O FUTEBOL BRASILEIRO EM
BAIXA – PARTE I
Vou
iniciar nesta segunda-feira uma série de três artigos a respeito deste assunto,
fazendo algumas observações para explicar meu ponto de vista sobre o caos que o
futebol brasileiro está vivendo, embora sem qualquer pretensão de apontar uma solução
efetiva. As outras partes serão publicadas na sequência.
Espantados
pelo mau resultado obtido na extinta Copa do Mundo, os setores esportivos da
nação estão empenhados em achar respostas e soluções para o que se chama de
“reconstrução do futebol brasileiro”.
É
claro que existe algum exagero nesta visão apocalíptica, porém este exagero tem
o seu lado positivo, porque o inconformismo e a vontade de rever os atuais
conceitos poderão ajudar a consertar as coisas que estão erradas.
Parece
que todos os envolvidos com o esporte estão mais ou menos preocupados com a
situação, inclusive a Rede Globo – por razões óbvias – menos a CBF, para quem
tudo parece estar caminhando às mil maravilhas.
Mas
é de fato um exagero atribuir todas as mazelas administrativas, o caos
financeiro e a produção bissexta de craques à altura de representarem “o melhor
futebol do mundo” simplesmente à derrocada na Copa.
O
Brasil não perdeu a Copa por causa destes ingredientes, pois vem sendo
derrotado há tempos dentro e fora do campo, não apenas na qualidade do seu
futebol mas também no que podemos chamar de “fatos sociais”, muito devido às pessoas
colocadas em lugares estratégicos que agem apenas em benefício próprio, sem se
preocupar com a coletividade – e o escândalo do superfaturamento dos estádios
que por si já têm a sua utilidade questionada é uma prova recente do que
estamos dizendo, pelo menos no campo esportivo.
Na
verdade, a Copa terminou sem nenhuma surpresa, pois quatro das cinco seleções
que eram consideradas favoritas chegaram às semifinais, e o Brasil não deve ser
demonizado por ter ficado em quarto lugar.
A
falta de ética no comportamento do brasileiro é quase endêmica e tem raízes em
uma série de fatores que, devidamente analisados e ponderados só poderão ser
resolvidos a longo prazo, desde que as mangas sejam arregaçadas agora, as
feridas sejam expostas e não falte a chamada vontade política.
Vamos
começar pela qualidade atual dos nossos jogadores.
Os
comentaristas mais antigos são unânimes em afirmar que o futebol disputado hoje
perdeu o romantismo, e que os craques do passado dariam lições de futebol a
qualquer Neymar de hoje em dia.
Isto
é uma meia-verdade, pois no passado também havia os cabeças de bagre. A essência
do futebol mudou, e atualmente a competitividade e a força física também fazem
parte do jogo. É impossível comparar a forma de jogar de Zizinho, Didi e Falcão
(para usarmos como exemplo craques de épocas distintas) com os maestros de hoje
em dia, até porque o tipo de futebol praticado hoje no Brasil praticamente
eliminou a função de “maestro”.
Um
dos motivos que contribuem para a pobreza do jogo atual é que os jogadores, na
sua maioria, estão sendo formados em escolinhas – onde se privilegia a
disciplina tática em desfavor do desenvolvimento lúdico – ou são originários
das quadras de futsal, pois está cada dia mais difícil para um jovem bater bola
na praia ou nos campos de várzea.
Com
certeza a safra atual não é das melhores, e a prova disso é que os clubes estrangeiros
com poder de compra estão importando cada vez menos jogadores brasileiros se
compararmos com o que acontecia há dez anos.
É
necessário que se faça uma reformulação completa na política de desenvolvimento
do futebol de base, começando por mesclar disciplina com lazer e exigir que o
jovem atleta seja exposto à educação como um todo para que ele possa ter a
oportunidade de buscar outros caminhos na vida caso não seja bem sucedido em
alguma peneira selecionadora.
Quando
se trata a matéria prima com cuidado, a tendência é que tenhamos um produto
final de melhor qualidade. E esta qualidade com certeza vai contribuir para
equipes mais bem sucedidas nas gerações futuras.
No
próximo artigo analisaremos outras variáveis para que o futebol volte a ser “a
alegria do povo”.
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