segunda-feira, 25 de agosto de 2014






DECISÃO PRECIPITADA

 
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 25/08/2014)


Já falamos sobre a nova convocação dos jogadores da seleção e demos uma pincelada rápida sobre as possibilidades de um sucesso imediato.
Mas tudo é irrelevante, pois depois do insucesso da Copa, a CBF deveria ter se recolhido para meditação e deixado o futebol de seleção rolar apenas nas categorias de baixo, visando a preparação dos jogadores olímpicos e tentando descobrir novos talentos, prontos para serem promovidos.
Afinal, para isso foi mantido o técnico e coordenador Alexandre Gallo.
Eu quero crer que os amistosos deste ano, principalmente contra Colômbia e Equador, sejam completamente inoportunos a esta altura dos acontecimentos, e quero crer também que a chamada de Dunga para comandar a seleção também tenha sido precipitada.
Tudo indica que a CBF ainda não entendeu bem o que está acontecendo. O presidente Marin deve acreditar que os 7x1 germânicos que nos tirou o sonho do hexa foi apenas um mero acaso, não levando em consideração nem o placar nem as especificidades técnicas e psicológicas que levaram a ele.
O problema é que Dunga e Felipão possuem basicamente o mesmo perfil: ambos primam pela disciplina e pelo amor à Pátria, cada qual do seu jeito.
Felipão busca seduzir os jogadores para que eles façam parte de uma grande família – a Família Scolari – onde a lealdade ao comandante e a subserviência tática devem ser o ponto nevrálgico para a consecução dos resultados positivos.
Antes de analisar o que e como o jogador pode render com um pouco de ousadia e iniciativa, ele analisa a capacidade do atleta em absorver a sua filosofia e seguir ordens. Assim, mesmo quando trabalha com jogadores especialistas em executar determinadas funções, Felipão impõe a eles um novo posicionamento e uma nova função, tornando a equipe burocrática e sem brilho.
Já Dunga prega o amor pela Pátria como se cada jogador adversário fosse um soldado inimigo, e comemora as vitórias como se ostentasse nas mãos a cabeça decapitada do oponente. Sua alegria se manifesta às avessas, pois enquanto outros agradecem aos céus, choram e riem de felicidade, ele grunhe xingamentos e exibe gestos de revolta...
O problema é que o desenho tático de ambos é o mesmo – uma defesa rebatedora, um time forte e fechado no meio do campo, e um definidor lá na frente para fazer aquele golzinho salvador. Por isso, não causou nenhuma estranheza que dos dez jogadores convocados por Dunga que haviam participado da Copa, cinco foram aqueles escalados por Felipão para fazer a marcação no meio do campo, isto é, o esquema limitado ao desarme – uma das causas da nossa falta de opções – deverá ser mantido.
Felipão não tinha um municiador que acertasse passes de meia distância, Dunga também não tem. Felipão não tinha um articulador e organizador de jogadas para facilitar a vida dos atacantes, Dunga também não tem. Felipão não tinha uma variação de jogadas que poderia confundir os adversários, Dunga também não terá, considerando os nomes convocados.
Corremos o risco de iniciarmos mal a jornada com o novo técnico e aumentar a desconfiança do mundo sobre a qualidade do nosso futebol.
Por isso, o mais prudente seria ter fechado a nossa seleção principal pra balanço. Aí, teríamos uma pausa para discutir, ponderar, analisar, descobrir novas opções de coordenador, técnico e jogadores, e só então tentar um caminho renovado, com os pés no chão.
Ao invés da nomeação de Gilmar Rinaldi, o ideal teria sido chamar uma comissão formada por pessoas de confiança – e Gilmar até poderia ser um deles – para observar a situação atual e as tendências do futebol brasileiro e do futebol mundial e, ao cabo de algum tempo apresentar um relatório que pudesse servir de base para a formação de uma nova comissão técnica com condições de alavancar o nosso futebol a partir do próximo ano.  

  

Nenhum comentário: