quinta-feira, 2 de outubro de 2014







A SEGURANÇA NOS ESTÁDIOS 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 02/10/2014) 

A questão da segurança do torcedor está longe de ser resolvida.
Não existe uma diretriz central que emane do poder público maior e envolva em discussão todas as forças estaduais e municipais para que se chegue a um consenso sobre o grave problema da violência dentro dos estádios de futebol.
Também não existe um plano articulado, sequer pensado, das autoridades do esporte, que se omitem lindamente sempre que um estopim de violência explode nas arenas, nome bem apropriado para as ações de barbárie que nelas são cometidas.
O leitor poderá dizer que a violência está solta em toda a parte, e que uma política correta de repreensão ou prevenção está fora de cogitação, pelo menos se pensarmos em curto prazo.
Mas tudo depende do ponto de vista de quem quer atacar o problema de frente.
Em primeiro lugar, há que se dizer que apenas uma pequena parcela da população é composta por desordeiros e delinquentes. A maior parte das pessoas felizmente ainda é ordeira e comportada, pelo menos no que diz respeito ao seu comportamento urbano.
Também não deve ser difícil controlar um publico que está confinado em um único lugar, cercado por câmeras, por policiais, e com dificuldade de escapar rapidamente. Ou seja, controlar a violência dentro dos estádios não é definitivamente uma coisa do outro mundo.
Pode-se começar por cadastrar os torcedores quando da compra dos ingressos, e quem for cadastrado bastará apresentar a identidade, uma senha ou um cartão previamente obtido na entrada do estádio.
Assim, os torcedores deixariam de ser anônimos e pensariam duas vezes antes de cometer atos criminosos.
Pode-se, em paralelo, controlar a entrada do torcedor, efetuando uma revista seleta e ordenada, no sentido de reter qualquer objeto que possa se constituir numa arma ou provocar tumulto.
Os clubes devem se responsabilizar pelas suas torcidas organizadas, entidades que nascem dos próprios clubes e são por eles mantidas; assim, qualquer deslize cometido por torcedores organizados devem ser creditados aos clubes, que se obrigam a denunciar os infratores sob a pena de serem corresponsáveis pelos atos criminosos que venham acontecer.
Uma corrente prega que, sendo uma partida de futebol um evento particular, a segurança do evento caberia aos organizadores, no caso às Federações e aos clubes envolvidos.
Esta corrente afirma que a força policial não tem competência para cuidar da ordem geral e do bom comportamento dos torcedores porque os policiais militares são despreparados para lidar com este tipo de situação.
Todos, porém, estão de acordo que a polícia militar deva agir nas áreas fora do estádio, o que se configura em um grande contrassenso, pois os policiais e os torcedores no caso são os mesmos.
O que falta, na verdade, é uma legislação mais ágil que possa fazer com que os delinquentes que promovem brigas e arruaças sejam punidos sem demora, e que a punição seja educativa e pecuniária.
O Ministério Público de alguns estados querem de fato retirar o policiamento de dentro dos estádios. Não cabe aqui a discussão se isto está certo ou errado, mas cabe a curiosidade de saber por que não existe um plano de ação que tenha abrangência nacional e seja patrocinado por todas as forças jurídicas do país – Ministério da Justiça, Secretarias de Segurança Pública, OAB, Ministério Público, e que tais?
Os doutores da lei fariam um grande favor ao esporte se colocassem em prática uma cruzada contra a violência nos estádios, o que a iniciativa particular – quer por descaso, quer por incúria, quer por incompetência ou quer pela falta de recursos para bancar o custo da operação – não consegue.

terça-feira, 30 de setembro de 2014






AS ORIGENS DO MUNDISL INTERCLUBES 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 30/09/2014) 

Na última quinta-feira nós fizemos um comentário geral sobre o Campeonato Mundial de Clubes, a sua evolução desde que ele foi inicialmente jogado em 1960 e qual foi a participação vitoriosa dos clubes brasileiros.
Independentemente da história que acompanha este torneio, Sepp Blatter se manifesta agora para estabelecer uma decisão polêmica: a Fifa irá reconhecer a conquista do Palmeiras na Copa Rio de 1951 como título mundial.
Isto soa como um belo presente de aniversário, no ano em que o alviverde completa o seu centenário, e merece uma explicação.
Até a década de 1950 as disputas entre equipes sul-americanas e europeias praticamente se resumiam a amistosos eventuais ou a excursões que os clubes faziam, enfileirando um punhado de jogos ao longo de um mês ou mais.
A primeira tentativa de se fazer uma competição forte com equipes de diferentes países aconteceu em 1909 com o Troféu Sir Thomas Lipton, mas este torneio contou apenas com equipes europeias.
Animada com o sucesso da Copa do Mundo de 1950, a CBD – Confederação Brasileira de Desportos contou com o apoio da prefeitura do Rio de Janeiro para organizar um torneio do qual participariam alguns clubes convidados, todos campeões ou recentemente vitoriosos nos seus respectivos países.  
Com o aval da Fifa, foi então disputado em 1951, no Rio de Janeiro e em São Paulo, o Torneio Internacional de Clubes Campeões – Copa Rio, com a participação da elite do futebol mundial da época, ou seja, Sporting (Portugal), Austria Viena (Áustria) e Nacional (Uruguai) no grupo do Vasco da Gama, e Juventus (Itália), Estrela Vermelha (Iugoslávia) e Nice (França) no grupo do Palmeiras.
Foi um título suado, pois o Palmeiras, goleado pela Juventus por 4x0 na fase de grupos, ainda conseguiu se classificar em segundo lugar para depois eliminar o poderoso Vasco em pleno Maracanã com uma vitória e um empate (2x1 e 0x0), e foi disputar o título contra a Juventus, vencendo no Pacaembu por 1x0 e segurando um empate de 2x2 no Maracanã.
Dizem os jornais da época que quando os jogadores retornaram, de trem, para São Paulo, cerca de um milhão de torcedores se comprimiam para festejar a recepção do time.
De fato, a imprensa esportiva dos países participantes tratou o torneio como sendo realmente uma disputa pelo título mundial de clubes.
Mas a Fifa é um organismo estranho, cheio de incongruências.
Ao mesmo tempo em que declara o Palmeiras campeão mundial interclubes em 1951, ela aparentemente desconhece todos os títulos conquistados de 1960 até 2004, durante a era da Copa Intercontinental e depois da Copa Toyota – e a rigor o próprio título que está outorgando ao alviverde – ao enfatizar que “mas o primeiro campeão mundial de clubes é o Corinthians”, pelo título conquistado em 2000.
Outra incongruência é não considerar o Fluminense, vencedor da mesma Copa Rio, em 1952, também campeão mundial de clubes.
Em 1952, a Copa Rio voltou a ser disputada, mudando de nome para Copa Rio Internacional, com o grupo do Rio reunindo Fluminense, Peñarol (Uruguai), Grasshoppers (Suiça), Sporting (Portugal), e o grupo de São Paulo trazendo Corinthians, Saarbrucken (Alemanha), Libertad (Paraguai) e Austria Viena (Áustria).
Os organizadores não ficaram satisfeitos com a recusa de a Juventus (Itália) e o Racing (Argentina) de participar do torneio e ficaram mais insatisfeitos ainda quando o Peñarol abandonou a competição nas semifinais após seus jogadores serem agredidos pela torcida na partida de ida contra o Corinthians disputada no Pacaembu.
O Fluminense ganhou o título em duas partidas disputadas no Rio contra o Corinthians – o Pacaembu havia sido vetado por causa dos problemas das semifinais – com uma vitória de 2x0 e um empate em 2x2.   

