sábado, 29 de janeiro de 2022

 


SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 13/09/2019
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

DIEGO URCOLA - APPRECIATION

O jazz chegou na Argentina no início do século 20 da mesma forma como chegou no Brasil - através de discos e revistas. Aqui nós tínhamos o samba e o chorinho, na Argentina eles tinham o tango e a milonga, e tanto aqui como lá, devido à falta da presença física de músicos de jazz, o estilo começou a ganhar força realmente apenas nos anos 1950, quando os países sul-americanos começaram a se integrar com o jazz como acontecia no resto do mundo ocidental. Isto não impediu que a Argentina produzisse grandes músicos de jazz, como Lalo Schifrin, Gato Barbieri, Hector Costita e outros, como o trompetista Diego Urcola, que abrilhanta o Sexta Jazz desta semana com o seu jazz moderno que inclui bebop, pós-bop, salsa e samba. Apresentando oito músicas de sua autoria, Urcola presta uma homenagem a alguns músicos que para ele servem como referência, como Freddie Hubbard, Hermeto Paschoal, Paquito D'Rivera, Wayne Shorter e John Coltrane. 

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

 


MIRAGEM
(Augusto Pellegrini)

Segui uma estrela-guia
Noite afora, noite adentro
Até o raiar do dia
E quando o dia clareou
Ela se mesclou de céu

E o arco-íris distante
Andei até o fim da trilha
E para o meu desencanto
Ao dobrar a última esquina
Ele se mesclou de chão

Uma cigana me disse
Para eu seguir tal caminho
Mas antes que eu percebesse
Que tal caminho era rua
Ele se mesclou de beco

O velho sábio falou
Palavras que eu nunca ouvi
E quando em mim despertou
O desejo de segui-lo
Ele se mesclou de vento

O mar ruge contra as pedras
No vai-e-vem da maré
Mas quando menos se espera
Ele ficou calmo e quieto
E então se mesclou de lago

Vejo teu sorriso franco
No retrato aqui a meu lado
Mas depois de um breve encanto
Por distração ou descuido
Ele se mesclou de nada

Então sigo procurando
Por outras coisas concretas
Elas vêm, mas vão embora
Se mesclando de miragem
Nas minhas horas incertas

Set 2017

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

 


O JAZZ COMO FATOR DE INTEGRAÇÃO
(Augusto Pellegrini)

 

No final do século 19, os Estados Unidos juntavam os cacos de uma guerra civil que durante quatro anos havia devastado os estados do sul, provocando quase um milhão de mortos.

Feita a paz, começou a luta para a criação de uma identidade nacional em um país cujas raízes haviam sido fortemente influenciadas pelos colonizadores da Grã-Bretanha, França e Espanha até que conseguisse a sua independência.
Um dos grandes entraves no aspecto social que o país teve que enfrentar foi a divisão racial entre brancos e negros, um problema que foi minimizado ao longo do tempo, mas que até os dias de hoje ainda mantém seus focos de resistência.

Paradoxalmente, no entanto, um dos fatores que ajudaram a unificar a nação nasceu exatamente deste ponto polêmico e delicado – a atuação conjunta de negros e brancos.

Apesar da busca pela integração do país, fortalecida por leis contidas em uma constituição fortemente democrática, foi o jazz o grande responsável pelo impulso necessário para que norte e sul começassem efetivamente a trocar experiências pessoais, produzindo uma intrincada e eficiente rede de informações que teve a música como tema.

A diversidade musical na passagem do século 19 para o século 20 dividia o país em regiões musicais específicas: no sul, notadamente no Alabama, Mississipi, Louisiana e Georgia, descortinava o blues, essência do que seria a base da música americana no futuro; o norte e o nordeste privilegiavam uma música que continha uma forte marca das orquestras de salão européias; o oeste e o centro-oeste cultivavam a country music dos criadores e proprietários de terras, de origem irlandesa. 

A troca de experiências entre os músicos negros autodidatas do sul e os músicos brancos elegantes do norte começou com a diáspora de grupos musicais que partiram de cidades como Nova Orleans em direção a Nova York e Chicago e foram deixando a semente pelo caminho – Kansas City, Saint Louis – fazendo com que, em pouco mais de dez anos, praticamente todo o país começasse a se unir musicalmente em torno de uma só palavra – jazz.

Esta identificação foi tão forte que se transformou em uma marca registrada dos Estados Unidos e em um fator motivador para os americanos que, por um motivo ou outro, se encontravam fora do país.

Naquele tempo – início do século 20 – a Europa era a senhora do mundo.

