quinta-feira, 6 de novembro de 2014






 
AMISTOSOS DE FIM DE ANO 

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 06/11/2014) 

No próximo dia 12 a seleção brasileira vai jogar contra a Turquia em Istambul, e repete a dose em Viena contra a Áustria no dia 18. Com estes jogos o Brasil encerra a temporada de 2014 (que parecia ter sido sepultada em julho), depois de um renascimento vitorioso no segundo semestre, com quatro resultados positivos, pelo menos no que diz respeito aos números.
Até aí, tudo bem.
Porém, nada é mais complicado para clubes que estão em final de temporada e bastante preocupados com as receitas para 2015, do que ver seus jogadores serem convocados e desfalcarem a equipe por cerca de dez dias.
Afinal, muitos destes clubes estão em fase de decisão em diversos níveis – Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana – e os técnicos precisam ter o elenco nas mãos.
Os clubes pediram clemência e foram atendidos, pois para a sua sorte a administração Marin tem mais jogo de cintura do que a autocrática administração Teixeira.
Assim, buscando manter um bom relacionamento com aqueles que fazem o futebol brasileiro, o mandatário da CBF orientou o técnico Dunga a convocar apenas os jogadores que atuam no exterior.
Para os “estrangeiros”, no entanto, a situação não é muito diferente, e eles vão acabar pagando o pato. Embora não crie problemas com o calendário, posto que os clubes folgam nas datas reservadas pela Fifa, isto acaba criando um problema de desgaste, pois boa parte dos times que estão cedendo seus jogadores para os amistosos do Brasil – para não dizer todos os times – também estão empenhados em duas competições domésticas e por isso também jogam duas vezes por semana.
O PSG cederá 4 jogadores (toda a sua defesa – David Luiz, Marquinhos e Tiago Silva mais o meia-atacante Lucas), e o Porto e o Chelsea cederão 3 cada um (respectivamente Alex Sandro, Danilo e Casemiro pelo clube português e Filipe Luís, Oscar e Willian pelo clube inglês). O Shakhtar Donetsk cederá 2 (Luís Adriano e Douglas Costa), e outros 11 clubes de diversas partes da Europa Leste e Oeste cederão outros 11 jogadores.
Estes amistosos têm uma nítida função de caça-níqueis com a finalidade de reforçar o caixa da CBF, que em 2015 vai precisar de recursos para barganhar mais uma vez o poder à troca de privilégios para os presidentes das federações. Têm também a função de cumprir a sua parte no contrato com os patrocinadores oficiais, aqueles que têm sua marca estampada no pano de fundo das entrevistas obrigatórias pós-jogo.
Como Dunga não vai poder contar com alguns jogadores que ele considera imprescindíveis para estabelecer a sua tática de jogo, treinar o conjunto e repetir as jogadas ensaiadas  com Neymar (como Tardelli e os atacantes do Cruzeiro), e como os adversários não fazem parte da primeira linha do futebol mundial, pode-se dizer com certeza que se estes dois jogos não existissem não fariam falta alguma.   
Para completar, entre os jogadores chamados para estes amistosos de final de ano existem alguns que não têm estatura suficiente para que neles se depositem a esperança e o futuro do futebol brasileiro.
Entre os premiados estão os laterais Alex Sandro e Danilo, os meias Rômulo e Casemiro e os atacantes Luís Adriano, Firmino e Douglas Costa, que nunca chegaram a emocionar quando atuaram por aqui, e mesmo na Europa não mostram exibições mais do que razoáveis.
Posso estar enganado, mas quando foram convocados pela primeira vez para defender a seleção brasileira, jogadores como Pelé, Romário e Ronaldo já possuíam uma mística pessoal que indicava que eles eram “os caras”.
De toda a safra atual, incluindo aqueles que atuam no Brasil, o único que ostenta esta aura luminosa é Neymar, mesmo ainda tendo muito que provar.

