ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTE” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 24/02/2014
DAS COISAS INÚTEIS
O
mundo está repleto de boas intenções e de projetos inteligentes, presentes em todos
os campos de atividades para facilitar a vida das pessoas, a ordem e o
cumprimento da lei.
Infelizmente,
de boas intenções – diz o ditado – o inferno está cheio; provavelmente de
projetos inteligentes também.
A
prova disso é a quantidade de coisas inúteis que, como a tal burocracia que
atravanca o progresso do Brasil, só atrapalham ao invés de ajudar.
Só
para lembrar alguns projetos importantes que não deram certo como deviam,
tomemos, por exemplo, a ONU.
A
ONU foi criada em 1945 para que os países do mundo vivessem irmanados,
resolvendo as suas diferenças diplomaticamente, e para cooperar na solução de
problemas sociais, econômicos e humanitários. Desde a sua criação, porém, não
conseguiu fazer com que isto funcionasse como previsto.
Outro
bom exemplo é a criação das Unidades de Polícia Pacificadora, as chamadas UPPs,
feitas para acabar com a ação dos traficantes nos morros e comunidades do Rio.
Ao invés da pacificação, o que se tem é um recrudescimento da violência e do
banditismo.
Se
o leitor puxar pela memória ou consultar o vizinho do lado vai encontrar dezenas
de situações semelhantes, o que prova que problema social, existencial, e o
escambau, é como uma casa de
marimbondos, se mexer errado o prejuízo é certo.
Mas
como nosso assunto é o esporte, em especial o futebol, eu gostaria de analisar
junto com o leitor a utilidade do árbitro adicional que se posta atrás da linha
de fundo, ao lado do gol, para auxiliar a arbitragem.
Em
princípio, ele deveria acompanhar com atenção os lances confusos que acontecem
nas imediações da pequena área, em especial nas marcações de pênaltis discutíveis
ou de gols onde a bola efetivamente tenha ultrapassado a linha.
Porém,
quer porque o árbitro principal não leve muito em consideração as suas opiniões
de auxiliar menos graduado, quer porque ninguém tenha dito a ele a razão para ele
estar naquele lugar ou, pior, porque ele desconheça as regras básicas do
futebol, o chamado quinto árbitro não passa de um cidadão remunerado e
uniformizado que tem o seu trabalho protegido pela polícia, algo absolutamente
surreal para o brasileiro comum.
É
uma função privilegiada, a partir da remuneração (cerca de R$ 1.500 por partida
durante cerca de três horas, contando o tempo de vestiário), passando pela
tranquilidade (não tem que correr o tempo todo como o fazem o árbitro principal
e os assistentes de linha) e pela responsabilidade (afinal, toda a pressão
costuma recair exatamente sobre os seus companheiros de equipe).
Este
cidadão faz parte das coisas inúteis a que nos referimos no caput deste artigo.
A
própria Fifa, preocupada com a incompetência destes profissionais – acredito
que depois do gol irregular que classificou a França para a Copa de 2010 – está
estudando a implantação de um chip na bola e de câmeras fiscalizando
eletronicamente aquilo que o olho do árbitro auxiliar não consegue ver.
Alguns
estádios na Europa já possuem o recurso, mas os velhinhos da Fifa ainda
precisam oficializar sua utilização.
Enquanto
isso, vamos continuar engolindo profissionais inúteis exercendo uma profissão
inútil, como o senhor Rodrigo Saraiva Castanheira, um cego por conveniência que
“não conseguiu ver a bola entrar” naquele gol do Vasco. Ou esse rapaz tem
problemas de visão, e nesse caso tem que consultar um oftalmologista com urgência,
ou possui alguma deficiência de atenção, necessitando dos cuidados de um especialista.
Ele não parece ser leviano, apenas incapaz.
Mas,
se derem a ele a missão de cuidar de duas tartarugas, uma delas foge.
(Ao
tomar conhecimento do erro, Castanheira chorou, ao que tudo indica, lágrimas de
crocodilo).
Augusto Pellegrini
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