A CRIATIVIDADE BRASILEIRA
Na edição de domingo passado O Imparcial
publicou na sua Página Três uma interessante matéria sobre invenções brasileiras.
Vou mencioná-las novamente aqui, levando em conta que vale a pena refrescar a
memória do leitor para as coisas boas num mundo infelizmente infestado de
notícias ruins que o jornalismo tem, por missão, a obrigação de divulgar.
Além do mais, após a publicação
impressa, Gol de Placa também alimenta meu Facebook e meu blog pessoal, onde
tenho diariamente eventuais visitantes virtuais que não são necessariamente leitores
do jornal.
A principal maravilha brasileira é o
avião de Santos Dumont, cuja paternidade é também reclamada pelos países de
língua inglesa, que proclamam os Irmãos Wright como autores da façanha.
Além do aeroplano 14-Bis, outras
criações brasileiras ganharam o mundo, eventualmente com uma ou outra ressalva
de algum estrangeiro despeitado.
O primeiro balão tripulado (pomposamente
chamado de aeróstato) foi a Passarola do padre Bartolomeu de Gusmão. Também
levam a assinatura verde-amarela o delicioso doce brigadeiro, de autoria de um
confeiteiro desconhecido teve sua receita batizada em homenagem ao brigadeiro
Eduardo Gomes, político-militar dos anos 1950,
e o prosaico escorredor de arroz, inventado pela cirurgiã-dentista
Therezinha Zorowich. Adicionem-se a estes inventos a máquina de escrever com os
seus complicados dispositivos mecânicos (padre Francisco João de Azevedo) e o
orelhão (Chu Ming Silveira), atualmente em fase de extinção, além do
identificador de chamadas telefônicas – o
bina – (Nélio Nicolai) e a obra prima do engenheiro Aron de Andrade, o
coração artificial.
Por último, uma invenção que daria muito
que falar, a urna eletrônica, atribuída a um desembargador do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina chamado Carlos Prudêncio, datada de 1989.
Os estádios esportivos também receberam
a sua contribuição com a invenção do painel eletrônico patenteada em 1996 pelo
cearense Carlos Eduardo Lamboglia.
Apesar de seguir de forma ortodoxa um
regulamento que foi criado em 1863, o futebol tem também as suas “invenções” ao
longo do tempo, quer por adaptações aos tempos modernos quer por necessidade de
aperfeiçoar a didática e a nomenclatura.
Mas aí os brasileiros nem sempre entram com
o mérito da invenção.
Hoje tomei conhecimento que o reverente
minuto de silêncio imposto pela arbitragem quando do falecimento de algum
esportista de renome ou de alguma tragédia coletiva de alta comoção pública foi
obra de parlamentares portugueses para prestar uma homenagem póstuma ao
brasileiro Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior).
Apesar do “gol olímpico” (cobrança
direta de um escanteio onde a bola entra no gol sem a participação de nenhum
outro jogador), ter nascido na Escócia, tendo como registro histórico da sua
autoria o escocês Billy Alston em agosto de 1924, o lance foi batizado como tal
num jogo amistoso entre as seleções da Argentina e do Uruguai em outubro do mesmo ano, no gol anotado pelo
argentino Cesáreo Onzari (a Argentina ganhou por 2x1). O nome não teve a
intenção de homenagear ninguém, mas sim de ironizar a seleção uruguaia,
denominada Seleção Olímpica por ter se sagrado campeã olímpica no mesmo ano em
Paris.
Assim como acontece com o avião (e a
máquina de escrever), existem muitos candidatos a serem o inventor da
“bicicleta”. O brasileiros afirmam que foi Leônidas da Silva, useiro e vezeiro
em praticar a jogada, mas os chilenos consideram Ramón Unzaga como o inventor
do lance. Para os argentinos e italianos, Luis Indaco e Carlo Parola são respectivamente
indicados como os precursores da jogada.
A “paradinha”, lance em que o atacante
atrasa a cobrança do pênalti para obter vantagem sobre o goleiro, já foi
autorizada e proibida algumas vezes. Atualmente sua validade depende da
interpretação do árbitro. Seu inventor teria sido Pelé, que a utilizou pela
primeira vez num amistoso em 1962 contra o River Plate. O lance foi anulado
pelo árbitro. O próprio Pelé, no entanto, afirma que ele apenas copiou um lance
do comediante Chaves (Roberto Gómez Bolaños), que tinha Quico como goleiro.
Quanto à “cavadinha”, pênalti batido com
efeito mandando a bola sem força por cima do goleiro, o inventor seria, por unanimidade,
o jogador tcheco Antonin Panenka, em 1976. Mas como Nélson Rodrigues afirmava
que “toda unanimidade é burra”, fica valendo uma pesquisa mais apurada...
Por fim, o “gandula” aquele que repõe a
bola em jogo com maior ou menor rapidez dependendo do time que está ganhando parece
ter o seu nome derivado de um jogador argentino que jogava pelo Vasco em 1939
chamado Bernardo Gandullo, que tinha como hábito correr atrás da pelota quando
ela saía do campo de jogo para não retardar o reinício da partida. Há
controvérsias.
(Artigo
publicado no caderno de esportes do jornal O Imparcial de 25/11/2016)