       

segunda-feira, 3 de novembro de 2014




A LUSINHA ESTÁ NA PIOR  

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 03/11/2014) 

A Série B já teve a sua primeira baixa: a Portuguesa. Três outros clubes vão seguir o mesmo caminho até o dia 29 de novembro, mas o caso da Lusa é o mais emblemático.
Vítima de uma série de circunstâncias que começaram com a sua discutida e discutível queda para a Série B no ano passado, a Lusa caiu com cinco rodadas de antecedência e vai disputar a Série C em 2015.
Com a queda para a Série B em 2014, o clube perdeu receita, o time perdeu jogadores e o grupo perdeu a motivação. Além do mais, brigas e acusações internas, que incluíram a possível omissão do seu departamento jurídico ao ter propositalmente colaborado com o rebaixamento no ano passado, dividiram o clube e enfraqueceram a sua administração.
Sem verba para pagar salários – em alguns casos atrasados em até cinco meses – enfrentando protestos dos jogadores por melhores condições de trabalho e a ira da torcida clamando por resultados, o time foi se esfacelando aos poucos e sua queda para a terceira divisão do futebol brasileiro não chega a se constituir nenhuma surpresa.
Sua recuperação em nível nacional é duvidosa, e faz lembrar a saga do América carioca, atualmente apenas um nome a ser lembrado. Embora seja simpático a uma maioria de torcedores de outros clubes, a Portuguesa não tem uma grande torcida que possa garantir grandes receitas, sejam elas provenientes de arrecadação, de sócios-torcedores ou de patrocinadores fortes.
Numa época de futebol profissional e de alta competitividade, seus dirigentes, mesmo aqueles mais diligentes – com perdão do trocadilho – não terão como se cotizar para colocar a casa em ordem. Seu estádio, antigo e ultrapassado, não terá como competir com as novas arenas do Palmeiras e do Corinthians nem com o Morumbi constantemente renovado para arrecadar com shows e eventos.
E assim, a Lusa vai tristemente descendo a ladeira sem ver uma alternativa viável de se firmar na elite do futebol brasileiro.
A Associação Portuguesa de Desportos sempre tentou ser grande, ou pelo menos brigar de igual para igual com os grandes de São Paulo, mas na sua longa trajetória de 94 anos o máximo que conseguiu foram três Campeonatos Paulistas (1935, 1936 e 1973, ano em que teve que dividir o título com o Santos), dois Torneios Rio-São Paulo (1952 e 1955) no melhor período da sua história, um Campeonato Brasileiro da Série B (2011) e dois Campeonatos Paulistas Serie A2, correspondente à segunda divisão, (em 2007 e 2013), isto é, quase nada se comparado com Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo.
A maior glória da Lusa não aconteceu no Brasil, e sim nos gramados do exterior.
Nos anos de 1951, 1952 e 1954, o time disputou 42 partidas na Alemanha, Bélgica, Colômbia, Equador, Espanha, França, Inglaterra, Peru, Suécia e Turquia, conquistando 33 vitórias, 8 empates e colecionando apenas uma derrota, com 111 gols marcados e 42 sofridos, sendo por isso três vezes agraciada com a “Fita Azul”.
A Fita Azul era uma comenda ou medalha de Honra ao Mérito instituída pela CBD após a Copa do Mundo de 1950 para as equipes brasileiras que conseguissem uma série de vitórias contra equipes estrangeiras, em excursões que durassem algumas semanas.
Terminado o impacto da Copa, a CBD desistiu da ideia, que foi encampada pelo jornal A Gazeta Esportiva, e a Fita Azul teve na época a mesma importância que têm os Mundiais Interclubes de hoje em dia.
Ao torcedor, de luto, só resta voltar ao passado e lembrar com saudade os muitos craques de renome nacional que foram forjados na Lusa ou passaram por ela, como é o caso de Djalma Santos, Brandãozinho, Julinho Botelho, Pinga, Leivinha, Marinho Peres, Enéas, Dener, Ipojucan, Roberto Dinamite e Zé Roberto, seu último ídolo.