quinta-feira, 26 de maio de 2022

 


VERSOS MENTIROSOS
(Augusto Pellegrini)

Hoje eu tenho os olhos secos
E sinto a garganta ardida
De tanto chorar, aos gritos
Lamentando a tua partida 

E sinto falta da chuva
Embora não goste dela
Porque a chuva me recorda
Tua imagem na janela
 

Os poetas exageram
E falam coisas que não sentem
Na verdade não se importam
Em demonstrar o quanto mentem
 

Em nome do ineditismo
E da pura alegoria
Do vazio escrevem lirismo
Se tristes, impõem alegria 

Um exemplo deste assunto
Na verdade, um exagero
Vem na intenção destes versos
Com molho e algum tempero 

Eu me ponho a refletir
Sobre tanta incoerência
A chuva faz mesmo falta
E me dói a tua ausência? 

Ou será que o que me aflige
É somente a solidão
E esta busca intermitente
Da verdadeira paixão? 

Pois, se a chuva me deprime
Sua falta me faz suar
E as duas coisas se completam
Estão no mesmo patamar 

Por isso, tome cuidado
Ao ler uma poesia
Muitas vezes o poeta
Não faz mais que fantasia 

Novembro 2020

 

 

 

 


QUEM VEM DE LÁ? 

1974

(Samba de Augusto Pellegrini)

 

Tem gente na porta

Que quer entrar

Se é de bem, fique à vontade

Se é de mal, fique por lá

Tem gente na porta

Que quer entrar

Se é de bem, fique à vontade

Se é de mal, fique por lá

 

Eu conheci um sujeito

Numa roda de sambista

Por maldade ou preconceito

Criticou nosso passista

Disse “é feio e tão sem jeito”

“Samba, mas não entende nada”

E ficou desaforando

Até o fim da madrugada

Quem vem de lá?

 

Tem gente na porta

Que quer entrar

Se é de bem, fique à vontade

Se é de mal, fique por lá

Tem gente na porta

Que quer entrar

Se é de bem, fique à vontade

Se é de mal, fique por lá

 

Conheci um inimigo

Lobo em pele de cordeiro

Quis levar um samba comigo

Foi bater no meu terreiro

Foi tratado como amigo

Teve tudo o que queria

Mas no final do batuque

Sequestrou minha Maria

Quem vem de lá?

 

 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

 


CURIOSIDADES ESPORTIVAS

CAMPEÕES DO MUNDO       

1994 - Campeão: BRASIL
            Vice-campeão: ITÁLIA

A Copa de 1994 foi disputada nos Estados Unidos. Apesar da pouca popularidade do futebol nesse país, curiosamente foram batidos todos os recordes de público, marca que se mantém até hoje, 28 anos depois. O Brasil montou uma seleção forte e pragmática e mesmo sem exibir um futebol vistoso conquistou seu quarto título, com uma atuação exuberante do craque Romário. Na primeira fase eliminamos a Rússia (2x0), Camarões (3x0) e a Suécia (1x1). Nas oitavas de final superamos os Estados Unidos (1x0), nas quartas de final passamos pela Holanda (3x2) e nas semifinais eliminamos a Suécia(1x0). Na grande final contra a Itália, após um empate de 0x0 no tempo normal e na prorrogação, o Brasil venceu nos pênaltis por 3x2 – com gols anotados por Dunga, Branco e Romário (Evani e Albertini marcaram para a Itália) – e levantou a taça. Na disputa pelo terceiro lugar, a Suécia derrotou a Bulgária por 4x0. O time campeão formou com Taffarel; Jorginho (Cafu), Aldair, Marcio Santos e Branco; Dunga (capitão), Mazinho e Zinho (Viola); Romário e Bebeto.   

 

A

 

domingo, 22 de maio de 2022

                                                            


                                                        PÁGINAS ESCOLHIDAS

Do livro À NOITE, TODOS OS GATOS (1998)
(Augusto Pellegrini)

O PORCO

Doutor Calixto, advogado, se sentia todo importante, envaidecido como um pavão.
- Eu não disse a você, Radamés, eu não disse a você para confiar no meu trabalho? (enquanto Vivaldo Perequê e seu advogado – parte derrotada no julgamento – desciam cabisbaixos a escadaria do Fórum).
Radamés Plutarco, a quem o juiz havia dado ganho de causa retrucou:
- Às vezes as coisas não acontecem naturalmente, doutor Calixto, e a gente tem que dar um empurrãozinho por fora…  
- Como assim, “um empurrãozinho”, Radamés, como assim?
- Bem, doutor, não foi propriamente pelo seu trabalho que a gente ganhou a causa, mas pelo meu presente.
- Presente?! Que presente?! Presente para quem, Radamés?!
- Um porco, doutor Calixto, um porco…
- Um porco? Quer dizer que você deu um porco de presente, Radamés?
- Eu dei um porquinho rosado de presente para o doutor Pompílio de Taques, o juiz que iria julgar o caso, sabendo que ele adora a vida do campo e tem seus bichinhos numa fazenda.
- Não pode ser, Radamés, não pode ser. Não vou acreditar que o doutor Pompílio iria se vender por um porquinho rosado.
- Nem eu iria acreditar nisso, doutor, depois que o senhor me garantiu que ele era incorruptível…
- E então?! Que diabo de história de “presente” é essa? – exasperou-se o advogado.
- Bem, eu mandei um porquinho todo cor de rosa de presente pro doutor Pompílio de Taques, dentro do maior respeito, com um cartãozinho preso a uma fita amarrada ao pescoço do bicho…
- E então?!
- E então, o cartãozinho dizia que “este é um presente da parte de Vivaldo Perequê, por recomendação do seu advogado”…


(Medida cautelar em última instância)