sábado, 2 de março de 2019






NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

LEISURE SICKNESS

You were looking forward to some fun and relaxation over the holidays, so how annoying that you caught a cold and felt really ill. If it’s any consolation, so many people regularly have the same experience that psychologists now have a name for it – LEISURE SICKNESS: those illnesses which always seem to occur during weekends and holidays.

“The average American needs three vacation days before feeling relaxed, and 43 percent of us return being overwhelmed by the work we have to do. Then, there’s the 3 percent who develop flu-like LEISURE SICKNESS during weekends and holidays.” (Washington Post, 7th August, 2005)


TRADUÇÃO

Como é desagradável você ficar resfriado e começar a se sentir mal quando está se preparando para ter alguma diversão e relaxamento nos feriados que estão chegando! Se é que isto pode ser um consolo, muitas pessoas experimentam regularmente a mesma sensação irritante que os psicólogos estão chamando de “MAL DE LAZER”, as doenças que sempre parecem ocorrer nos feriados e nos fins de semana.

 “O americano precisa em média de três dias de folga para se sentir realmente relaxado, e 43% de nós volta do descanso ainda totalmente ligado ao trabalho que terá que fazer. Existem ainda os 3% que apresentam um MAL DE LAZER, sensação parecida com uma gripe que se desenvolve no período da folga”.
  

sexta-feira, 1 de março de 2019






O CARNAVAL DOS OUTROS
Primeira parte

O carnaval brasileiro é o mais famoso do mundo, dizem as boas e más línguas.
Não chega a haver controvérsias, inclusive pela opinião das autoridades no assunto, cronistas mundanos e turismólogos em geral, mas é bom a gente saber, do alto da nossa proverbial verdade, que existem outros Carnavais que não estes cantados pelos sambas de enredo, pelas marchas-rancho, pelas marchinhas, pelos sambas de carnaval, pelo frevo e pelo maracatu, e atualmente pelos ritmos baianos, gostem-se deles ou não.
Enquanto as escolas de samba invadem as madrugadas rasgando as passarelas do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, e enquanto animados blocos desorganizados vão arrebanhando foliões avulsos pelas esquinas movimentadas das grandes metrópoles ao som de uma charanga improvisada, outras partes do mundo vão fazendo a sua parte.
Afinal, é Carnaval, uma festa que dizem ter seu nome originado no latim “carnis levale” (adeus à carne), ou seja, adeus aos prazeres da carne, ironicamente produzida num período de cinco dias onde a carne (sem trocadilho) abunda.
Apesar de o nome ser derivado do latim, historiadores acham que o evento começou a ser festejado na Grécia entre 600 e 520 a.C., nos cultos onde se agradecia aos deuses pela fertilidade da terra, isto é, gandaia não é coisa dos nossos dias.
Nas grandes confraternizações populares da Grécia daquela época, aí incluindo os Jogos Olímpicos, os protagonistas participavam totalmente nus, vindo talvez daí o feitio dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro – aquilo que a televisão não mostra.
A tradição do carnaval grego se espalhou pelo mundo e cada povo passou a festejar de acordo com os seus próprios costumes. A Igreja Católica autorizou a comemoração pagã nos dias que antecediam a quaresma, quando as coisas seriam recolocadas nos eixos. Ao que tudo indica isso aconteceu ao redor de 590 d.C.
De acordo com a tradição, depois do período da orgia deve haver um período de abstinência, jejum e meditação – que no Brasil é usado para começar a temporada de carnavais fora de época.
O carnaval, proposto em diferentes formas, faz parte da comemoração de diversos países. Alguns tipos de Carnaval são claramente baseados nos festejos do Rio de Janeiro, é certo, mas outros se baseiam em uma cultura própria e diferem em forma e conteúdo.
O que existe de semelhante em todos eles é a data da celebração, baseada na quaresma, que marca quarenta dias de jejum – período que Cristo passou jejuando no deserto, antecedendo o domingo de Páscoa, cuja data é fixada como o primeiro domingo depois do aparecimento da primeira lua cheia na primavera do hemisfério norte (confuso, não?).
Assim, estranho que possa parecer, a fixação da data da “carnavalia” foi feita em função de um evento religioso, pois apesar dos relatos históricos que atestam a origem pagã dos festejos, a história moderna situa o início das festividades a partir da implantação da Semana Santa pela Igreja Católica no século 11, antecedidas pelos quarenta dias de jejum, a chamada quaresma.
Assim, “carnis levale” significava um adeus temporário aos prazeres deste mundo durante quarenta dias de jejum e abstinência, e para tanto os homens faziam grandes “festas de despedida”, evidentemente com muita esbórnia e salve-se-quem-puder.
O carnaval da antiguidade durava uma semana e era marcado por grandes festas onde se dançava, comia e participava de alegres libações. Os escravos ganhavam uma semana de licença para fazerem o que bem entendessem e o próprio rei entrava na farra junto com a patuleia – daí surgindo possivelmente a figura do Rei Momo.
Hoje, pelo menos pelo que se observa no Brasil, aquele rei é representado por alguns governantes e algumas celebridades que evitam o contato direto com o povo e preferem se isolar nos camarotes especiais das cervejarias ou frequentar bailes de gala isolados, cuja participação se restringe a convidados especiais.
Mas os escravos continuam tendo a sua semana de folga.  


