sábado, 22 de dezembro de 2018






SINFONIA NOTURNA
(Augusto Pellegrini)

Ao acender o abajur na mesa de cabeceira
Sentiu na alma uma imensa alegria
A luz com seu fulgor se espalhou pelas beiras
E pôs fim às sombras, como se fosse dia

Observou na mesa os livros que ama ler
Que falam para a sua alma e que lhe dão prazer
Os personagens, todos juntos, lhe fazem companhia
Na solidão da madrugada que ora se inicia

Sentiu o ar da noite entrar pela janela aberta
E ouviu o canto musical e único do vento
Com mil imagens feitas no seu pensamento
Até cerrar os olhos na noturna sesta

À noite, a natureza impera nua, pura e solta
Insetos de asas vão em vêm, fazem a festa
E o gato, enrodilhado no lençol da cama
Faz companhia ao dono, como um cão de escolta

Então, luz apagada, começam a surgir os sonhos
E aí o inverossímil cresce por inteiro
O gato já mudou de lado, e o travesseiro
Guarda o calor do rosto suado e dos seus poros

Amanhece, a luminosidade atravessa a janela
A sinfonia noturna toda se modificou
O gato não mais dorme, tristonho olha a tigela
E aguarda que o dono ponha leite dentro dela

Dezembro 2018

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018








NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

INFOMANIA

If you regularly send a quick text message while talking to someone, or frequently check your e-mails during your working day, you could be suffering from a new and widespread addiction, potentially more harmful to your concentration than anything else! Sufferers of INFOMANIA are distracted from daily tasks because they have the constant urge to read and reply to electronic messages.   

“The abuse of “always-on” technology has led to a nationwide state of “INFOMANIA” where UK workers are literally addicted to checking e-mail and text messages during meetings, in the evening and weekends”.
(999 Today, 22nd April 2005)

TRADUÇÃO

Se você tem a mania de mandar mensagens de texto enquanto fala com alguém ou passa o tempo todo checando seus e-mails durante a sua jornada de trabalho, você pode estar sofrendo de um novo vício que se espalha atualmente por todo o mundo, potencialmente mais prejudicial para a sua concentração do que qualquer outra coisa.  Aqueles que sofrem de INFOMANIA não mantêm a concentração nas tarefas do dia-a-dia porque têm a necessidade constante de ler e responder suas mensagens eletrônicas.
  
“O abuso de estar constantemente ligado na tecnologia tem conduzido a um estado de “infomania” em nível nacional, pois os trabalhadores do Reino Unido estão literalmente viciados em checar seus e-mails e mensagens de texto durante reuniões, à noite e em fins de semana”.


terça-feira, 18 de dezembro de 2018






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 08/12/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM 106,9 Mhz
São Luís-MA


THE BOSSA TRÊS

A descoberta da harmonia jazzista como parte da música brasileira foi uma revolução mais duradoura e de maior abrangência do que a bossa nova em si. Músicos que tocavam Bill Evans, Dave Brubeck, Thelonious Monk e Oscar Peterson no recôndito dos seus apartamentos da Zona Sul carioca puderam enfim levar a sua musicalidade temperada de jazz para os palcos da cidade e de outros rincões. Entre os grupos que se formaram - Zimbo Trio, Tamba Trio, Jongo Trio, Manfredo Fest Trio, Pedrinho Mattar Trio, Bossa Jazz Trio, Sambalanço Trio - todos liderados por estupendos pianistas como Amilton Godói, Amilson Godói, Luiz Eça, Cesar Camargo Mariano, Cido Bianchi, Pedrinho Mattar, Manfredo Fest, Tenório Jr. e Sergio Mendes, entre outros, e contando com coadjuvantes do nível de Luiz Chaves, Sabá e Helcio Milito, por exemplo, deram início à moderna música instrumental brasileira, que originou e tem originado diversos grupos de elite. O nosso destaque de hoje vai para o The Bossa Três, formado pelo pianista Luiz Carlos Vinhas, pelo contrabaixista Sebastião Neto e pelo baterista Edison Machado, todos músicos fora de série  que apresentam um setlist selecionado - "Blues Walk" (Clifford Brown), "Céu e Mar" (Johnny Alf), "Influência do Jazz" (Carlos Lyra), "Menina Feia" (Oscar Castro Neves) e "Zelão" (Sergio Ricardo) entre outras.   

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                     





DESVENTURAS DE UM FIM DE TARDE
(Excerto)

A maré baixa colocava o mar lá na lonjura, e uma imensa faixa de areia úmida separava a água esverdeada – que no momento se apresentava tranquila, parecendo uma imensa lagoa – dos bares rústicos de madeira construídos sobre a duna.
          O céu totalmente azul dispensava qualquer nesga de nuvem, e o sol assoprava o seu bafo quente sobre a pictórica paisagem tropical.
          Espalhados pela areia podiam ser vistos pequenos restos de coisas que o mar havia vomitado antes de começar o seu recuo, num fenômeno que se repetia a cada dia por incontáveis séculos.
          A orla estava quase deserta – afinal era uma terça-feira, três horas da tarde – e poucos boas-vidas tinham tempo para se aventurar a uma caminhada na praia ou a um instante de lazer debaixo daquela quase brisa que soprava para reduzir o calor. Algumas crianças aproveitavam a calmaria da beira da praia para brincar, acompanhadas por senhoras maduras com cara de avó. Um ou outro cachorro exercitava sua corrida pouco olímpica à cata de gravetos atirados pelos guris. Um velho senhor fazia meias flexões até onde sua coluna dorsal podia aguentar.
          O bar da praia também estaria vazio, não fossem as presenças de um casal que trocava juras de amor numa mesa distante e de dois inseparáveis amigos, que tendo chegado àquele paraíso ainda pela manhã enfileiravam sobre e sob a mesa uma quantidade razoável de garrafas de cervejas.
           Zé Maria era um bancário aposentado que há tempos convencera a sua mulher que, por determinação médica, necessitava de caminhadas na praia pelo menos duas vezes por semana – e o fazia religiosamente todas as terças e quintas-feiras, sob a supervisão do próprio médico, chamado Parmênio, também aposentado.
            Enquanto estava sóbrio, Zé Maria costumava se dirigir ao antigo facultativo pelo nome de “doutor Parmênio”, em homenagem à sua vida hipocrática pregressa mas com o passar dos goles ia perdendo a reverência.        
Parmênio costumava dizer que a melhor cura para o estresse, esta inconveniência moderna que pouco a pouco vai minando a nossa capacidade vital, era espairecer e conversar com amigos, de preferência fora do ambiente doméstico, quebrando a tensão com uma cerveja gelada e deixando os problemas do lado de fora do bar.
A cumplicidade entre os dois era, portanto, filosófica e fortemente sedimentada em malte e lúpulo, e uma amizade fermentada dessa forma só podia ficar fortalecida.
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O zênite do dia havia ficado para trás já havia cinco horas e o sol estava finalizando o seu cruzeiro diário quando Parmênio e Zé Maria decidiram que já era hora de voltar para as suas casas, onde os esperava a peroração habitual das esposas.
Afinal, eles já haviam discutido tudo o que o conhecimento e a embriaguez lhes permitiram – fatos atuais sobre política e futebol, fatos de sempre sobre problemas familiares e fatos muito antigos e difusos, como conquistas amorosas nos áureos tempos em que a testosterona estava em alta – e haviam inclusive resolvido boa parte dos problemas do mundo.
O mar recomeçava a subir novamente em direção às pernas do bar, e o céu azul já adquirira uma cor de chumbo, exibindo lá no alto a mentirosa estrela D’Alva.