O FUTEBOL SOB MEDIDA
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES”
DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 20/03/2015)
Em meio à
turbulência política que agita o país com manifestações de um lado e
investigações do outro, o governo finalmente resolveu encaminhar para discussão
a Medida Provisória que visa dar oxigênio aos clubes que estão cada dia mais
sufocados em dívidas, em virtude da sua própria (dos clubes) incompetência.
É claro que
para colocar novamente o futebol brasileiro nos eixos não bastam apenas medidas
políticas, direcionamento administrativo e sanções punitivas, mas a coisa pode
começar por aí.
A Medida
Provisória em questão dará condições para que os clubes endividados ganhem um
fôlego para quitar os seus débitos e busca dar aos dirigentes dos clubes
brasileiros uma derradeira oportunidade para colocar a casa em ordem.
Há quem apoie
a posição do governo, que atende aos apelos dos clubes. Mas há também os que
criticam, pois temem que esta Medida venha transformar a estrutura do futebol
brasileiro em uma Futebrás, e que o Estado comece a assumir os prejuízos
advindos da secular má administração do esporte no Brasil, seja ele
profissional ou não.
O Ministro
da Fazenda custou a dar o seu aval, até entender que o texto
proposto pelo grupo interministerial não indicava a existência de um novo
REFIS, ou seja, um financiamento do débito dos clubes a perder de vista com
direito a reparcelamento sobre reparcelamento e até a uma eventual anistia.
Na verdade,
ninguém pode apostar nas consequências futuras deste ato, mas as condições para
que os clubes possam participar do programa são no mínimo curiosas para quem não
está conseguindo sobreviver sem acumular débitos com obrigações sociais e
trabalhistas: eles terão que apresentar junto com o pagamento da parcela mensal
as certidões negativas de débitos e a comprovação de pagamento dos salários dos
jogadores em dia, sob pena de perda do direito ao parcelamento e do rebaixamento
para uma divisão inferior.
O projeto
também prevê o limite de mandato dos presidentes para quatro anos, com direito
a apenas uma recondução ao cargo.
A turma do
Bom Senso F.C. não concordou com os termos da Medida e os milhares de
empresários que têm débitos com a União reclamam que também querem ter a sua
dívida parcelada nos mesmos 20 anos que estão dando aos clubes, isso sem ter
que desembolsar nem um tostão de entrada.
De acordo com
o Bom Senso, apenas uma parte dos salários dos jogadores é registrada em carteira, o que diminui os riscos de atraso do
pagamento e das respectivas obrigações, sendo que a lei não controlará a outra
parte, chamada eufemisticamente de “direitos de imagem”, cujo pagamento é feito
mediante emissão de uma nota fiscal avulsa.
Na opinião da presidente Dilma Rousseff e do Ministro do Esporte George Hilton esta medida é
necessária porque dezenas de clubes estão na eminência de um colapso (leia-se
pindaíba) e o futebol dos grandes clubes é considerado um patrimônio nacional.
Até o ponto
que me foi dado conhecer, a Medida não responsabiliza criminalmente os
dirigentes dos clubes como acontece com as empresas legalmente registradas, e
se assim ocorrer o problema continuará numa progressão negativa, pois o
presidente que deixar o cargo passará o abacaxi para o outro, ficando imune a
possíveis punições, isto é, volta à baila a velha reivindicação de que os
clubes sejam regulamentados como empresas, coisa que a “bancada da bola” nunca
deixou acontecer.
Resta torcer
para que esta medida seja um passo adiante também na moralização da área esportiva
e possa modernizar e dar novos rumos ao futebol brasileiro, que anda seriamente
desacreditado pelo efeito 7x1.