sábado, 15 de dezembro de 2018






HARLEM NEGROES

(Augusto Pellegrini)

 A história do negro nos Estados Unidos começou efetivamente em 1609 com a chegada dos primeiros navios trazendo escravos, mas a sua participação na sociedade se deu apenas duzentos anos depois. Esta intensificação aconteceu realmente a partir do final do século XIX, mas veio de forma tão rápida e eficiente que em menos de trinta anos fez florescer no país, de uma maneira inesperada e fascinante, uma forte cultura afro-americana.
Este crescimento, principalmente aquele referente ao período compreendido entre o início da década de 1920 até meados dos anos 1930 teve como principal referência a região de Nova York, especificamente o bairro do Harlem, e ficou conhecido como “New Black Movement” (“Novo Movimento Negro”) nome dado em homenagem a uma antologia escrita por Alain Le Roy Locke, considerado o Pai do “Harlem Renaissance” (“Renascimento do Harlem”), alusão feita em comparação ao Renascimento europeu, que nos séculos XV e XVI elevou as artes – como a pintura, a música e a literatura – a patamares antes nunca vistos.
Locke escreveu “The pulse of the Negro world has begun to beat in Harlem” (“A pulsação do mundo negro começou a bater no Harlem”), e a frase serviu de lema para o movimento.
O bairro era chamado de “Negro Metropolis” – a Metrópole do Negro – pelos intelectuais e noctívagos de todos os tipos que para lá convergiam, entre os quais artistas, professores, pensadores, bêbados e boêmios de todos os padrões, todos integrados a seu modo na causa negra.
Durante o período deste Renascimento afro, os negros que habitavam o bairro do Harlem pareciam viver em um território totalmente à parte, imunes aos diversos tipos de preconceito, apesar da política racista da época que imperava em outros rincões dos Estados Unidos. Lá no Harlem o negro se sentia seguro e praticamente inatingível, compartilhando com seus pares um clima de igualdade e fraternidade.
O que ocorria, na verdade, era uma inversão de valores.
No Harlem havia bares, cabarés e casas de diversão onde somente os negros frequentavam, não porque fosse proibida a entrada de brancos, mas porque os brancos simplesmente não se sentiam à vontade dentro de um ambiente tão especialmente fabricado para os negros, que usavam um linguajar característico e curtiam a sua música e as suas idiossincrasias.
O Harlem foi a casa de muitos negros importantes também em nichos de arte que não tinham relação com o jazz ou com a música. Vale a pena citar alguns desses intelectuais:
James Mercer Langston Hughes (poeta, dramaturgo, roteirista e ativista político), foi um dos primeiros inovadores da então nova forma literária chamada poesia-jazz. “The calm, cold face of the river asked me for a kiss” (“A face fria e calma do rio me pediu um beijo”).
Zora Neale Hurston (novelista, contista, folclorista e antropóloga), tem uma vasta obra que ainda faz muito sucesso entre os leitores, em plena segunda década do século XXI. Those that don’t got it, can’t show it. Those that got it, can’t hide it” (“Aqueles que não tiveram não podem mostrar. Aqueles que tiveram, não conseguem esconder”).
Jessie Redmon Fauset (editora, poeta, ensaísta, romancista e educadora), costumava explorar nos seus livros o tema do negro na classe média. To be a colored man in America... and enjoy it, you must be greatly daring, greatly stolid, greatly humorous and greatly sensitive. And at all times a philosopher...” (“Para ser um negro na América... e gostar, você deve ser muito ousado, completamente indiferente, muito bem-humorado e bastante sensível. E permanentemente um filósofo”).
 Gwendolyn Bennetta Bennett (professora, poeta, jornalista e cronista cultural), além de dedicada à educação era também uma talentosa escritora.  Silence is a sounding thing to one who listens hungrily” (“O silêncio é uma coisa muito sonora para aquele que tem sede de ouvir”).
 Marita Odette Bonner (ensaísta, escritora e roteirista) foi sócia fundadora de uma irmandade de mulheres negras. She did not talk to people as if they were strange hard shells she had to crack open to get inside. She talked as if she were already in the shell. In their very shell” (“Ela não conversava com as pessoas como se elas fossem duras e estranhas couraças que ela teria que romper para conseguir entrar. Ela falava como se já estivesse dentro da couraça. Bem dentro”).
 James Weldon Johnson (escritor, advogado, educador, compositor, diplomata e ativista dos direitos civis) foi líder da Associação Nacional do Desenvolvimento dos Negros e cônsul na Venezuela e Nicarágua durante o mandato do presidente Theodore Roosevelt. “Young man, young man, your arm’s too short to box with God” (“Meu jovem, meu jovem, seu braço é muito curto para tentar atingir Deus”).
Sterling Allen Brown (professor, folclorista, poeta e crítico literário), pelo seu envolvimento com uma literatura negra bastante voltada ao blues e ao jazz, é considerado parte do movimento Harlem Renaissance, apesar de residir em outra cidade. One thing they cannot prohibit – the strong men comin’ on, the strong men gettin’ stronger… strong man… stronger…” (“A única coisa que eles não conseguem proibir – os homens fortes chegando, os homens fortes se agrupando... homens fortes... mais fortes”).
Wallace Thurman (poeta, ensaísta, jornalista e editor), apesar de ter falecido muito jovem, com apenas 32 anos, contribuiu decisivamente para a causa negra, principalmente por causa dos seus escritos incisivos. “We are mere journeymen, planting seeds for someone else to harvest” (“Nós somos simples artifices plantando sementes para outros fazerem a colheita”).
Dorothy Irene Height (educadora e ativista de direitos humanos) foi durante quarenta anos presidente do Conselho Nacional de Mulheres Negras. “We’ve got to work to save our children and do it with full respect for the fact that if we do not, no one else is going to do it ” (“Nós temos que trabalhar para proteger as nossas crianças e fazê-lo muito bem feito porque se não o fizermos ninguém o fará por nós”).
 William Edward Burghardt Du Bois (sociólogo, historiador, ativista, escritor e editor) foi o primeiro afro-americano a obter doutorado nas Universidades de Berlim e Harvard e foi um dos co-fundadores da Associação Nacional do Desenvolvimento dos Negros. Burghardt Du Bois tem, assim como Sterling Brown, uma participação honorária no Harlem Renaissance. “Now is the acceptance time, not tomorrow, not some more convenient season” (“A hora da aceitação é agora, não amanhã nem em outro momento que seja conveniente”).
Estes eram o pensamento e a atitude da elite negra Americana que ficava geograficamente e culturalmente muito acima dos seus semelhantes que habitavam o sul e o centro-oeste do país no início do século 20.
Os que foram ungidos pelas bênçãos do Harlem brindaram a humanidade com obras de alta intelectualidade e prepararam o caminho para que outros negros viessem mais tarde a exercer funções de destaque na política, na administração pública e na sociedade. Os que habitavam o mundo dos sonhos embalados pela cultura do jazz e do blues contagiaram toda uma nação com a sua arte musical, provocando um movimento que ajudou os Estados Unidos a influenciar o mundo nos anos que se seguiram.




