A MARATONA DE DANÇA
(excerto)
Dois trechos do meu livro “As Cores do Swing”, um passeio pela era das big
bands, já revisado, acabado e pronto à espera de uma Editora que o publique
Trecho um – Apresentação do autor
O swing nasceu em Nova York, tendo como inspiração a música de jazz,
e tendo como raízes a música que era tocada na Chicago de então. Ele também
nasceu da necessidade de se mesclar a arte da música orquestrada com a diversão
popular da dança.
Este livro procura contar a
história do swing de uma forma
simples e didática, e para tanto utiliza três componentes centrais – a ficção,
a realidade e a história. O livro também fornece ao leitor, na sua parte final,
uma boa dose de informação adicional.
A ficção mostra aspectos e
personagens pitorescos e situações que não necessariamente aconteceram, mas que
poderiam ter perfeitamente acontecido. Aqui, o leitor encontrará diálogos que
provavelmente foram travados em algum lugar, fatos que se confundem com a
realidade e pessoas que participaram anonimamente da trama sem alterarem o rumo
da verdade, tudo fazendo parte do imaginário do autor.
A realidade situa o que há
de factual por detrás da origem, do nascimento e do crescimento do swing como a música americana de maior
abrangência no mundo durante mais de trinta anos. Ela resgata os nomes daqueles
que participaram desta incrível aventura, os locais onde a música mudou o curso
da história e as ramificações e consequências que marcaram a existência e a
importância do estilo.
A história age como um
todo, e procura situar o mundo num tempo-espaço paralelo ao advento, apogeu e
declínio do swing, mostrando fatos de
natureza política, econômica, social, intelectual, cultural e científica que
fizeram parte da primeira metade do século vinte, especialmente nos Estados
Unidos.
Já as informações
adicionais entram como um apêndice que busca satisfazer a curiosidade do leitor
a respeito de diversos personagens e lugares mencionados ao longo da narrativa
e facilitar uma eventual pesquisa.
O livro foi concluído em
dezembro de 2011, mas teve sua revisão final feita em janeiro de 2019. A
história de muitos dos artistas que com a sua arte ajudaram a escrever estas
páginas também se encerrou nesta data, mas alguns destes personagens históricos
ainda estavam vivos quando da última revisão.
Finalmente, nunca é demais
lembrar que este livro também visa desmistificar o pensamento preconceituoso
ainda mantido por alguns jazzófilos exageradamente puristas, que acusam o swing de ser uma música meramente
comercial (e que, portanto, não deveria ser confundido com o “verdadeiro” jazz, esta sim, na visão
dessas pessoas, uma música pura e intelectualizada).
“As Cores do Swing” pretende demonstrar, até com
informações prestadas pelos próprios jazzistas, que o swing não é um estilo fechado em si mesmo, nem apenas mais uma
variante do jazz, mas a ponte que une o jazz tradicional e o moderno,
pavimentando com brilho e cores a história e o roteiro deste rico estilo
musical.
Trecho dois – A maratona
No início, tudo parecia muito divertido.
Alguns casais – não era o caso de Susan e
Phil – esbanjavam precocemente uma energia que iria fazer falta no futuro, sem
atentar para a duração imprevista da maratona que ali se iniciava.
Passados oito dias, lá estavam Susan e
Philip, completamente alheios ao mundo exterior, vagando como dois fantasmas,
sem conseguir sentir as pernas, magros, macilentos, com a roupa suja e
amarrotada, os sapatos rotos e os pés em pandarecos.
Lá fora o sol se punha, preguiçoso,
marcando o final de mais um dia de provação.
Do centro do ringue se espalhava um odor
acre e nauseabundo que pairava por todo o auditório, mesmo com a ventilação que
provinha de um largo portão e dos janelões laterais estrategicamente abertos.
Dos sessenta casais que haviam iniciado
a empreitada ainda restavam sete, Phil e Susan incluídos. Os pares haviam
perdido a noção de espaço, e apesar da imensidão do tablado ainda de trombavam
e se esbarravam, como que procurando um apoio inconsciente.
Os olhares sem brilho se cruzavam no
vazio, sem se ver, como se todos fossem espectros.
De repente, Susan sentiu que o chão
começou a se deslocar, como se tivesse apoiado sobre rodas. Olhou para o alto e
viu as lâmpadas de iluminação a gás girando como se fossem levantar voo,
completamente fora de foco para os seus olhos opacos.
Ela tentou resistir, mas a sensação era
mais forte. Susan foi levada pelo turbilhão, se agarrou a Philip com todas as
forças que lhe restavam e deixou cair seu corpo sobre o dele.
Ela se viu flutuando, e a dor que sentiu
quando bateu a cabeça com força no tablado fê-la pensar que o céu tivesse
desabado sobre eles.
Abriu novamente os olhos e viu Phil
também caído, a boca aberta salivando e a face pálida e sem expressão, enquanto
ouvia gritos e gargalhadas que pareciam vir de um túnel de vento.
A aventura chegara ao fim.