certamente exigiu o tal padrão de qualidade nos seus mínimos detalhes.
Ademais, supõe-se que o preço elevado da obra pressupõe uma mão-de-obra de primeiro mundo e um material de primeiríssima qualidade, até pelo nome das empreiteiras envolvidas.
Afinal, dos 16 estádios que foram construídos ou reformados – 12 deles em função da Copa, portanto dentro do rigor das exigências citadas – 7 apresentaram problemas sérios e algumas fatalidades, isto é, mais de 40 % do total (isso sem contar o Engenhão, que foi interditado em maio deste ano porque a cobertura ameaçava cair).
Imagine o leitor que calamidade seria se este percentual fosse aplicado a todas as obras de engenharia erigidas no Brasil!
Veja só que histórico assustador, digno ser mencionado em cursos, palestras e seminários sobre segurança do trabalho e discutido pelo CREA a respeito das práticas existentes na fiscalização de obras:
Maracanã, agosto de 2011 – um trabalhador foi para os ares ao tentar abrir a tampa de um tambor de aço com um maçarico de solda. Parece que sobreviveu.
Estádio Mané Garrincha, junho de 2012 – um operário caiu de uma altura de 30 metros. Esse, infelizmente, não sobreviveu. Não usava cinto de segurança.
Arena Grêmio, janeiro deste ano – um operário também morreu ao cair da altura de 5 metros, após sofrer uma descarga elétrica. Este mesmo estádio apresentou problemas depois de pronto, quando um alambrado não resistiu à pressão da torcida durante o jogo Grêmio x LDU, foi amassado como se fosse feito de papel e feriu sete torcedores.
Arena Amazônia, Manaus, março – um operário caiu ao se desequilibrar quando tentava passar de uma viga para um andaime. Morreu.
Arena Palestra, abril – uma viga de concreto desabou – altura não mencionada – e matou um operário.
Arena Fonte Nova, maio – antes da Copa das Confederações, parte da cobertura ruiu após uma chuva forte. Não houve vítimas.
Arena Corinthians, semana passada – dois mortos no tombamento de um guindaste que suspendia uma estrutura metálica. O guindaste, com a capacidade de erguer uma tonelada e meia perdeu o ponto de equilíbrio e desabou ao movimentar uma carga de 400 quilos.
Com a palavra, os peritos.
Alguma coisa, com certeza, está sendo feita de forma errada. É um percentual muito alto de desastres para que se possa atribuir a apenas mais uma fatalidade, e esta cadeia de infortúnios deve ser descontinuada.
Pode se tratar de algum erro de projeto ou mesmo de cálculo, mas isto é altamente improvável. O fator mais provável deve estar em alguma destas alternativas ou até em uma combinação delas, pois todas exalam o mau cheiro da negligência, da gambiarra, da irresponsabilidade, da ganância ou da pressa em concluir a obra: falta de gerenciamento, uso de material inadequado, mão-de-obra barata e não qualificada ou falha na operação e nos procedimentos.
Qualquer que tenha sido o motivo, com certeza não terá sido um simples acaso. Cabe à perícia descobrir o que de fato está acontecendo para que a Justiça possa cobrar responsabilidades, se é que algum dia venha a fazê-lo.