A ENGENHARIA DOS
ESTÁDIOS
A
quantidade de acidentes que têm acontecido ultimamente nos estádios em
construção começa a preocupar e faz a gente pensar em mil conjeturas.
Não
sou engenheiro nem sequer técnico em edificação, mas percebo claramente que
existe algo de errado nesta estatística trágica.
Primeiro,
considere-se que o caríssimo projeto foi sugerido e aprovado pela FIFA que,
perfeccionista como é, certamente exigiu o tal padrão de qualidade nos seus mínimos
detalhes.
Ademais,
supõe-se que o preço elevado da obra pressupõe uma mão-de-obra de primeiro
mundo e um material de primeiríssima qualidade, até pelo nome das empreiteiras
envolvidas.
Afinal,
dos 16 estádios que foram construídos ou reformados – 12 deles em função da
Copa, portanto dentro do rigor das exigências citadas – 7 apresentaram
problemas sérios e algumas fatalidades, isto é, mais de 40 % do total (isso sem
contar o Engenhão, que foi interditado em maio deste ano porque a cobertura
ameaçava cair).
Imagine
o leitor que calamidade seria se este percentual fosse aplicado a todas as
obras de engenharia erigidas no Brasil!
Veja
só que histórico assustador, digno ser mencionado em cursos, palestras e
seminários sobre segurança do trabalho e discutido pelo CREA a respeito das
práticas existentes na fiscalização de obras:
Maracanã,
agosto de 2011 – um trabalhador foi para os ares ao tentar abrir a tampa de um
tambor de aço com um maçarico de solda. Parece que sobreviveu.
Estádio
Mané Garrincha, junho de 2012 – um operário caiu de uma altura de 30 metros.
Esse, infelizmente, não sobreviveu. Não usava cinto de segurança.
Arena
Grêmio, janeiro deste ano – um operário também morreu ao cair da altura de 5
metros, após sofrer uma descarga elétrica. Este mesmo estádio apresentou
problemas depois de pronto, quando um alambrado não resistiu à pressão da
torcida durante o jogo Grêmio x LDU, foi amassado como se fosse feito de papel e
feriu sete torcedores.
Arena
Amazônia, Manaus, março – um operário caiu ao se desequilibrar quando tentava
passar de uma viga para um andaime. Morreu.
Arena
Palestra, abril – uma viga de concreto desabou – altura não mencionada – e matou
um operário.
Arena
Fonte Nova, maio – antes da Copa das Confederações, parte da cobertura ruiu
após uma chuva forte. Não houve vítimas.
Arena
Corinthians, semana passada – dois mortos no tombamento de um guindaste que
suspendia uma estrutura metálica. O guindaste, com a capacidade de erguer uma
tonelada e meia perdeu o ponto de equilíbrio e desabou ao movimentar uma carga
de 400 quilos.
Com
a palavra, os peritos.
Alguma
coisa, com certeza, está sendo feita de forma errada. É um percentual muito
alto de desastres para que se possa atribuir a apenas mais uma fatalidade, e
esta cadeia de infortúnios deve ser descontinuada.
Pode
se tratar de algum erro de projeto ou mesmo de cálculo, mas isto é altamente
improvável. O fator mais provável deve estar em alguma destas alternativas ou
até em uma combinação delas, pois todas exalam o mau cheiro da negligência, da
gambiarra, da irresponsabilidade, da ganância ou da pressa em concluir a obra:
falta de gerenciamento, uso de material inadequado, mão-de-obra barata e não
qualificada ou falha na operação e nos procedimentos.
Qualquer
que tenha sido o motivo, com certeza não terá sido um simples acaso. Cabe à
perícia descobrir o que de fato está acontecendo para que a Justiça possa
cobrar responsabilidades, se é que algum dia venha a fazê-lo.