  





MUNDIAL DE CLUBES   

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 25/09/2014) 

O ano de 1960 marcou uma nova era na ordem do futebol mundial. Foi quando foi oficializada a disputa para definir finalmente qual seria o melhor clube do mundo, tomando como parâmetro os campeões da Europa e da América do Sul.
Naquele tempo não fazia qualquer sentido que fizesse parte da festa algum clube representando a Ásia, a África, a Oceania, a América do Norte ou a América Central, cujo futebol era incipiente.
O torneio, que na verdade era apenas uma disputa entre os campeões continentais, se chamava Copa Intercontinental e consistia de dois jogos – ida e volta – que definiam o “campeão do mundo”. O primeiro vencedor foi o Real Madrid, que goleou o Peñarol do Uruguai por 5x1 em Madri depois de um empate sem gols em Montevidéu.
Neste formato, o futebol brasileiro triunfou duas vezes, ambas com o Santos, em 1962 e 1963.
O sistema permaneceu inalterado até 1979, quando problemas financeiros e a relutância dos europeus em jogar na América do Sul, assustados com o comportamento da torcida, fizeram com que a decisão passasse a ser realizada num único jogo, em campo neutro.
O palco escolhido foi o Japão – que mostrava interesse em fazer seu futebol crescer – sob o patrocínio da Toyoya, sempre na cidade de Tóquio (com exceção dos três últimos anos, quando a final foi realizada em Yokohama), e a disputa passou a se chamar Copa Europeia/Sul-Americana Toyota.
Seu primeiro vencedor, em 1980, foi o Nacional de Montevidéu, que bateu o Nothingham Forest, da Inglaterra, por 1x0.
A partir daí foram mais 25 anos, sendo a última edição realizada em 2004 com a vitória do FC Porto por 8x7 nos pênaltis contra o Once Caldas, da Colômbia.
Neste tipo de edição o Brasil foi campeão em 1981 com o Flamengo, em 1983 com o Grêmio e em 1992 e 1993 com o São Paulo.
Ao alvorecer o século 21, Sepp Blatter decidiu chancelar a disputa e transformá-la num torneio da Fifa, com a participação dos  campeões dos outros continentes. Esta democratização tinha um forte componente financeiro, pois a Fifa se cercou de patrocinadores fortes e construiu um torneio altamente lucrativo. O local escolhido para fazer o primeiro teste foi o Brasil. O ano era 2000 e os critérios de escolha e indicação dos clubes participantes foram bastante discutíveis. O Corinthians conquistou a primeira edição ao vencer nos pênaltis um outro clube brasileiro, o Vasco da Gama, por 4x3.
Apesar de ter sido um torneio bissexto e realizado de uma forma experimental, a Fifa o considera válido para efeito de estatísticas, de modo que o Corinthians é de fato o seu primeiro campeão.  
Na prática, porém, o Campeonato Mundial de Clubes começou mesmo em 2005, após um hiato de quatro anos, e teve o São Paulo como campeão ao bater o Liverpool por 1x0.
A partir daí, após nove disputas, os brasileiros conquistaram o torneio outras duas vezes – o Internacional, em 2006, e o Corinthians, em 2012 – somando então 10 títulos em 30 disputas. 
Depois de quatro disputas realizadas no Japão, também em nome da democratização e globalização do futebol, a Fifa decidiu fazer um rodízio dos países que hospedam o Mundial de Clubes, indicando os Emirados Árabes e Marrocos como sede.
Desde que o Campeonato Mundial de Clubes começou a abranger todos os continentes, apenas dois clubes que não fizeram parte dos blocos europeu e sul-americano conseguiram chegar à final – Mazembe, da República Democrática do Congo, e Raja Casablanca, de Marrocos – mas ambos foram derrotados na final, respectivamente para a Internazionale, de Milão, e para o Bayern, de Munique.