O BRASIL DE TODOS OS
TEMPOS
O jornal italiano Corriere
dello Sport publicou numa das suas matérias frias da semana uma reportagem a
respeito da “melhor seleção brasileira de todos os tempos”.
Apesar da aparente
inutilidade da pesquisa, é sempre interessante saber como os outros analisam o
nosso futebol, ou pelo menos qual é a opinião deles a respeito dos nossos
velhos e novos jogadores.
Não sei de maiores
detalhes, como quem votou e quantos votaram, mas é certo que os votantes, por
não serem torcedores brasileiros e por não terem residência no Brasil devem ter
usado da maior isenção possível, quer opinando pelo conhecimento real do
jogador, quer pelo conhecimento adquirido através da história.
A seleção escolhida foi
Gilmar; Djalma Santos, Tiago Silva e Roberto Carlos; Falcão e Didi; Zico e
Pelé; Garrincha, Vavá e Ronaldo, isto é, um inusitado 3-2-2-3, onde muita gente
ataca e pouca gente marca.
Mas escolha é escolha e
não há muito que discutir. Podemos, no entanto, analisar os critérios usados ou
alguma incoerência dos votantes.
Em primeiro lugar, notamos
uma preferência por jogadores que até os mais velhos jornalistas italianos
somente viram jogar pela televisão ou pelo cinema, caso de Gilmar, Djalma
Santos, Didi e Vavá, craques de longínquos cinquenta ou sessenta anos atrás.
Depois, agora dentro de um
raciocínio mais lógico, foram escolhidos jogadores que fizeram sucesso na própria
Itália, como Falcão (Roma, 1980-1985), Zico (Udinese, 1983-1985), Ronaldo
(Internazionale, 1997-2002 e Milan, 2007-2008), Roberto Carlos (Internazionale,
1995-1996), e mais recentemente Tiago Silva (Milan, 2009-2012).
Há também os que atuaram
em outros países da Europa, portanto mais próximos da rotina italiana, ou seja,
Didi (Real Madrid-Espanha, 1959-1960) ou mesmo Vavá (Atlético Madrid-Espanha,
1958-1961), mas estes aparentemente ficam mesmo por conta do desempenho na Copa
de 1958, disputada na Suécia.
Possivelmente jurados
brasileiros nas mesmas condições de experiência e idade dos italianos colocariam
Mauro, Ricardo Rocha ou Aldair no lugar de Tiago Silva, até por conta do seu
mau desempenho na recente Copa de 2014 (lembrando que Aldair foi destaque na
Roma de 1990 até 2003 e ainda jogou no Genoa entre 2003 e 2004).
Chama a atenção também a
escolha de Vavá num ataque que poderia contar com Leônidas, Romário ou até
mesmo Neymar (se “convocaram” Tiago Silva, que está em atividade e até curtindo
um certo ostracismo, porque não o atacante do Barcelona, candidato certo a
Melhor do Ano em 2016?).
Nas laterais os italianos
preferiram a volúpia de Djalma Santos e Roberto Carlos à arte refinada de
Carlos Alberto e Nilton Santos, mas até aí tudo bem.
Para os mais saudosistas,
talvez Zizinho tomasse o lugar de Didi na armação das jogadas, mas seria demais
esperar que os jornalistas italianos recuassem a sua pesquisa e o seu
conhecimento até 1950!
Finalizando pelo goleiro,
Gilmar me parece uma excelente escolha, sempre respeitando a trajetória de
Taffarel.
O que sobra de positivo na
lista italiana e na minha contestação é que ao longo do tempo o Brasil sempre
mostrou um futebol eminentemente ofensivo, a ponto de vermos com naturalidade
sete jogadores (oito, se incluirmos Roberto Carlos) com a vocação de jogar no
ataque em busca do gol.
Nada mais desalentador
quando analisamos estes atacantes – e uma eventual relação de “reservas”
artilheiros, como Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Tostão, Careca,
Ronaldinho Gaúcho e mais alguém que o leitor queira incluir – e comparamos com
a safra atual, insegura e atrapalhada.
O mesmo acontece com o
meio de campo criativo e ofensivo. Os italianos se lembraram de Falcão e Didi,
eu me lembrei de Zizinho, mas vale a pena colocar entre os “reservas” os craques
Bauer, Zito, Clodoaldo, Gerson e Rivellino, antes de o futebol se brutuculizar
com Mauro Silva, Dunga, Emerson e demais seguidores, dos quais Luiz Gustavo e
Fernandinho são duas versões mal-acabadas.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 08/04/2016)