sábado, 23 de maio de 2020





ALVORADA 

(Samba de Augusto Pellegrini)

E mal raiou a alvorada
O dia mal despertou
Voltei pra casa
O sol brilhando
Na manhã de prata
Desmancha toda a cor
Da serenata

Vou sem descanso
E por muito favor
Porque no fundo não passo
De mais um trabalhador
Que chega em casa
E se prepara
Para o dia enfrentar
Noutro compasso
Se declara
Estar disposto a trabalhar

Mas tem um detalhe rapaz
Quando madrugada chegar
Você vai me ver outra vez
Com meu violão,ele traz
Remédio para este mal
E me ajuda a esquecer


sexta-feira, 22 de maio de 2020






HOTEL BUENA VISTA
(Excerto II)

Chovia muito quando o táxi estacionou em frente às escadas do Grande Hotel Buena Vista. A chuva começara logo após Federico Pulga ter alcançado o posto de táxis do aeroporto, o que provocou sua entrada intempestiva no primeiro carro amarelo que parou na sua frente.
O carro era grande e espaçoso, de modelo muito antigo, daqueles que Federico só conhecia por fotografias de revistas também antigas.
A chuva caia copiosamente, guarnecendo as janelas embaçadas do veículo com uma grossa cortina líquida, o que praticamente impediu que a paisagem e os arredores pudessem ser apreciados no fim de tarde.
O porteiro desceu com um enorme guarda-chuva para protegê-lo da cascata que caía sobre a sua cabeça e o conduziu para o saguão.
Era um hotel imponente, remanescente da “belle époque”, desde o balcão de registro até os elevadores muito antigos, ainda equipados com a grade de correr.
Ele ficaria hospedado apenas por uma noite, pois logo pela manhã tinha uma reunião com os editores do seu novo livro e retornaria para casa em seguida.
Ele achou tudo muito curioso – os móveis e a decoração tinham a marca do passado e mesmo a vestimenta dos empregados não negava a vocação do hotel em retroceder no tempo.
Os corredores eram forrados com um espesso carpete vermelho, as paredes revestidas com uma tapeçaria pesada e espelhos com ornatos nas bordas.
O que ele achou bastante estranho, no entanto foram os seus aposentos. Nada havia que refletisse a vida moderna – um aparelho de televisão, um frigobar ou o sistema de ar condicionado. O frescor era garantido por um ventilador de pé ou pela brisa que entrava pela janela.
Ao lado da cama dormia um telefone negro e pesado com um disco prateado e números em negrito, um bloco de anotações e um lápis.
O banheiro, cheirando a eucalipto,  mantinha o ar de antiguidade, com banheira, aquecedor a gás e as demais louças fazendo lembrar um filme de Chaplin.
Depois de um banho, desceu para jantar e se deparou com o mesmo cenário. Muito luxo, baixela cristal, porcelana e prata e um atendimento de primeira classe, digno dos príncipes, embora formal e reservado em excesso.
Foi para o quarto cansado, tentou ler um pouco mas logo adormeceu.
Pela manhã, não se atreveu a tomar o desjejum. Acordara tarde e estava atrasado para a reunião. Banhou-se e se arrumou às pressas, desceu no elevador ao lado de uma mulher que se vestia como uma atriz dos anos vinte, pagou a conta e pediu um táxi.
Para sua surpresa, chovia novamente, a cântaros – ele não se lembrava de ter ouvido a chuva quando estava no quarto – e o porteiro o conduziu sob proteção para outro carro amarelo cujo motorista tinha a mesma cara de o de ontem.
Deu o endereço e se recostou no banco, cerrando os olhos enquanto o carro chacoalhava deslizando no piso irregular. Ao chegar no endereço, acordou e se viu diante de um dia de sol esplendoroso, numa avenida muito movimentada e moderna, tanto que até o próprio táxi já não lhe pareceu tão antigo.
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Ao chegar na editora, foi recebido pelo diretor e por um assessor que lhe deram as boas vindas.
- Pensei que você não viesse. Chegou hoje cedo?
- Não, cheguei ontem, no fim da tarde, e me hospedei num hotel.
- Podia ter telefonado que a gente poderia jantar juntos.
- É que chovia muito e eu resolvi não incomodar.
- Chovia muito? Muito estranho. Aqui na cidade não chove já faz seis meses! Em que hotel se hospedou?
- Fiquei hospedado no Grande Hotel Buena Vista.
- Tem certeza que o nome é esse? Não seria Hotel Boa Vista?
- Não, foi no Grande Hotel Buena Vista, mesmo. Um com uma grande escadaria na frente.
- Eu perguntei porque o Grande Hotel Buena Vista foi demolido em 1952 quando tiveram que construir o novo aeroporto!...    
O diretor fez uma breve pausa.
- ... isto é, o hotel onde você ficou não existe há mais de sessenta anos.
Federico abriu a boca, mas não vieram as palavras. Sentiu um tremor no corpo e as mãos suadas. O diretor e o assessor o fitavam, agora em silêncio, como um psiquiatra fita um paciente.
Talvez estivesse nascendo ali uma ideia para um novo livro.


terça-feira, 19 de maio de 2020





SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 19/01/2018
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

EAST COAST / WEST COAST - TOOTS THIELEMANS

A diferença entre o East Coast e o West Coast jazz em termos geográficos é evidente, pois trata de regiões - leste e oeste - separadas por cinco mil quilômetros de vales, desertos, rios e metrópoles. Musicalmente, a diferença não chega a tanto, mas é bastante perceptível. O jazz da costa leste tem como legado a influência do bebop, transformado em hard-bop, no free-jazz e outras manifestações mais complicadas em termos de sonoridade. Já o jazz da costa oeste acaba sendo uma adaptação mais melódica do bebop, começando pelo cool jazz e passeando por sonoridades mais amenas que remetem inclusive ao third-stream e ao jazz-waltz. O gaitista e guitarrista Toots Thielelemans - mais West do que East na sua própria concepção de intérprete - faz uma incursão nos dois estilos, executando peças que se sobressaíram no lado de Nova York - caso de "Groovin' High", "Giant Steps" e "In Walked Bud" - e no lado de Los Angeles - caso de "Take Five", "Waltz For Debby" e "Blue In Green".  De um lado, nomes como John Coltrane, Dizzy Gillespie e Thelonious Monk, e do outro lado Dave Brubeck, Miles Davis e Bill Evans, são relembrados.  
   
Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini