O EXEMPLO QUE VEIO DA
GRÉCIA
A
Grécia é um país milenar, berço da civilização ocidental, mas nem por isso
ocupa um lugar de destaque no cenário europeu, do qual é certamente um dos
primos mais pobres.
Recentemente,
o país se viu envolvido em uma crise sem precedentes, da qual ainda está
tentando se livrar com a ajuda da Comunidade Europeia e dos Estados Unidos.
País
sem recursos, a quem foi dada a chave do cofre quando entrou na Eurozona, a
Grécia transformou a fragilidade do dracma no poderio do euro, mas foi administrada
de uma forma pífia por políticos e administradores que não enxergavam muitos
palmos adiante do nariz, o que precipitou o problema.
Uma
das marcas do desastre foi a realização da Olimpíada de Atenas em 2004, que
serviu para celebrar os primeiros Jogos realizados na mesma cidade 108 anos
antes, ou seja, em 1896.
A
corrupção, o superfaturamento, o atraso nas obras e a fartura de dinheiro
público à disposição dos organizadores inflacionaram os preços, reduziram a
qualidade do projeto e impediram um bom planejamento técnico e econômico, provocando
um gasto de cerca de 9 bilhões de euros.
Pior:
o legado que as construções deixaram para os cidadãos gregos é praticamente
nulo, pois grande parte dos prédios, instalações e entornos se encontra totalmente
deteriorada.
Com
certeza, esta loucura de bancar gente rica foi uma das principais responsáveis
pela derrocada que se seguiu nas áreas de sobrevivência da população.
O
Brasil está vivendo uma aventura semelhante.
Apenas
para a Copa do Mundo, o país está investindo cerca de 25 bilhões de reais (que
poderá chegar a 30, o que equivaleria aos mesmos 9 bilhões de euros da Grécia),
dos quais 82% são provenientes dos estados e dos municípios e apenas 18% são
bancados pela iniciativa particular.
Em
2016 o país vai sediar os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o que pode até representar
um avanço significativo em termos de imagem, além das vantagens provenientes do
ponto de vista do turismo, mas o custo será altíssimo.
A
previsão de gastos até o momento é de 36,7 bilhões de reais, aí incluídos uma
série de benefícios que deverão ficar como legado à comunidade, como obras de
metrô, vias para ônibus, melhorias no meio ambiente e na infraestrutura da
cidade, mas isso só será conferido daqui a uma dezena de anos.
De
acordo com os organizadores dos Jogos do Rio, 60% da verba é proveniente dos
cofres públicos e 40% da atividade particular. A conferir.
O
grande problema é a falta de credibilidade dessa gente, pois depois de gastarem
4 bilhões de reais com o Pan 2007 (10 vezes mais do que a estimativa inicial)
não deixaram como legado praticamente nada, inclusive a Vila Olímpica, que foi transformada
em residências populares mas está caindo aos pedaços, e o Engenhão, que foi
doado para o Botafogo e no momento se encontra abandonado, enquanto o poder
público se concentra em gastar mais 1,2 bilhão na construção de um novo
Maracanã.
Uma
das exigências do Comitê Olímpico Internacional para 2016 seria a despoluição
da Lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía da Guanabara, mas peixes mortos e lixo
nada orgânico continuam flutuando nas águas, o que pode transferir as provas
aquáticas ao ar livre para outros locais, pois já não existe tempo hábil para a
devida recuperação ambiental.
Acrescente-se
a isso a possibilidade de greves em serviços essenciais, superlotação de
aeroportos, manifestações nas cidades sede e a indigência nos serviços de
telefonia e transmissão de dados, e nos veremos de frente com uma espécie de
caos que teremos que administrar, independentemente da qualidade ou dos
resultados dos jogos da Copa do Mundo ou da Olimpíada em si.
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