(Este artigo foi escrito para aqueles adolescentes que pensam que as coisas caem do céu (e as nossas escolas estão cheias deles) e foi também publicado em um house organ de uma escola de inglês. A intenção foi a de despertar nos jovens leitores (muito provavelmente apenas eventuais) a necessidade imperiosa de eles se prepararem para o futuro, porque muito em breve eles terão que encarar a lei do mais forte. Sem a menor pretensão de ter escrito mais um abominável texto de auto-ajuda, tenho plena consciência que o artigo também serve para muito adulto folgado que só pensa em enriquecer materialmente (com certeza jogando nas loterias) e se esquece que sem uma bagagem cultural o novo rico fica apenas sendo um rico idiota).
Certa vez, há muitos anos atrás, mesmo não jogando lá essas coisas eu resolvi fazer do xadrez o meu passatempo predileto.
Para tanto, combinei com um amigo nascido na então Iugoslávia, chamado Bóris Yovanovich – este sim, um bom jogador – para que praticássemos todo final de dia.
E assim foi feito. Diariamente, depois das cinco, as partidas se desenrolavam naturalmente e eu, é claro, perdia todas!
A coisa tomou tal dimensão e as derrotas se tornaram tão rotineiras e contundentes que eu decidi que estava na hora de mudar o rumo da minha história sobre o tabuleiro.
Um dia Boris teve que viajar, então fizemos uma pausa de três semanas, tempo necessário para eu comprar dois ou três livros e começar a estudar, dedicando parte do meu tempo para as aberturas, parte para o desenvolvimento e parte para os finais de partida.
Aprendi muito com Ruy Lopez. Alekhine, Capablanca e outros mestres, e então chegou a hora de testar meu novo perfil contra o meu amigo.
Para a minha surpresa – e a dele – comecei sistematicamente a ganhar as partidas, algumas até sem muita dificuldade. Após algumas derrotas, Boris questionou o meu súbito crescimento xadrezista.
Expliquei o que havia feito e também lhe mostrei os livros. Após as explicações de praxe, ele coçou a cabeça e declarou solenemente que iria também começar a estudar.
Este episódio não teve nada de especial, mas me deixou duas lições.
Primeiro, por mais que você acha que sabe, sempre existe espaço para saber um pouco mais, ou seja, somos todos ignorantes e as portas do conhecimento são inesgotáveis. “A única coisa que sei, é que nada sei”, já havia dito Aristóteles.
Segundo, quanto mais você aprimora o seu conhecimento, maiores são as possibilidades de você se tornar um vencedor.
Isto acontece com o xadrez, isto acontece com qualquer matéria da vida, inclusive com o domínio de idiomas estrangeiros.
Todo tipo de aprendizado é primordialmente uma questão de vontade.
Diferentemente de outro tipo de estudo – química, física, biologia – que requer muita leitura, alguma memorização e uma boa dose de paciência, estudar idiomas é mais uma questão prazerosa de se manter ligado às coisas que nos cercam.
Por exemplo, você aprende inglês diariamente assistindo TV, lendo “outdoors”, apreciando vitrines e fachadas comerciais, ouvindo música, navegando na Internet ou tentando entender o manual de instruções daquele novo implemento eletrônico que você acabou de adquirir.
E tem mais: ao se integrar numa sala de aula, você pratica o idioma com o professor e com os seus colegas, descobre curiosidades e particularidades de uma cultura diferente e se diverte ao descortinar coisas novas. Em outras palavras, você se diferencia do comum, passa a ser uma pessoa com um futuro mais resolvido, fazendo realmente parte do mundo globalizado em que estamos vivendo, e se prepara para enfrentar desafios, aqui ou em qualquer parte do mundo.
O negócio é não se conformar com os reveses só porque aquele outro alguém está tendo mais sucesso. O negócio é estudar, qualquer que seja a forma e o método, para garantir o seu lugar na sociedade competitiva em que vivemos.
Foi assim que eu equilibrei as coisas com meu amigo Bóris.
3 comentários:
Meu caro Augusto, são sábias as tuas palavras. Concordo contigo e me sinto incentivado a estudar mais ainda áreas de conhecimento as quais não domino, de modo poder situar-me melhor nesse mundão ao qual vivemos. Sucesso pra você e seus projetos. Também gosto de xadrez, sei jogar, e acho uma prática saudável. Se houver alguém do grupo que curta xadrez quem sabe nos enfrentemos algum dia. Não sou expert, mas me divirto jogando, e, conforme seu artigo, sempre há espaço pra aprenzigem. O pouco que, aprendi na enciclopéida Barsa.
Grande abraçoo
Julio, meu amigo, esta história é verdadeira. Faz muito tempo que não me sento em frente a um tabuleiro, mas ainda não esqueci o movimento das peças...
Os adolescentes nos ensinam muita coisa, mas precisam de um direcionamento.
O futuro da moçada está cada vez mais incerto neste mundo incerto que vivemos.
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