Foto: Celson Mendes (no violão), Augusto Pellegrini e Antônio Vieira
EU E A
MÚSICA
(Augusto Pellegrini)
A SAGA
DO TERCEIRO PISO
Na última década do século 20
– e já se vão trinta anos – o panorama musical de São Luís era muito diferente
do atual. A vida noturna se materializava apenas nos fins de semana, geralmente
começando na sexta-feira, o que tornava o resto da semana um deserto de ideias
e de diversão.
Eventualmente aconteciam shows
durante a semana, mas na maioria das vezes se tratava de uma atração de algum outro
lugar – um cantor importado ou um instrumentista da elite – que geralmente se
apresentava no Teatro Arthur Azevedo, nos salões dos hotéis ou em jantares
“privé” para um público selecionado a dedo.
Os restaurantes, com exceção a
uns poucos lugares, faziam uma grande restrição à chamada música ao vivo interpretada
pelos ‘cantores da terra”, e a maioria dos bares ainda preferia o chamado “som
mecânico” como múic de fundo, alegando que músicos e cantores poderiam
incomodar e afastar os clientes.
A exceção foi o “reggae”, que
se desenvolveu de uma forma mais aberta e profissional, pois seus organizadores
construíram locais específicos para as bandas se apresentarem, privilegiando os
aficionados com música em altíssimo volume e com a possibilidade de dançar ao
som das pedradas ambiente.
Quando a situação começou a se
modificar, e os artistas conseguiram finalmente ampliar seus horizontes em
termos de espaço e audiência, a noite de São Luís se iluminou.
De uma forma geral, no entanto,
os shows eram bastante personalizados, isto é, a apresentação era feita por um
único cantor ou grupo, com raras “canjas” concedidas, geralmente ensaiadas e anunciadas
de antemão.
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Foi neste
clima de mudanças que apareceu o bar Terceiro Piso, que recebeu este nome por
se situar exatamente no terceiro piso de uma galeria na Cohama chamada Royal
Center.
Foi uma ideia revolucionária
concebida e executada pelo proprietário, ninguém menos que o violonista Celson
Mendes. Talvez não passasse pela cabeça de mais ninguém que um bar localizado
no terceiro andar de um centro comercial pudesse prosperar.
Mas o Terceiro Piso não apenas
prosperou como se transformou num “point” da música ao vivo todas as noites a
partir das quartas-feiras. Era para lá que se dirigiam músicos de diversas
tribos e gêneros e um público maravilhado com o que lhe era concedido ver.
Celson Mendes fazia de tudo um
pouco (mais apropriado seria dizer “de tudo, quase tudo”) pois além de tocar
violão – como manda o seu ofício – ele atendia o público, gerenciava, divulgava, fazia
a programação, abastecia e entretinha os fregueses. Era produtor, maitre,
garçom, responsável pela sonorização e também DJ.
O Terceiro Piso foi um dos
primeiros bares, senão o primeiro, a montar um show para a noite e manter o
palco livre para todos os artistas que estivessem na casa e que quisessem
mostrar o seu trabalho na base do mais puro improviso.
O time principal era geralmente
composto por Celson Mendes (violão). Julio Pinheiro (sax-tenor e flauta) e Léo
Capiba (pandeiro e voz), mas uma plêiade de cantores e instrumentistas que
frequentaram a casa deixaram o seu recado no seu período de curta duração entre
2004 e 2005.
Entre eles, os cantores Augusto
Pellegrini (que aqui relata os fatos), Antônio Vieira, Zeca do Cavaco, Luís
Mochel, Sabrina Reis, Chico Saldanha, Josias Sobrinho, Rayane, Nubia Maranhão,
Victor Vieira, Livia Amaral, Milla Camões, Tatto Costa, Anna Claudia, Lenita
Pinheiro, Lena Machado e Fátima Passarinho. Por lá também passaram os músicos
Pedro Massa (guitarra), Danuzio Lima (flauta), Jim Howard (trompete), Paulo
Trabulsi (violão e cavaquinho), Francisco Solano (violão sete-cordas), Serra de
Almeida (flauta), Paulo Pellegrini (teclado), Mayron (violão), Jeff Soares
(guitarra), Fernando Machado (clarineta), Neres (trombone), Zezé Alves
(flauta), Lázaro (pandeiro), Robson (surdo) e João Bentivi (trombone), e com
certeza outros tantos que agora me fogem à memória. Isto sem esquecer do
clarinetista brasiliense Paulo Sérgio Santos que lá compareceu durante sua
passagem por São Luís.
O Terceiro Piso me traz à lembrança
momentos inesquecíveis de música e de aconchego, um espaço amplo e confortável,
um som de qualidade, uma música de encantar os mais exigentes gostos e uns
petiscos de agradar os mais exigentes paladares. E aquela cerveja para agradar
o gosto dos fregueses, cada qual tomando a sua marca preferida...
O Terceiro Piso é uma saudosa e
agradável lembrança.