quarta-feira, 12 de dezembro de 2018






ATENTOS, POIS!
(Augusto Pellegrini)

É engraçado como as coisas mudam
E como as coisas mudam as pessoas
Conheço gente que foi respeitável
Mas que depois de longa vida estável
Se transformou num reles coisa-à-toa

É interessante como a gente aguenta
Mas à medida que a paciência esgota
Notamos o quanto enganados fomos
E estes enganos viram desenganos
Pois nos sentimos míseros idiotas

É bom que a gente olhe com uma lente
Aqueles que se fazem de cordeiros
Pois quando surge a hora da vantagem
Eles, do alto da sua gatunagem
Nos fazem de idiotas por inteiro

É importante ficar sempre atento
Porque o inimigo age na surdina
Propõe maciamente os seus projetos
Se faz de amigo, mas é só um esperto
Com a intenção de ver nossa ruína

Por isso, cidadãos, conclamo a todos
Muita atenção para o que vai em sua volta
Passando um pente fino naqueles sujeitos
Que se fazem de seres mais do que perfeitos
E se precavendo assim de uma derrota

Te afasta, belzebu, com esse sorriso falso
Fica longe de mim, que eu te esconjuro
E leva o teu veneno e o hálito da morte
Deixe-me procurar por uma luz bem forte
Pra me livrar de vez do teu escuro

Dezembro 2018


terça-feira, 11 de dezembro de 2018






NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

EARWORM

We all know that feeling of hearing a tune on the radio and then being bothered by it for the rest of the day. Now we’ve finally got a name for “this song which keeps going round and round in my head” This is the EARWORM, invading our consciousness for several hours until it finally gets removed, often by another EARWORM.  

“The company shifted its focus from background music to foreground; the music suddenly wanted to be noticed, to implant “EARWORMS” – musical phrases you can’t get out of your head – into the disc changer of your brain”.
(Washington Post, 19th June 2005)

TRADUÇÃO

Todos nós conhecemos aquela sensação de ouvir uma música no rádio e ficar com ela na cabeça o resto do dia. Finalmente nós encontramos um nome para essa música que cisma em ficar o tempo todo na nossa cabeça. O nome é BICHINHO DE OUVIDO, que invade a nossa consciência por diversas horas durante o dia até que consegue ser removido, geralmente por outro BICHINHO DE OUVIDO.  
  
“A companhia mudou o seu foco de “música de fundo” para “música de frente”; de repente, a música quer ser notada através da implantação de “bichinhos de ouvido” – frases musicais que você não consegue tirar da cabeça – no toca-discos do seu cérebro”.