BRASIL DE MENTIRINHA
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES”
DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 06/03/2015)
Em outubro de
2009 a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para sediar os Jogos Olímpicos que
serão realizados no ano que vem.
Ao pleitear o
direito de sede, o COB – Comitê Olímpico Brasileiro preparou um elaborado trabalho
documental a respeito das nossas condições e possibilidades em receber tal
laurel, porque este procedimento faz parte do processo de escolha.
Este tipo de
relatório é detalhista ao extremo e fornece todas as informações sobre os locais
onde serão realizadas as provas – estádios, quadras, piscinas, pistas – assim
como a construção da Vila dos Atletas. Também detalha o planejamento
estratégico dos Jogos, como o esquema de segurança, hospedagem, transporte,
comunicação e acesso.
Dado o tiro
de partida, esperava-se uma corrida para que a concepção do relatório fosse
cumprida.
Ocorre que, a
pouco mais de um ano para a abertura dos jogos, 25% das obras que constam da
lista de projetos essenciais não foram ainda sequer licitadas, e o Parque
Olímpico Deodoro, base dos Jogos – pois abrigará canoagem slalom, tiro,
mountain-bike, bicicross, hóquei, pentatlo, rúgbi, hipismo e natação – ainda
não passa de um confuso canteiro de obras.
Mas os maiores
problemas são as obras do velódromo e outras instalações na zona da Barra, e principalmente
a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, da Marina da Glória e da área do Forte Copacabana para as competições de remo e
canoagem, de vela, da maratona aquática e do triatlo.
O custo
também deve disparar: somente o pacote as obras de infraestrutura, englobando
projetos de aeroporto, porto, mobilidade urbana e gestão ambiental, estimado em
R$ 16,5 bilhões na época da candidatura já chegou a R$ 24 bilhões sem que o
progresso físico tivesse acompanhado o custo.
Mas a gente
já se acostumou com este tipo de problema, pois no Pan-2007 e na Copa do Mundo
as coisas também estavam erradas acabaram dando certo no fim.
Esportivamente,
porém, a situação está tomando outra dimensão.
O Brasil já
produziu – às duras penas, é verdade – medalhistas individuais como Adhemar
Ferreira da Silva, Joaquim Cruz, Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Gustavo
Borges, Cesar Cielo, Maurren Maggi, Arthur Zanetti e Sarah Menezes, entre
outros, e agora se vê obrigado a importar atletas de outros países para não
passar vergonha, pelo menos na estatística.
Isto porque
os nossos dirigentes olímpicos tiveram mais de uma década para investir em
novos talentos, estimular e dar condições a jovens promissores, criando
estruturas em escolas públicas e estabelecendo parcerias com empresas
particulares, mas aparentemente investiram apenas no próprio prestígio ou, quem
sabe, no próprio bolso.
A lista dos
importados que devem se naturalizar brasileiros para lutar por medalhas não é
pequena, e inclui até o momento Adrián
Delgado – Espanha, Ivez Gonzales – Cuba, Josip Vrilic – Croácia, Slobodan Soro
– Sérvia e Tony Azevedo – EUA (no polo aquático), Nathalia Moelhausen – Itália,
Marta Baeza – Espanha e Katherine Miller
– EUA (na esgrima), Inge Vermeulen – Holanda (no hóquei na grama), Eduard
Soghomonyan – Armênia e Marat Garipov – Cazaquistão (na luta olímpica) e
Juliano Fiori – Inglaterra e Dave Harvey – Austrália (no rúbgy).
Esta
estratégia não é incomum, sendo frequentemente usada por outros países na
exacerbada luta pela conquista de medalhas, mas de certa forma contraria os
ideais olímpicos, onde se presume outro tipo de comportamento. Este
procedimento acaba deturpando o esporte e o contaminando com um profissionalismo
selvagem que a cada dia se faz mais presente.
Mas vai ser
engraçado ver um armênio no pódio ouvindo o Hino Nacional Brasileiro e fazendo
cara de paisagem.