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019







UMA BREVE HISTÓRIA DO CHORO

(Trecho do meu livro “AS CORES DO SWING”, estabelecendo uma relação entre o choro e o jazz. O livro está pronto, mas ainda não foi lançado)


No entanto, é bom que se frise que Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, esteve em Paris com Os Oito Batutas em 1922, onde chegou a interagir com algum tipo de jazz. Ele ficou por lá durante seis meses e levou um repertório composto de samba, maxixe e choro, trazendo de volta na bagagem algum charleston, ragtime e shimmy (uma espécie de dança na qual a pessoa mantinha o corpo ereto e apenas movia os ombros, famosa na época com a música de Spencer Williams “Shim-Me-Sha-Wabble”, de onde provém o seu nome).
E, apesar da pouca penetração que o jazz tinha nos ouvidos brasileiros, posto que no Brasil havia uma profunda xenofobia que torcia o nariz para as artes externas – mais tarde exacerbada pela Semana de Arte Moderna – existiam formações, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se autodenominavam orquestras de jazz, como a do violinista Dante Zanni, a Jazz Band do Batalhão Naval, a Jazz Band Sul-Americano do saxofonista Romeu Silva, algumas sociedades carnavalescas e a Carlitos et Son Orchestre, do baterista Carlos Blassifera, que foi para a França, onde se radicou em 1926. Mas, mesmo com esta pequena troca de experiências, o que no Brasil se chamaria de jazz se resumiu a algumas poucas tentativas imitativas mais ou menos canhestras.
A nossa cultura musical, assim como acontece com outros aspectos da cultura brasileira, se apoiava em um tripé que tinha a origem no índio nativo, no negro escravo e no português colonizador.
O índio foi o responsável pela criação do instrumento percussivo básico; o negro nos brindou com o canto, a dança e a alma, com muita ginga e malícia; e o português, que trouxe da Corte os instrumentos musicais – piano, violão, violino, e posteriormente os metais e as madeiras – nos presenteou com a teoria musical europeia.
Um país preocupado em descobrir a sua própria musicalidade não parecia ser o local apropriado para que uma outra música – já elaborada, recém-criada e absolutamente diferente de quase todos os matizes que faziam parte da nossa identidade na época – pudesse chegar e se desenvolver.
Dizemos “quase” todos os matizes porque o legado que o negro escravo no Brasil deixou para a música foi, em essência, o mesmo legado que a música americana recebeu do negro escravo que para lá foi mandado.
A participação do negro na música popular brasileira foi antiga e decisiva.
A exemplo dos hollers da América, no Brasil se exercitavam os pregões (outra herança de Portugal), e em contraposição aos spirituals e gospels o Brasil respondeu com rituais de cunho religioso, de onde surgiram congadas, maracatus e afoxés – que surpreendentemente deram origem a uma cultura pagã ao desembocarem nas escolas de samba a partir de 1928.
Muitas pessoas do povo, boa parte deles negros, se encontravam nas esquinas e nos quintais para fazer música popular já durante os séculos dezoito e dezenove, antes mesmo que os seus pares americanos se juntassem para organizar as suas spasm bands. Estes músicos deram início à organização dos sons e dos ritmos populares, e sem dúvida anteciparam o que viria a ser, no futuro, a música popular brasileira.
Estas bandas incipientes eram compostas por “músicos” que utilizavam uma grande variedade de instrumentos não oficiais, muitos deles totalmente fora de propósito – bambus, folhas de metal retorcidas, troncos de árvores ocos, ossos, chifres, artefatos de cerâmica, apitos e flautas rudimentares – que pouco a pouco foram sendo substituídos por instrumentos de verdade, para chegarem às portas do século vinte relativamente organizadas em forma de bandas.
Apesar da participação do negro tanto lá como cá, a distância que separava a música americana da música brasileira no início do século vinte não era só física, mas também estrutural.
A música americana tomou o caminho do jazz através de uma série de circunstâncias e de fatores sociais, históricos e religiosos, como as work songs (canto que cadenciava o trabalho dos escravos), o lamento profano do blues, a louvação religiosa dos spirituals, as marchas militares, o fim da guerra civil e da escravidão e – finalmente – o ragtime e toda a influência cosmopolita de Nova Orleans. Ela também foi influenciada sobremaneira pela a expressão vocal africana e sua escala musical intuitiva.
Como no Brasil não houve esta mesma diversidade de fatores, a influência maciça foi mesmo a dos hábitos cultivados em Lisboa e no Rio de Janeiro e da música introduzida pelos portugueses, como a modinha e a polca. É claro que também houve a influência da expressão musical africana, mas ela se fez principalmente na forma de ritmo e pulsação.
Foi dos portugueses que recebemos todo um embasamento harmônico e tonal, além dos instrumentos europeus populares mais característicos, como o piano, o bandolim (que se derivou para o cavaquinho), o violão, e em menor escala o contrabaixo, o clarinete e o violino.
Dos portugueses também adquirimos a noção de síncope, harmonia e composição. Estes elementos, com a adição do pandeiro originário da Espanha e do ritmo peculiar criado pela junção do índio e do negro, deram à nossa música popular a identidade que faltava, fazendo surgir a “música dos barbeiros” ou “dos alfaiates” – pontos onde os músicos se reuniam para tocar – o que seria responsável pelo aparecimento do choro.