Países como Inglaterra, França, Itália e Alemanha possuíam uma forte liderança política, cultural e estratégica, o que lhes permitia ditar as regras de comportamento para todo o planeta.

A África era em grande parte colonizada, e mesmo a Ásia sofria uma forte influência deste colonialismo imposto sem qualquer respeito às tradições de cada povo nativo.

O Brasil não era colonizado, mas também era fascinado pelo europeísmo.

As nossas famílias mais abastadas mandavam seus filhos para Paris ou Londres a fim de completarem seus estudos e trazerem para a República recém-estabelecida toda uma bagagem de conhecimento que nos possibilitasse um crescimento “à europeia”.

Na América do Norte, no entanto, a visão de crescimento era outra, tendo como fator de integração um patriotismo exacerbado e um intenso orgulho e amor próprio, o que, ajudado por outros fatos circunstanciais – duas guerras mundiais, por exemplo – levaram o país a liderar o mundo a partir do primeiro quarto do século 20.

O principal fator de integração, no entanto, foi a disseminação do jazz, que diferenciou o país do resto do mundo em termos de música e fez ainda mais, exercendo a sua influência a tal ponto que hoje, à parte as manifestações folclóricas e típicas de cada povo, o jazz se encontra presente no cardápio musical de qualquer lugar do mundo.   

A invasão do jazz começou pela Europa e aos poucos foi tomando conta do planeta de uma maneira lenta, mas forte e irreversível.    

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

 


SAMBA DA POSSIBILIDADE  

(Renato Winkler – Augusto Pellegrini)

 

Bem que você poderia

Ser o meu amor

Para tanto bastaria

Querer e sorrir

Olhar para mim

Ser tudo, ser mais

Ser Maria, enfim

Viver de beijos

Neste jardim

Quanta beleza

Há neste desejo

 

Bem que você poderia

Me dizer que sim

Para tanto bastaria

Experimentar

Há tanto pra dar

E tanto que ser

É só deixar (tem minha mão...)

Acontecer

Sabadabada...

 

Bem que você poderia

Ser o meu amor

(que é tudo bom, quem dirá?)

Vim lhe dizer o que é belo, o que é bom   

(que é tudo bom, quem dirá?)

Vim lhe dizer o que é belo, o que é bom...

Sabadabada...

 

domingo, 23 de janeiro de 2022

 


    PÁGINAS ESCOLHIDAS

O FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)

CLICHÊS – O FILME

Então, vamos ao cinema.
Ainda sem decidir se vamos rir com Woody Allen, chorar com Kramer vs. Kramer, liberar nossa adrenalina com Stallone ou nos apaixonar por Isabelle Adjani, lavamos a cara depois de a barba feita, colocamos uma camisa decente após o banho tomado, entramos no carro e partimos para a nossa grande aventura.
O primeiro problema é o estacionamento. Num raio de quinhentos metros não há espaço nem para uma bicicleta, o jeito é parar lá longe, próximo daquele outro cinema que exibe um filme que não queremos ver e caminhar a pé, preocupado com o segundo problema.
O segundo problema é a segurança,  a nossa e a do carro. Erguemos uma prece ao Altíssimo enquanto fazemos a nossa caminhada solitária até que nos deparamos com  o terceiro problema.
Há uma fila enorme para comprar o ingresso, que rodopia cheia de pernas como uma centopeia centométrica. Depois do ingresso comprado vamos para outra fila, que aguarda o fim da sessão ziguezagueando no saguão e olhando para os cartazes expostos que anunciam os futuros sucessos de bilheteria.
A sessão finalmente termina e começa o quarto problema, a busca do lugar ideal, que é contornado após três sucessivas mudanças provocadas por chatos que falam durante a projeção, por gente que como eu muda constantemente de assento e por aquele gigante que vem ocupar a poltrona bem na frente da minha, atrapalhando visão que tenho de Elisabeth Taylor e seus chiliques.
Terminado o filme, o quinto problema – a volta para o carro estacionado, criando uma tensão digna de um filme de Spielberg, felizmente sem os vilões correspondentes (o carro está ainda lá, com sua portas, motor e pneus e tanque cheio).
Chegando em casa – é cedo ainda – ligo a televisão para descobrir que daqui a pouco será exibida a versão original, sem cortes e com legenda, de um grande sucesso de bilheteria dos anos setenta. E descubro que o grande sucesso não é outro senão aquele que acabamos de assistir na nossa aventura noturna com direito a Elisabeth Taylor e seus chiliques.

(Uma rápida digressão à tecnologia e seus efeitos no bem-estar das pessoas)