ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” NO DIA 12/05/2014
A SELEÇÃO QUE NÃO FOI
Agora
que já saiu a convocação definitiva para a Copa, peço ao leitor que deixe a imaginação
correr solta, como se estivesse assistindo a um filme de ficção ou envolvido em
um sonho delirante.
No
dia 12 de junho de 2014 o Brasil entra em campo para enfrentar a seleção da
Croácia pela partida inaugural da Copa e, em meio aos gritos de incentivo e da “ola”
ensaiada pela torcida ensandecida, o locutor do estádio anuncia a escalação da equipe
através dos alto-falantes, cujos nomes são mostrados no telão: Matheus
Caldeira; Lucas, Durval, Émerson e Bruno Cortez; Henrique, Fellype Gabriel,
Renato Abreu e Elkeson; Kleber Pinheiro e Osvaldo.
Pareceria
mais uma dessas desconhecidas seleções Sub-20, Sub-17 ou Sub-qualquer coisa,
não fossem as presenças de figurinhas carimbadas como Renato Abreu e Bruno
Cortez. Mas, exceção feita ao goleiro, todos esses jogadores foram ou são titulares
em clubes importantes; e todos tiveram a chance de se firmar na seleção principal,
pois foram chamados para algumas partidas preparatórias entre 2011 e 2013 contra
adversários nada desprezíveis – Argentina, Itália, Rússia, México, Escócia,
Costa Rica e Bolívia. Infelizmente – para eles – eles não conseguiram mostrar
serviço que justificasse a continuidade nas convocações.
Algumas
presenças foram deveras estranhas, como a do quarto goleiro do Corinthians,
Matheus Caldeira, do veteraníssimo Durval, do Santos (agora no Sport), e do
centro-atacante Kleber Pinheiro (do F.C.Porto, com uma passagem inexpressiva
pelo Palmeiras).
Para
o Superclássico das Américas contra a Argentina em 2011 o então técnico Mano
Menezes só podia contar com jogadores que atuavam no Brasil e chamou sete dos
onze listados acima. E Felipão, em 2013, completou a convocação para os jogos
contra a Itália, Rússia e Bolívia levando o jovem goleiro corintiano e o
são-paulino Osvaldo, embora apenas o atacante tenha atuado em uma partida.
Algumas
das promessas caíram no ostracismo ao se transferirem para clubes sem a menor
expressão internacional, como Fellype Gabriel, que foi para o Al Sharjah, dos
Emirados Árabes Unidos e Elkeson para o Guangzhou Evergrande, da China.
O
lateral-ala Cortez não deu certo no São Paulo nem no Benfica e agora está
disputando posição no Criciúma. E o famoso Renato Abreu, ex-Corinthians e
Flamengo, teve uma passagem melancólica pelo Santos e atualmente está sem
clube.
É
claro que isto acontece em maior ou menor escala durante o período de
preparação para as Copas do Mundo, mas não com esta intensidade.
Antes
da Copa de 2006 as surpresas ficaram por conta de Daniel Carvalho, Dudu
Cearense, Gustavo Nery e Afonso Alves, mas todos eles possuíam no mínimo a
experiência de atuar no exterior. Para a Copa de 2010 foram testados sem maior
sucesso os laterais Richarlyson, Juan e Mancini.
A
seleção pode até admitir um ou outro jogador sem maior pedigree, como aconteceu
com Paulo Sérgio em 1994, Zé Carlos em 1998, Vampeta em 2002 e Doni em 2010,
mas felizmente esta convocação de jogadores “impossíveis” é bastante escassa.
Um
caso emblemático diz respeito a Zagallo. Um ano antes da Copa de 1958 ele não
era cogitado e sequer havia disputado qualquer jogo pela seleção (amistosos,
Eliminatórias, Taça Bernardo O’Higgins, Campeonato Sul-Americano, Copa Roca e Taça
Oswaldo Cruz), preterido em nome de Raimundinho (do Fluminense de Feira de
Santana), de Wassil (do Bahia), de Tite (do Santos) e também de Garrincha e
Joel, que se revezavam na ponta esquerda como eventuais reservas de Pepe. No
ano da Copa, Zagallo passou a ser a terceira opção depois de Pepe e de
Canhoteiro e ganhou a convocação final porque Canhoteiro tinha medo de viajar
de avião e apreciava as noitadas mais do que o recomendável.
Pepe
chegou na Suécia se recuperando de uma contusão, Zagallo assumiu a posição e
acabou virando titular absoluto do escrete.
Sua
história vencedora a partir daí todo mundo conhece.
Augusto Pellegrini