A MORTE DOS ELEFANTES
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 27/03/2015)
As
águas de março estão causando estragos num Brasil que até alguns meses atrás se
ressentia da falta de chuva e do esvaziamento das represas. As represas
continuam à meia boca, mas as cidades, desde à acreana Rio Branco até a
paulistana São Paulo vivem tempos de provas aquáticas.
Domingo
passado foi a vez do Rio. Felizmente não se teve notícias de deslizamentos na
baixada fluminense, mas o Maracanã teve sua tarde de glória.
Em
pleno dia de Flamengo x Vasco, o gramado da novíssima Arena Maracanã,
construída com todos os requintes do padrão Fifa de qualidade, se transformou
num Piscinão de Ramos, porque o equipamento responsável pela drenagem deixou de
funcionar.
Quero
entender que os serviços de manutenção do estádio estejam precisando de
manutenção.
Mas
tirando a má-nutenção, e com toda a queda de braço entre a empresa
concessionária para administrar o estádio, a federação carioca e os clubes que
fazem o espetáculo, o Maracanã ainda vai dando conta do recado.
Destino
pior estão tendo os anunciados elefantes brancos, estádios construídos em
regiões onde não há público para o futebol das equipes locais.
E
olhem que não foi por falta de aviso.
Na
euforia da Copa todo o Brasil se vestiu de verde amarelo e os dirigentes
esportivos, governantes e políticos em geral ficaram absolutamente cegos com a
possibilidade de entrarem no fuzuê da gastança porque, diziam eles, cada
centavo gasto reverteria em um portentoso retorno tanto para os cofres de quem
investia como para o bem estar da população, em termos de legado.
Corrupção
e mau gerenciamento à parte, a Arena Mané Garrincha, em Brasília, foi
construída para abrigar um público de 72.800 pessoas, e apesar de no período
pós-Copa hospedar cinco jogos envolvendo equipes de ponta do cenário nacional –
Botafogo, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense e São Paulo – teve a ridícula média de
público de 14.948 pessoas por jogo.
O
mesmo raciocínio se aplica à Arena Amazônia, em Manaus, construída para um
público de 44.351 pessoas. Sem a mesma força empresarial de Brasília, conseguiu
realizar apenas uma partida – Botafogo x Corinthians – para uma plateia de
19.498 espectadores, ou seja, menos de 50% da capacidade do estádio.
Em
ambas as cidades ainda não há uma definição sobre quem administrará o complexo
e de que forma utilizará as suas instalações para ter um rendimento mensal
mínimo que permita manter o estádio sem que o governo tenha que meter a mão no
bolso para cobrir os prejuízos e os buracos.
E
olhem que os estádios ainda estão cheirando a tinta e se não tiverem uma
manutenção programada começarão a se deteriorar. Nada muito promissor para duas
obras que custaram respectivamente – Manaus e Brasília – 757 milhões e 1 bilhão
e 700 milhões de reais.
Menos
de um ano após a Copa, a Arena Pantanal, em Cuiabá, já apresenta sérios
problemas estruturais, com infiltrações, goteiras e problemas na rede elétrica
e no gramado. Quando da realização do jogo Corinthians x Vitória não havia água
nos vestiários e o próprio conforto do local já estava comprometido.
Construído
para uma capacidade de 43.150 pessoas, a um custo de 570 milhões de reais, o estádio
conseguiu uma média de público 21.165 torcedores nos três jogos realizados
envolvendo Atlético Mineiro, Corinthians, Flamengo e Santos.
Financeiramente,
a manada também tão está funcionando.
Para
enfrentar o Vitória pelo Campeonato Brasileiro o Corinthians mudou o local de
mando de jogo de São Paulo para Cuiabá em troca de uma quantia de 1 milhão de
reais livres de despesas. A partida na Arena Pantanal propiciou uma renda bruta
de cerca de 480 mil reais, o que deu ao organizador um prejuízo de mais de meio
milhão de reais, sem contar com os demais custos do evento.